Na guerra mundial contra o novo coronavírus, vem da ciência a principal arma, a vacina, e também todo um esforço para desvendar os mecanismos da COVID-19 e brecar, o quanto antes, os estragos que a doença vem fazendo na saúde, nas relações sociais, na economia, enfim, na própria vida.
Em Minas Gerais, cientistas travam essa bata lha em parceria com o Instituto Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O Estado de Minas entrevistou esses guerreiros da imunização, especialistas de reconhecimento internacional, com publicações nas melhores revistas científicas globais, que trabalham para garantir a vacina produzida no Brasil.
Em Minas Gerais, cientistas travam essa bata lha em parceria com o Instituto Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O Estado de Minas entrevistou esses guerreiros da imunização, especialistas de reconhecimento internacional, com publicações nas melhores revistas científicas globais, que trabalham para garantir a vacina produzida no Brasil.
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Esperança que vem do tempo doado pela professora Santuza, do amor de Mauro, com tanta entrega, da coragem de Ricardo, das noite em claro de Flávio, que não recua, do talento de Lísia. Firmes na ciência – seja bem-vinda, vacina! –, os especialistas na microbiologia dão show de heroísmo.
Esperança que vem do tempo doado pela professora Santuza, do amor de Mauro, com tanta entrega, da coragem de Ricardo, das noite em claro de Flávio, que não recua, do talento de Lísia. Firmes na ciência – seja bem-vinda, vacina! –, os especialistas na microbiologia dão show de heroísmo.
Paixão vence barreiras
Mineira e belo-horizontina, Santuza Maria Ribeiro Teixeira é professora do Instituto de Ciências Biológicas, integra o Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas), núcleo da UFMG com especialistas de várias áreas que se juntaram para tentar acelerar o processo de desenvolvimento de imunizantes.
Em março do ano passado, com a chegada da pandemia no Brasil, o centro tecnológico começou a investir 100% na vacina de COVID-19. Desde então, uma equipe de cerca de 30 pessoas se dedica diariamente ao tema, sem férias ou descanso. Movidos pela paixão e pelo compromisso com a ciência.
Por lá, o estudo mais promissor está em fase de conclusão dos ensaios pré-clínicos, feitos em camundongos. A expectativa é que no início de fevereiro saiam os primeiros resultados. Se forem positivos, será a vez dos testes em humanos.
Em março do ano passado, com a chegada da pandemia no Brasil, o centro tecnológico começou a investir 100% na vacina de COVID-19. Desde então, uma equipe de cerca de 30 pessoas se dedica diariamente ao tema, sem férias ou descanso. Movidos pela paixão e pelo compromisso com a ciência.
Por lá, o estudo mais promissor está em fase de conclusão dos ensaios pré-clínicos, feitos em camundongos. A expectativa é que no início de fevereiro saiam os primeiros resultados. Se forem positivos, será a vez dos testes em humanos.
Santuza se formou em biologia. Logo em seguida, fez mestrado na área de engenharia genética e foi bolsista no doutorado que concluiu na Suíça. E não parou. Depois do pós-doutorado, ela montou seu laboratório. O longo processo de amadurecimento científico não fica apenas no currículo.
É na UFMG que ela repassa seus conhecimentos e incentiva novos alunos a buscar conhecimento dentro e fora do país. “O Brasil pode ter a dificuldade que for, mas se você se isolar, você perde o bonde. E o bonde passa muito rápido, as metodologias avançam em alta velocidade”, alerta a professora.
Para Santuza, a COVID-19 escancarou a necessidade de olhar para a ciência. “Você nunca sabe quando vai precisar mobilizar todos os cientistas. Essa questão da COVID mostrou que de fato as nossas universidades vinham se preparando muito bem. Mesmo com poucos recursos, a gente vem se preparando. Mesmo com os investimentos baixos, a resposta foi espetacular. Esse papel da universidade é muito além de dar diploma para as pessoas”, disse.
