A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) anunciou nesta segunda-feira (18/01) a confirmação do primeiro caso no mundo de reinfecção por COVID-19 através de mutação originária da África do Sul, observado no final de 2020 em uma paciente brasileira.
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Ele e seus colegas acompanharam o caso clínico de uma paciente de 45 anos, moradora de Salvador, sem comorbidades, que se destacou como o primeiro caso de reinfecção da COVID-19 na Bahia.
A mulher foi diagnosticada com a doença, pela primeira vez, em 20 de maio de 2020 e voltou a ter testagem positiva em 26 de outubro do mesmo ano, porém com sintomas mais graves.
De acordo com a análise, ela apresentou, em um intervalo de 147 dias, dois episódios de COVID-19, cada um provocado por vírus de linhagens diferentes.
Além disso, a investigação da segunda amostra confirmou a presença da cepa E484K, variante sul-africana do vírus.
A mutação E484K
A mutação foi identificada na África do Sul em outubro, e, no mesmo mês, também começou a circular no Brasil, com primeiro registro no Rio de Janeiro e recentemente em Manaus. O caso baiano foi o primeiro, em todo o mundo, no qual ela foi associada a uma reinfecção por COVID-19.
De acordo com Renato Santana, essa variante aumenta a transmissão do vírus e mais partículas virais conseguem entrar dentro da célula, causando aumento da carga viral.
“Essa mutação acontece em uma proteína de superfície do vírus, o que chamamos de spike. Ela se dá exatamente no sítio de interação com o receptor ACE2 nas células. Então o vírus usa esse receptor para entrar nas células”, ele diz.
“E essa variante especificamente amplia a ligação do vírus na superfície da célula, o que aumenta a transmissão, ou seja, a quantidade de partículas virais que conseguem entrar dentro da célula. Em consequência disso ocorre uma expansão da carga viral e da transmissão”, completa o professor e virologista da UFMG.
No tratamento da COVID-19, um anticorpo neutralizante é usado nos pacientes graves, o Bamlanivimab. Segundo o professor, o estudo mostra que a E484K pode diminuir a ação do anticorpo “com essa mutação, o anticorpo neutralizante não consegue se ligar. Assim, mesmo que os pacientes tomem esse remédio, o efeito combativo não será muito grande”, ele diz.
Vacinas e reinfecção
O virologista da UFMG explica que uma reinfecção ocorre quando a resposta imunológica montada após o primeiro caso não foi o suficiente e duradoura para proteger durante a segunda exposição ao vírus.
O estudo do tempo de duração da resposta imunológica em uma infecção natural com o vírus, é essencial para a compreensão dos riscos de contágio e para avaliar a durabilidade das vacinas.
“Muitas pessoas acham que após terem COVID-19 estão com ‘carteira assinada’ e não terão mais. Isso não é real. Principalmente quando o vírus circula mais. Quanto mais ele circula na população, mais ele replica. Quanto mais replica, maior a chance de aparecerem mutações. Quanto mais mutações, mais diferentes estes vírus ficam, aumentando a possibilidade dos casos de reinfecção. Por isso ainda é importante manter o isolamento social” aponta Renato.
O professor alerta para quanto tempo que as vacinas irão gerar de resposta imunológica efetiva contra a infecção, já que a forma natural tem durado de quatro a cinco meses. Apesar disso, ele reforça que a vacinação é de extrema importância.
Ainda não há uma resposta definitiva sobre como a mutação pode afetar a vacina, mas com a continuação dos estudos, a expectativa é de ter uma solução nos próximos meses.
Segundo a UFMG, nesta semana, o grupo fará uma rodada de sequenciamento em parceria com o Laboratório Hermes Pardini, focando em amostras de Minas Gerais e outros estados brasileiros, para descobrir quando as variantes virais foram introduzidas no Brasil, além de identificar em quais estados estão circulando.
*estagiária sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz