A Prefeitura de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, publicou edital para a eventual compra de ivermectina, hidroxicloroquina e azitromicina. O documento diz que a licitação foi aberta em virtude da pandemia do novo coronavírus.
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MG deve receber remessas 'pingadas' de 680 mil vacinas até semana que vemMinas bate recorde de infectados da COVID-19 nas últimas 24hApós criticar Dória, governo de MG diz que 'conversa' com três laboratóriosMP nega ter recomendado retorno das aulas nas escolas particulares de BHCaratinga aderiu a tratamento precoce contra a COVID-19A prefeitura novalimense anexou ao edital uma tabela para que as empresas interessadas registrem os preços cobrados pelos medicamentos. A referência dada pela administração da cidade contempla 60 mil comprimidos de hidroxicloroquina (400 mg), 100 mil de ivermectina (6 mg) e 20 mil de azitromicina (50 mg). Os compostos, vale lembrar, não têm eficácia comprovada para tratar pacientes infectados pela COVID-19.
Segundo o edital, a empresa escolhida deverá entregar os remédios parceladamente. O pregão está previsto para acontecer na próxima quarta (27), às 10h, na sede da prefeitura. O documento aponta que a saúde municipal tem, em valores estimados, R$ 637.812,00 para custear as cargas contempladas pela licitação. A ideia é escolher a proposta que apresentar o menor preço por cada item.
O Estado de Minas tentou contato com o prefeito da cidade, João Marcelo Dieguez (Cidadania). Uma integrante do gabinete do chefe do Executivo pediu que a reportagem encaminhasse e-mail com os questionamentos.
A administração municipal enviou resposta por volta das 16h. O texto diz que "não se trata de uso obrigatório desses medicamentos e nem de distribuição em massa, e sim de mais um serviço que a população terá acesso em decisão compartilhada com seu médico", além de afirmar que a decisão sobre os tratamentos adeaquados a cada caso cabe aos profissionais de saúde. (Veja o posicionamento completo ao fim deste texto).
Anvisa refutou ‘tratamento precoce’
Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é ferrenho defensor da utilização de medicamentos como a cloroquina para barrar o coronavírus. O tratamento precoce por meio de um kit de remédios foi abertamente propagandeado por Eduardo Pazuello, ministro da Saúde desde meados de maio.
No último domingo (17), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a utilização emergencial de duas vacinas anti-COVID-19. Durante a reunião, integrantes da agência atrelaram a necessidade de dar aval aos pedidos de liberação dos imunizantes por conta, justamente, da ausência de tratamentos comprovadamente satisfatórios.
Indicado por Bolsonaro, o diretor Alex Machado Campos foi um dos que adotou esse tom. “A autorização de uso emergencial da vacina contra a COVID-19 está sendo pautada em um cenário em que não há medicamentos para tratar o novo coronavírus”, alegou, ao votar “sim”.
Antes da votação por parte dos diretores, três áreas técnicas da Anvisa fizeram apresentações e recomendaram a aprovação emergencial dos compostos da parceria entre Instituto Butantan e a chinesa Sinovac e do consórcio Oxford/AstraZeneca. A primeira delas foi a gerência de Medicamentos e Produtos Biológicos, cujo chefe é Gustavo Mendes Lima.
O gerente de Medicamentos fez uma série de considerações sobre as vacinas e apresentou os índices de eficácia — 50,39% para o Butantan e 70,42% para Oxford. Embora tenha feito algumas ressalvas aos estudos clínicos conduzidos pelos laboratórios, Gustavo justificou a opinião pela aprovação por conta, justamente, da ausência de medicamentos capazes de controlar a infecção.
"Tendo em vista o cenário da pandemia,o aumento do número de casos e a ausência de alternativas terapêuticas, a gerência de Medicamentos recomenda a aprovação do uso emergencial", disse ele, que solicitou o monitoramento periódico dos efeitos das vacinas.
Conselho ligado ao Ministério da Saúde protesta
Nesta semana, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), que compõe a estrutura formal do ministério, pediu que a pasta revogue os diversos documentos recomendando a adoção do "tratamento precoce".
Na segunda (18), Pazuello mentiu e disse que o governo não orienta “tratamento precoce”, mas sim “atendimento precoce” aos pacientes com sintomas da infecção.
Embora Pazuello tenha afirmado nunca ter autorizado protocolo relacionado a medicamentos, o ministério recomenda, em documento de julho do ano passado, a utilização de hidroxicloroquina e azitromicina.
Na semana passada, o governo lançou o aplicativo TrateCOV, pensado para auxiliar equipes de saúde na identificação dos sintomas. O mecanismo foi duramente criticado após internautas e especialistas perceberem que tinha, como prescrição padrão, a receita de remédios como a hidroxicloroquina e a ivermectina — em dosagens que levavam em conta os sinais relatados pelos usuários.
Nota da Prefeitura de Nova Lima sobre o edital
A Prefeitura de Nova Lima esclarece que não se trata de uso obrigatório desses medicamentos e nem de distribuição em massa, e sim de mais um serviço que a população terá acesso em decisão compartilhada com seu médico. É importante ressaltar que cabe ao médico a decisão da melhor terapia a ser aplicada.
O Governo Municipal esclarece ainda que optou por fazer registro de preço por se tratar da modalidade de licitação que permite a aquisição de pequenos lotes, de acordo com a demanda, em vez da compra de maiores quantidades para estoque.
Reportagem atualizada às 16h51 desta sexta (22), com posicionamento enviado pela Prefeitura de Nova Lima.