Sem esperar reconhecimento ou aplausos, a cientista diz que a comunidade acadêmica só busca fazer um trabalho bem-feito. “Ser cientista significa que você está disposto a abdicar de uma parte maior da sua vida pessoal por conta da ciência. Especialmente na nossa área é muito imprevisível. Não tem como falar com camundongo pra ficar quietinho porque hoje é sábado. Precisa ter disponibilidade, significa estar disposto a lidar com a novidade. A pior coisa que o cientista faz é dizer ‘eu quero esse resultado’. Quem vai dizer a resposta é o experimento. É uma atividade muito prazerosa”, explica.
Santuza aponta percalços no caminho de pesquisadores brasileiros. “Sou muito apaixonada, pode ser até um pouco exagerado. Mas percebi um desencanto dos alunos nos últimos anos. As pessoas buscavam essa profissão sem saber se iam conseguir se inserir no mercado de trabalho. Cadê a empresa Biotech no Brasil? Não existe. Por um lado, comecei a ver com muita tristeza meus alunos desanimados. Fazem uma tese e não conseguem emprego”, lamenta a professora.
“O desafio do controle da pandemia teve esse impacto positivo que é mostrar para as pessoas que sem ciência não há humanidade. Temos que ter o tempo todo a preocupação de nos preparar e buscar soluções.”
“O desafio do controle da pandemia teve esse impacto positivo que é mostrar para as pessoas que sem ciência não há humanidade. Temos que ter o tempo todo a preocupação de nos preparar e buscar soluções.”
Defensor do investimento
A aptidão pela biologia se revelou na época de escola na vida de Flávio Guimarães da Fonseca, presidente da Associação Brasileira de Virologia, pesquisador do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas), que também integra a Rede Vírus, núcleo criado pelo governo federal para o combate à COVID-19.
Quando entrou na UFMG, começou a trabalhar com passarinho, mas, ao aparecer oportunidade de estágio em microbiologia, ele se prontificou. Com a professora Erna Kroon, se encontrou na área. Foi Erna quem moldou a formação de Flávio, que depois fez mestrado e doutorado em virologia, sob orientação dela.
De 2003 a 2016, trabalhou na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), teve a oportunidade de atuar na Universidade de São Paulo (USP), mas recusou porque não quis deixar Minas Gerais. Nascido em São João del-Rei, hoje ele se dedica a pesquisas na UFMG.
Quando entrou na UFMG, começou a trabalhar com passarinho, mas, ao aparecer oportunidade de estágio em microbiologia, ele se prontificou. Com a professora Erna Kroon, se encontrou na área. Foi Erna quem moldou a formação de Flávio, que depois fez mestrado e doutorado em virologia, sob orientação dela.
De 2003 a 2016, trabalhou na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), teve a oportunidade de atuar na Universidade de São Paulo (USP), mas recusou porque não quis deixar Minas Gerais. Nascido em São João del-Rei, hoje ele se dedica a pesquisas na UFMG.
No campo de combate ao novo coronavírus, conta, o grupo CT Vacinas não se limita à investida para a produção da vacina da universidade mineira. O centro tecnológico participa de discussões técnicas nacionais sobre a pandemia e dá apoio ao diagnóstico da COVID-19.
“A gente tem consciência do papel central do grupo de laboratórios que a UFMG montou a partir de comissões de enfrentamento à COVID-19. Na parte biológica, foram sete laboratórios que se uniram para dar suporte de diagnóstico. Existe essa condição pragmática, e além disso assumimos protagonismo no estudo da vacina brasileira”, diz Flávio.
“A gente tem consciência do papel central do grupo de laboratórios que a UFMG montou a partir de comissões de enfrentamento à COVID-19. Na parte biológica, foram sete laboratórios que se uniram para dar suporte de diagnóstico. Existe essa condição pragmática, e além disso assumimos protagonismo no estudo da vacina brasileira”, diz Flávio.
