Profissionais da saúde mental vivem um verdadeiro caos em Minas Gerais. Depois do fechamento do Hospital Galba Veloso, na Região Oeste de Belo Horizonte, o Instituto Raul Soares (IRS), localizado no Bairro Santa Efigênia (Leste), enfrenta um surto de COVID-19.
O problema já atingiu servidores e até pacientes da unidade, segundo fontes ligadas ao IRS disseram ao Estado de Minas. Há infectados entre os enfermeiros, plantonistas médicos e diretores da unidade.
Segundo fontes, tudo começou com a infecção de três pacientes de uma área específica do Raul Soares. Porém, a doença se espalhou pelo instituto rapidamente.
Há suspeita de que mais pessoas estejam infectadas, mas boa parte delas ainda não receberam o resultado dos seus testes para detecção do vírus. O problema começou antes do réveillon.
Vazamentos
Outra denúncia de profissionais de saúde que trabalham no Instituto Raul Soares diz respeito à estrutura do local. Segundo fontes, há vazamentos enormes nas dependências, já que a estrutura metálica que cobre o IRS está defeituosa.
“Isso é crime. Ambulâncias passam por ali e o telhado está caindo. Os pacientes correm risco”, disse uma fonte anônima à reportagem.
Além disso, a limitação deixa parte do instituto descoberta, sobretudo durante o período de chuvas, que deve se estender até março.
Estado se posiciona
Em nota, a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), responsável pela gestão do Instituto Raul Soares, informou que registrou “um aumento nos afastamentos por conta de casos suspeitos de COVID-19 entre os trabalhadores da unidade”.
Segundo a Fhemig, os casos são monitorados pela Gerência de Saúde e Segurança do Trabalhador, segundo protocolo clínico vigente na pandemia.
O governo esclareceu, ainda, a “ausência dos profissionais afastados foi suprida por meio de remanejamento interno, de forma a manter a assistência aos usuários da unidade”.
Números da Fhemig informam que o hospital tem hoje 40 médicos psiquiatras e 116 leitos, com ocupação de 61%.
Informou também que o Raul Soares tem uma “Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), responsável pelo monitoramento e pela segurança sanitária dos pacientes e profissionais”.
A Fhemig também esclareceu que pretende realizar neste mês um processo seletivo para contratar novos servidores para o Raul Soares.
Quanto aos vazamentos no telhado do instituto, a fundação informou que “está em processo de contratação a obra para substituição da estrutura metálica em toda unidade”. Enquanto isso não acontece, a Fhemig informou que o caso será solucionado com uma tenda.
Condições precárias
Quem trabalha na área da psiquiatria denuncia desde abril a sobrecarga no Instituto Raul Soares. Em reportagem à época, o Estado de Minas mostrou que o uso do Hospital Galba Velloso, na Região Oeste de BH, gerava contestação de especialistas e do Ministério Público.
Naquela ocasião, fontes do hospital disseram à reportagem que a ideia do governo era usar a estrutura para abrigar pacientes com a COVID-19, mas essa ideia não foi levada adiante.
O governo garante que o planejamento para o Galba Velloso é de atender a casos de pacientes sem diagnóstico de COVID-19, "especialmente os pacientes clínicos em tratamento contínuo nos Hospitais Eduardo de Menezes e Júlia Kubitschek, que foram interrompidos em razão da pandemia".
"O hospital tem 96 vagas. Eram 70 antes, mas fecharam 130 no Galba Veloso. O hospital está lotado, porque é o único (em BH). Só que não aumentaram o número de profissionais. Têm alas com pacientes graves, que já cometeram crimes. Os casos de agressão entre os pacientes também aumentaram. Teve até traumatismo craniano em uma briga. Isso é gravíssimo", diz uma pessoa de dentro do hospital ouvida pela reportagem.
"Isso ocorre porque aumenta-se uma ala sem aumento da equipe. Há risco de agressões e de autoextermínio. A urgência psiquiátrica ficou uma bagunça. Isso nunca foi visto no Raul Soares, nem no Galba", completa a mesma fonte.
Ainda segundo essa pessoa, muitos médicos estão pedindo desligamento da unidade pelas condições de trabalho. No entanto, a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) não faz contratações emergenciais para substituir esses profissionais.
Outra denúncia é da diferença das atribuições dos hospitais psiquiátricos. O Galba, geralmente, recebia os pacientes agudos, com quadros clínicos mais complicados.
Para a Fhemig, porém, o Instituto Raul Soares já lida com esse perfil de paciente habitualmente. "A unidade possui as condições adequadas de tratamento a esses pacientes", informou a fundação em nota.
A situação virou até mesmo tema de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara de BH.