Morreu nesta sexta-feira (22/1), em Ribeirão das Neves, na Grande BH, o professor Michel Marie Le Ven, aos 89 anos. Nascido na Região Norte da França, ele foi professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e preso durante a ditadura militar por ministrar Teologia da Libertação no Bairro Horto, Região Leste de BH, onde atuava em uma igreja.
Leia Mais
'Vacina só funciona se todos estivermos comprometidos', diz reitora da UFMGCOVID-19: UFMG confirma 1º caso de reinfecção com variante africana CMI/UFMG abre inscrições para cursos de educação musical para crianças
O sepultamento será no Cemitério da Paz, no Bairro Caiçaras, Região Noroeste, a partir das 10h30 deste sábado (23). A cerimônia será restrita a familiares por conta da pandemia da COVID-19.
Em dezembro de 1968, já no Brasil, Le Ven foi preso pela ditadura militar dias antes da instauração do Ato Institucional nº 5, o mais duro decreto do período. Além dele, os agentes prenderam dois colegas franceses e um padre brasileiro.
Le Ven foi solto no ano seguinte. Em 2016, lançou o livro "Memórias Vivas de 1968", no qual relatou a experiência de perseguição.
Em 1976, fez mestrado na UFMG, onde integrou o Departamento de Ciência Política. Também obteve o título de doutor na Universidade de São Paulo (USP), em 1988.
Le Ven foi ainda consultor da ouvidoria da Polícia Militar de Minas Gerais e coordenou trabalhos de extensão no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG).
"Professor Michel era, antes de tudo, um grande democrata. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi atuante, organizando grupos solidários de enfrentamento às políticas autoritárias", afirma o frei Gilvander Moreira, colega de prelazia do pesquisador e padre da Ordem dos Carmelitas.
"Michel deixa Rosely, sua companheira inseparável, com a missão de continuar esse extraordinário legado", completa.
"Como professor da UFMG, Michel Le Ven trabalhou para aproximar a academia do mundo do trabalho e dos movimentos sociais. Ele foi um dos idealizadores do Laboratório de Estudos Urbanos e, mais tarde, do Núcleo de Estudos sobre o Trabalho Humano (Nesth)", informou a universidade em seu site institucional.
Ainda na UFMG, ele criou o Programa de História Oral da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). Le Ven se tornou um dos expoentes da área no Brasil.
“Foi um participante ativo dos encontros de história oral brasileiros e um grande divulgador da metodologia, contribuindo para a formação de muitos pesquisadores. Sua coerência, generosidade e obstinação continuarão inspirando todos nós”, informou, em nota, a Associação Brasileira de História Oral (ABHO).