O pesquisador sabe da importância do grupo a nível global, mas afirma que não se apega ao prestígio. Afinal, tudo é resultado de estudo e dedicação. “Muitos de nós fazemos sem esperar reconhecimento. Isso é fruto inclusive do pouco investimento em ciência no Brasil. A gente não tem a figura cientista ‘popstar’ como em outros países, por exemplo”, explica Flávio.
“A gente tem dificuldade terrível de separar a paixão da profissão. E quando a gente mistura isso, a gente trabalha o tempo todo. É um problema. Como diria o mineiro, é uma cachaça. A gente respira ciência”, revela.
A rotina exaustiva em busca de soluções para o problema que assola a sociedade mundialmente esbarra na limitação de recursos financeiros. “Às vezes, domingo à noite estamos discutindo um artigo que saiu. É uma curiosidade e um desafio constantes em busca de resposta. O que mata o pesquisador é não ter resposta. E é muito difícil ser cientista no Brasil. Em razão da emergência sanitária que a gente vive, houve investimento em termos de recursos financeiros que poucos de nós tiveram oportunidade de ver. Nunca tinha visto tanto investimento em tão pouco tempo. Ainda assim, se você comparar com outros países, tem noção do tamanho do abismo. Ciência não tem segredo: você tem que pagar. Não é gasto, é investimento”, acredita Flávio.
Negacionismo na sociedade
Outro problema é o negacionismo de parte da população que não acredita no poder dos estudos científicos. Aos negacionistas, ele deixa um recado: olhe ao redor. “Tudo que você vê ao redor é fruto de desenvolvimento científico. O concreto, o telefone, tudo. O problema é que as pessoas pararam de dar valor às coisas como se elas existissem sem a invenção. A invenção é fruto da ciência”, exemplifica o pesquisador que se incomoda com esses movimentos.
“Isso me irrita, machuca. Não conheço um cientista brasileiro e rico. Somos apaixonados. Atinge o seu âmago, é difícil de engolir. E sabemos que para uma vacina funcionar tem que ter um impacto massivo. Então, torço para que a negação não se sustente a longo prazo.”
“Isso me irrita, machuca. Não conheço um cientista brasileiro e rico. Somos apaixonados. Atinge o seu âmago, é difícil de engolir. E sabemos que para uma vacina funcionar tem que ter um impacto massivo. Então, torço para que a negação não se sustente a longo prazo.”
Estudante para sempre
As raízes na universidade fazem Ricardo Tostes Gazzinelli ter um currículo extenso e que impõe respeito: infectologista, professor e atual coordenador do CT Vacinas da UFMG, líder do Grupo de Imunopatologia da Fiocruz Minas e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas (INCTV). Também membro da Academia Brasileira de Ciências, Gazzinelli estuda o desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) com base numa técnica que utiliza o vírus da influenza para gerar resposta imunológica contra o novo coronavírus.
Gazzinelli nasceu em Nova York, mas vive em Belo Horizonte desde os 4 anos. Seus pais, mineiros, também eram professores da UFMG. Ele conta que se formou em veterinária e fez doutorado e pós-doutorado em imunologia.
“Sempre gostei muito de estudar imunologia, como o organismo se defende de agentes infecciosos ou o sistema imune acaba causando doenças, como questões da autoimunidade.” Foi a partir daí que se interessou muito pelo desenvolvimento de vacinas e começou a trabalhar nessa área. “O desenvolvimento de vacinas é o foco principal do laboratório. Já tem uns 20 anos que trabalho com isso”.
“Sempre gostei muito de estudar imunologia, como o organismo se defende de agentes infecciosos ou o sistema imune acaba causando doenças, como questões da autoimunidade.” Foi a partir daí que se interessou muito pelo desenvolvimento de vacinas e começou a trabalhar nessa área. “O desenvolvimento de vacinas é o foco principal do laboratório. Já tem uns 20 anos que trabalho com isso”.
