A violência contra o idoso cresceu 82,22% em Minas durante a pandemia do COVID-19. Foram 5.963 denúncias de violência, no primeiro semestre de 2020 enquanto, no mesmo período em 2019, foram 3.202, ou seja 2.761 a mais na quarentena.
Os números no Estado seguem a tendência nacional, que apresentou também crescimento na ordem de 90%. Em todo o Brasil, foram 41.547 denúncias de violência contra o idoso no primeiro semestre de 2020, frente aos 21.749 no mesmo período de 2019.
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A violência contra o idoso pode ser de diferentes tipos: física, psicológica, negligência, abandono e violência patrimonial. Na dissertação de mestrado Padrões de violência contra idosos: análise pelo Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes, defendida em setembro de 2019 no Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFMG, a pesquisadora identificou que a maior ocorrência da violência é a física. No entanto, ela levantou também casos de violência contra o idoso ocorridos na via pública.
Na dissertação, a pesquisadora identificou que os padrões de violência contra os idosos do Brasil são marcados pelo gênero. As mulheres costumam ser agredidas em casa por familiar ou companheiro e os homens são violentados nas ruas, por um estranho, sob efeito de bebida alcoólica.
Para a pesquisa do mestrado, ela analisou duas bases de dados do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) do Ministério da Saúde: o Viva Inquérito, que trata dos atendimentos de emergência nas capitais, e o Sistema de Notificação de Agravos (Sinan), referente às notificações dos serviços de saúde.
Os dados do Viva Inquérito mostraram que a maioria das vítimas é formada por pessoas de 60 a 69 anos de idade, de baixa escolaridade, não brancas, residentes na região Norte do país e que sofreram, sobretudo, violência física.
Pacto nacional na pauta
Minas Gerais pretende aderir ao Pacto Nacional de Implementação da Política de Direitos da Pessoa Idosa. A posição foi apresentada durante reunião virtual na terça-feira (19/01). A adesão ao pacto está sendo articulada pela Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (SDPI/MMFD) junto a dez estados.
TRÊS PERGUNTAS PARA
Fabiana Martins Dias de Andrade
Pesquisadora Escola de Enfermagem da UFMG
A pandemia criou condições favoráveis para a violência contra o idoso?
Sim. O distanciamento social necessário para conter a disseminação da pandemia por Coronavírus, a piora nas condições de vida, os problemas financeiros, as incertezas futuras e o temor pelo adoecimento, tendo em vista que os idosos fazem parte do grupo de risco para COVID-19, são fatores que contribuem para favorecer a ocorrência de violência contra o idoso e demais grupos populacionais.
Há uma cultura de desvalorização do idoso na sociedade brasileira?
Sim, infelizmente é comum ouvirmos frases do tipo “ele tá velho”, “não serve para mais nada” nos dias de hoje. E essas frases/pensamentos não são verdades, o idoso ele tem muito a contribuir com a sociedade com sua experiência e sabedoria. Essa desvalorização precisa ser enfrentada, o envelhecimento populacional é uma realidade no Brasil e no mundo, e, portanto, questões como valorização do idoso, a meu ver precisam ser discutidas.
Tendo em vista que familiares são os principais agressores, como proteger os idosos?
A família precisa ser considerada no planejamento das ações governamentais e nas políticas públicas. Os familiares precisam ser conscientizados e apoiados na sua responsabilidade em relação ao cuidado do idoso. Além disso, o Estado segundo o Estatuto do Idoso, é obrigado a assegurar aos idosos, proteção à vida e à saúde, por meio da efetivação de políticas sociais públicas que possibilitem um envelhecimento saudável e em condições dignas de vida.