"Parece filme de terror". É assim que Kelly Chagas, 36, define a situação delicada envolvendo a avó, Leonora de Jesus Celestino, 91, que morreu no último domingo (10/01) em decorrência de problemas pulmonares, com suspeita de COVID-19. Ela foi velada e enterrada por engano no lugar de um homem em Belo Horizonte, após uma falha nos protocolos de identificação e encaminhamento dos corpos.
A família então procurou o Hospital São Francisco, onde constatou que Leonora havia sido encaminhada por engano ao cemitério da Consolação, no Bairro Jaqueline, Região Norte da cidade. Por lá, foi velada e sepultada por parentes de um outro paciente do São Francisco, Fernando de Jesus Reis, 68, diagnosticado com a COVID-19 e que morreu no mesmo dia da idosa, na mesma ala hospitalar. Como o protocolo municipal para óbitos pela doença inclui ritos fúnebres com caixões fechados, os parentes dele não puderem constatar a troca.
"Não sei nem te falar o tamanho dessa dor que estou sentindo. Perder uma pessoa que a gente ama já é difícil. Não poder nem enterrá-la faz doer muito mais. Estamos todos revoltados e machucados", desabafa a neta da falecida.
Cova coletiva
Os familiares de Leonora podem não ter a chance de se despedir dela. De acordo com Kelly, o cadáver de sua avó foi inserido em uma cova coletiva do cemitério da Consolação. Depois do enterro, outros dois corpos foram adicionados ao túmulo. Conforme as normas da necrópole, a remoção da aposentada requer autorização das famílias desses dois finados e uma delas já teria informado que não vai permitir a exumação.
"Só sei que queremos enterrar minha avó. O erro não foi nosso. Quem errou tem que resolver. Essa situação pela qual estamos passando é indigna!", afirma Kelly.
Ela relata que, nesta manhã, seus tios foram convidados para uma reunião com a diretoria do hospital São Francisco, que teria se comprometido a ajudá-los a resolver o impasse.
Os parentes de Fernando de Jesus Reis aguardam para sepultar o verdadeiro cadáver, que permaneceu no hospital até a noite dessa terça (12/01) e ainda não havia sido liberado até as 11 desta quarta (13/1).
Hospital culpa funerária
Procurada pelo Estado de Minas, a Fundação Hospitalar São Francisco de Assis (FHSFA) informou, em nota, que o equívoco que resultou na troca dos corpos foi cometido pela Funerária Emirtra, citada como responsável pela preparação dos mortos.
O comunicado diz que essa empresa não realizou a devida conferência no processo de recolhimento e deslocamento dos cadáveres para os cemitérios e, inclusive, já teria admitido o erro. A funerária também teria se comprometido a solucionar a questão e arcar com todas as possíveis despesas que o transtorno causará às famílias dos pacientes.
"Apesar de não ter nenhuma responsabilidade sobre o triste fato ocorrido, a Fundação lamenta muito e se solidariza com as dores dos familiares. Sabemos que é um momento de muita tristeza e o enterro faz parte do processo de luto", finaliza o texto.
A reportagem tentou contato com a Emirtra, mas não obteve retorno.
A reportagem tentou contato com a Emirtra, mas não obteve retorno.