Ele é dono de vasta experiência, que o coloca hoje entre as mais importantes lideranças na área de imunologia de doenças e no desenvolvimento de vacinas no Brasil. O pesquisador contribui ainda nos planos nacionais e internacionais do contexto imunológico. Para ele, a ciência é uma atividade que estuda diversos aspectos, faz pesquisas básicas e, a partir desse conhecimento, tenta desenvolver novas tecnologias.
Inovação tecnológica para a sociedade
Assim, o cientista tem o desafio intelectual de desenvolver coisas novas e manter os estudos para sempre. “Mas também tem um papel importante na formação de pessoal e para gerar inovação tecnológica para a sociedade.”Apesar disso, Gazzinelli acredita que os cientistas são desvalorizados no Brasil e se decepciona com os negacionistas. Para ele, são pessoas que não percebem que estão indo contra tudo que tenha tecnologia avançada. “Hoje vivemos uma vida com muito conforto e com muitas possibilidades, não só na área de saúde, mas na de tecnologia. Tudo isso veio da ciência. As pessoas que negam, mesmo que neguem estão usufruindo disso tudo. Não é possível que elas não percebam isso”, finaliza, inconformado.
Liderança e influência
O professor Mauro Martins Teixeira é o investigador principal e coordenador-chefe dos estudos das vacinas da dengue e CoronaVac na UFMG. Ele é um dos 600 pesquisadores brasileiros mais influentes do mundo, segundo o ranking mundial de cientistas feito pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Teixeira é formado em medicina pela UFMG e fez doutorado em imunofarmacologia pela Universidade de Londres. É professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais, membro da Academia Brasileira de Ciências, da Ordem Nacional do Mérito Científico e Tecnológico e da Academia Mundial de Ciências. Além disso, faz parte do corpo editorial de revistas científicas e do British Journal of Pharmacology.
Atualmente, Mauro coordena a pesquisa clínica dos testes de eficácia da CoronaVac, pela UFMG. “A gente coordena os testes e a eficácia para saber se a vacina tem eficácia em seres humanos quando acompanhada com os preceitos de boas práticas clínicas. São quase 50 pessoas envolvidas no estudo, entre alunos, pós-doutores e médicos.”
A Coronavac
A parceria com o Instituto Butantan começou com o desenvolvimento da vacina contra a dengue, do qual Teixeira também é o coordenador-chefe. “Estamos no quarto ano de estudo. Para desenvolver uma vacina é preciso uma empresa, no caso o Butantan. A UFMG entra interessada na parte dos ensaios clínicos, uma parceria científica mesmo”, explica.
Ele conta que, no início da pandemia, o instituto entrou em contato com ele para saber se a UFMG teria interesse em participar do estudo, que começou em maio. “Num primeiro momento, as empresas que testaram vacinas foram as americanas Pfizer e Moderna. Assim que surgiu a chinesa, o Butantan fez um acordo com a Sinovac e entramos para participar dos testes”.
Ele explica a dinâmica dos testes clínicos conduzidos na UFMG: “Vacinamos metade dos indivíduos e acompanhamos se eles vão ter a infecção, colhemos amostras. Vemos esses voluntários, no mínimo, oito vezes do início ao final do estudo. São em torno de 1.100 voluntários”.
A parceria solidifica o trabalho da equipe. “Temos um grupo que faz pesquisa vacinal de alta qualidade, com boas normas clínicas. Você demora a treinar uma equipe, é complicado. A coisa mais importante é o aprendizado. A ideia é que através dessa parceria tenhamos acesso a resultados importantes.”
Sobre o pilar da vocação
Lisia Maria Esper é pesquisadora da UFMG e coordena os estudos de desenvolvimento da vacina da dengue em parceria com o Instituto Butantan desde 2016. Essa vacina já está em fase de testes em humanos. Em 2020, surgiu o convite para participar da coordenação do ensaio clínico na fase 3 da vacina da COVID-19 produzida pela Sinovac, também em parceria com o Butantan. Ela divide o posto com o professor Mauro Teixeira e outras três pesquisadoras.
