Jornal Estado de Minas

TIRADENTES

Bispo diocesano convida congado para festa do Rosário

No Dia de Reis, celebrado nesta quarta-feira (6/1), o entendimento falou mais alto em Tiradentes, na Região do Campo das Vertentes. Em nota de esclarecimento, o bispo da Diocese de São João del-Rei, dom José Eudes Campos do Nascimento, explicou ter formalizado o convite para que a Guarda do Congado Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia participe "da Festa de Nossa Senhora do Rosário, celebrada anualmente, inclusive tendo acesso ao templo". Segundo o bispo, "foi acertado o compromisso, uma vez superadas as restrições decorrentes da pandemia, de realizar um trabalho social conjunto".





Na semana passada, integrantes do congado denunciaram que o grupo seria alvo de preconceito e estaria proibido de entrar nas igrejas de Tiradentes pelo titular da Paróquia de Santo Antônio, padre Alisson André Sacramento. Em entrevista ao Estado de Minas, o pároco informou se tratar "de uma questão doutrinal, pois a Escrava Anastácia não é uma santa católica". A polêmica chegou a tal ponto, que o congado recorreu à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), presidida pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo.
 
 
 
Na nota divulgada, o bispo diocesano relata que "a meu pedido, os padres Geraldo Magela da Silva, vigário geral da diocese, e Alisson André Sacramento, pároco da Paróquia Santo Antônio de Tiradentes, em encontro fraterno com o Sr. Claudinei Matias do Nascimento, conhecido como "Prego", capitão do Congado, formalizaram convite ao grupo para tomar parte na Festa de Nossa Senhora do Rosário, celebrada anualmente, inclusive tendo acesso ao templo. Nesta mesma conversa foi acertado o compromisso, uma vez superadas as restrições decorrentes da Pandemia, de realizar um trabalho social conjunto".
 

Veja a nota de esclarecimento na íntegra:


"A respeito dos fatos ocorridos em 2019, na Paróquia de Santo Antônio de Tiradentes, desta Diocese de São João del-Rei, envolvendo o terno de Congado daquela localidade e que vem ganhando ampla divulgação em veículos de comunicação e nas mídias sociais, tenho a dizer:

1- A Igreja sempre valorizou a religiosidade popular. O Documento de Aparecida, nos números 258 e 262, diz que: “a religiosidade popular constitui um precioso tesouro da Igreja Católica na América Latina (…) cabendo a nós protegê-la e promovê-la (…) bem como evangelizá-la e purificá-la”.





2- Em várias paróquias de nossa Diocese ocorrem as festas do Reinado com apoio dos padres e também com meu apoio como bispo diocesano.

3- A Igreja rechaça toda e qualquer forma de discriminação e reafirma sua posição de promoção da dignidade da pessoa humana. Reconhece também que a escravidão foi uma página vergonhosa de nossa história e que ainda há um preconceito racial estrutural em nosso país.

4- Lembro que no Jubileu do Ano 2000, São João Paulo II pediu perdão pelos pecados cometidos pelos filhos da Igreja ao longo da história, dentre eles a escravidão.

5- A respeito do caso específico veiculado pelas mídias, cumpre-me dizer que não é nossa intenção afastar, nem mesmo privar ninguém do acesso à Igreja, mas garantir que as manifestações de religiosidade popular estejam em sintonia com a fé cristã.

6- A meu pedido, os Padres Geraldo Magela da Silva, Vigário Geral da Diocese, e Alisson André Sacramento, Pároco da Paróquia de Santo Antônio de Tiradentes, em encontro fraterno com o Sr. Claudinei Matias do Nascimento, conhecido como “Prego”, capitão do Congado, formalizaram convite ao grupo para tomar parte na Festa de Nossa Senhora do Rosário, celebrada anualmente, inclusive tendo acesso ao templo. Nesta mesma conversa foi acertado o compromisso, uma vez superadas as restrições decorrentes da Pandemia, de realizar um trabalho social conjunto.





7- A Igreja, ciente de sua responsabilidade, nunca se furtará de zelar pelo ensino da sã doutrina e pela fidelidade do culto à fé católica.

8- Lembro ainda que é responsabilidade do Pároco zelar para que não aconteçam no interior dos templos e nos demais espaços da paróquia, eventos contrários e alheios à fé católica e que firam o sentimento religioso de nosso povo.

Sem mais, renovo meu apreço pelas manifestações de religiosidade popular presentes em nossa Diocese. Já tive oportunidade de manifestar, presencialmente, meu apoio a algumas delas, como por exemplo, participando do Jubileu do Divino Espírito Santo, no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em São João del-Rei. E ainda, recentemente, através de mensagem enviada ao terno de Congado da cidade de Piedade do Rio Grande que promove uma festa tradicional e centenária.

Em Cristo!"

Dom José Eudes Campos do Nascimento
Bispo Diocesano

audima