A pesquisadora explica que o último voluntário para a vacina da dengue recebeu a dose do imunizante em fevereiro de 2019 e, agora, todo o grupo será acompanhado até 2024, para saber se os participantes terão alguma reação ao imunizante. “No caso da COVID-19, o processo foi acelerado porque estamos no meio de uma pandemia e o mundo inteiro está correndo atrás de uma vacina”, salienta. Nesta fase, o trabalho consiste em acompanhar os voluntários.
“Fazemos coleta de sangue e o exame PCR para ver a resposta da vacina, verificar realmente a sua eficácia. Ninguém sabe ainda se vai funcionar com uma dose, duas doses ou por quanto tempo o efeito dessa vacina perrmanecerá no organismo. Por isso, temos que ter um acompanhamento dos voluntários ao longo dos anos”, esclarece.
“Fazemos coleta de sangue e o exame PCR para ver a resposta da vacina, verificar realmente a sua eficácia. Ninguém sabe ainda se vai funcionar com uma dose, duas doses ou por quanto tempo o efeito dessa vacina perrmanecerá no organismo. Por isso, temos que ter um acompanhamento dos voluntários ao longo dos anos”, esclarece.
"Mineira de coração"
Lisia nasceu em Altinópolis, cidade de 16 mil habitantes no interior de São Paulo, perto de Ribeirão Preto, mas se considera mineira. “Sou muito mais mineira do que paulista, uai. Sou mineira de coração.” Ela mora em BH desde 2008, quando retornou dos Estados Unidos para fazer seu mestrado. Formada em biomedicina, Lisia se especializou em biologia celular, molecular e imunologia. Foi pesquisadora assistente no laboratório de imunologia da Duke University, de 2004 a 2006.
O grupo do qual fazia parte foi convidado para desenvolver um trabalho no laboratório de imunologia molecular do Cincinnati Children's Hospital, de 2006 a 2008. Foi quando decidiu voltar ao Brasil para ficar perto da mãe, que estava doente. “Também queria um centro de excelência para fazer meu mestrado e doutorado e escolhi a UFMG. Optei por voltar e estou aqui até hoje, não quero sair nunca mais.”
A cientista fez as duas especializações na Faculdade de Medicina da UFMG, pelo Departamento de Clínica Médica, com ênfase em infectologia e medicina tropical. Em seguida, fez o pós-doutorado no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) com o professor Mauro Teixeira. “Minha vida inteira eu trabalhei com doença de Chagas (mestrado e doutorado), mas o professor Mauro me chamou para trabalhar com pesquisa clínica, em 2017. Foi quando descobri minha paixão, realmente onde me encontrei e é o que amo fazer.”
Para Lísia, ser cientista no Brasil é uma vocação. “Descobrir um pouco mais sobre doenças, medicamentos, para conseguir melhorar, nem que seja um pouquinho, a condição de vida das pessoas. É uma honra muito grande ser cientista. Temos muitos bons cientistas no nosso país. Infelizmente, temos um governo que não os valoriza. Mas somos excelência em pesquisa, os pesquisadores brasileiros estão, sem dúvida, entre os melhores do mundo”.
A pesquisadora aponta a falta de apoio governamental como uma das principais dificuldades para o avanço das pesquisas e do trabalho desenvolvido por eles. “Temos um governo que não apoia a ciência, agências de fomento que, muitas vezes, prometem a verba e ela não é liberada. Tem dinheiro para tudo neste país, coisas que às vezes nem precisam ter. Mas para saúde, educação, pesquisa, infelizmente, não tem dinheiro. E, mesmo assim, com tudo isso, a gente ainda faz. E consegue dar banho em muita potência mundial, sem dinheiro, sem nada.”
*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho