Véspera do Natal 2020: boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde registra 516.188 casos confirmados da COVID-19 em Minas Gerais, entre eles 11.475 pacientes que perderam a vida para o novo coronavírus. Festas, encontros descuidados, vaivém de férias. 24 de janeiro de 2021: 690.853 casos confirmados e 14.279 mortes em decorrência da doença. Entre uma data e outra, 174.665 novos diagnósticos, 25% do total registrado em todo o período da pandemia, e 2.804 óbitos, 19,6% do número global. Dor e cansaço por todo lado.
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“Chegamos ao momento de exaustão física e emocional”, afirma Salma Regina Gallate, diretora-técnica da Santa Casa de Guaxupé, no Sul do estado. A cidade integra uma das 10 entre as 14 macrorregiões de saúde mantidas na onda vermelha, a de alerta máximo do Programa Minas Consciente, na última avaliação divulgada pela (SES), em decisão foi pautada pela elevação de 19% na taxa de incidência do novo coronavírus no estado.
Nesse ritmo, nem a chegada da vacina se traduz em alívio duradouro. “Foi emocionante participar dessa conquista da ciência”, diz o gerente assistencial da Santa Casa de Ouro Preto, na Região Central, Leandro Leonardo de Assis, sobre a aplicação de doses em profissionais do hospital. Mas lembra que boa parte do pessoal da instituição – assim como a imensa maioria dos brasileiros – ainda não foi imunizada. “O que vemos nos profissionais é um desgaste físico e emocional muito grande”, diz.
Enfermeiro de Juiz de Fora , na Zona da Mata, Anderson Leandro que o diga: “É cansativo, estressante, a gente tenta não demonstrar, mas fica sem paciência”. Ele conta que já teve que dobrar jornadas de 12 horas várias vezes para cobrir colegas que adoeceram. Às horas mal-dormidas se soma o assombro de ver a morte que se multiplica em curto espaço de tempo. “A gente fica sentido”, conta o médico Alessandro Bacelar, que perdeu oito pacientes em uma casa de idosos de Uberlândia, no Triângulo. Na roda da pandemia, o apelo que se repete na voz da enfermeira Cíntia Aguiar, de Governador Valaredes, no Leste de Minas: “ Conscientizem-se! Recolham-se!”.
Sofrimento que se arrasta
Guaxupé e Varginha – Após 10 meses de pandemia, o Sul de Minas soma quase 65 mil casos de COVID-19, sendo mais de 1.350 mortes em decorrência da doença. Um trabalho intenso e desgastante sendo feito diariamente pelas prefeituras e hospitais para conter o avanço da doença. Guaxupé chegou a decretar lockdown depois de a Santa Casa da cidade, que tem 14 leitos de unidade de terapia Intensiva (UTI) ter atingido 100% da capacidade em dado momento. A unidade atende pacientes da microrregião, e, se necessário, pessoas da macrorregião também são recebidas para tratamento.
“No momento em que já deveríamos estar mais tranquilos, o número de casos positivos está crescente, com necessidades de tratamento em UTI sob ventilação mecânica”, disse Salma Regina Gallate, diretora-técnica da Santa Casa de Guaxupé. A cidade soma 2.137 pessoas infectadas pela COVID-19, e 26 mortes confirmadas pela doença. Um trabalho que não para a cada dia que o município confirma novos casos. “Chegamos ao momento de exaustão física e emocional, por vivenciarmos os óbitos e sofrimento dos pacientes e das suas famílias, ansiedade e angústia pelo afastamento dos profissionais de saúde por ter testado positivo para o vírus ou por abandono da profissão”, ressaltou, em depoimento ao EM na semana anterior ao início da vacinação no Brasil.
As primeiras doses da CoronaVac que chegaram à cidade na semana passada foram aplicadas em profissionais da linha de frente de combate à doença que atuam na Santa Casa, num dos raros momentos de alegria desde que o novo coronavírus começou a se espalhar. “Foi um momento de muita alegria. Sentimento de esperança e respeito aos que ainda não foram vacinados, principalmente aos pacientes”, disse Salma.
Ela conta que muitos profissionais foram infectados enquanto lutavam pela vida de seus pacientes. “Praticamente em todos os setores tivemos funcionários acometidos, mesmo com todos as medidas de segurança”, afirma. E sabe que muito esforço ainda terá que ser feito fora e dentro dos hospitais. Entre os desafios, manter estoques de medicamentos, principalmente os sedativos e relaxantes musculares para dar conforto aos pacientes, cuja escassez já tirou o sono dos profissionais do hospital e exigiu “otimização dos recursos” recebidos das autoridades de saúde e doações.
Outra certeza é de que o trabalho nem o sofrimento vão diminuir sem a colaboração da população. “Se não houver participação da população em seguir os protocolos de proteção e a não aglomeração, teremos pacientes morrendo sem assistência em macas dos hospitais, em casa ou aguardando por atendimento. Sem exageros da minha parte. Esperamos que a vacinação seja feita com a urgência necessária para conter a transmissão do vírus”, alerta.
Varginha é outra cidade em que o avanço da COVID-19 tem preocupado a administração municipal. O município vem batendo recordes diários e, com 4.331 casos, ultrapassou a maior cidade do Sul de Minas, que é Poços de Caldas. Varginha tem cerca de 300 mil habitantes a menos e soma 722 casos a mais que Poços de Caldas, que segue com 3.609 pessoas infectadas pelo novo coronavírus.
A prefeitura pretendia desativar o Hospital de Campanha na cidade, mas prorrogou o atendimento, em dezembro do ano passado, quando o município voltou a registrar aumento de casos de COVID-19. “O trabalho tinha ficado mais tranquilo entre setembro e novembro. Mas dezembro começou a piorar e agora está caótico. Hospitais nos limites de vaga. E vemos que os casos graves só estão aumentando”, conta Camila Fernanda Pereira da clínica médica do Hospital de Campanha de Varginha.
A cidade conta com três hospitais para atender pacientes que necessitam de UTI. Além do Hospital de Campanha, os hospitais Bom Pastor e Regional recebem pessoas em tratamento da doença. De acordo com a prefeitura, somando todos os leitos, a ocupação já ultrapassou 80% da capacidade dos leitos de UTI. “Nem hospital particular nem público tem mais vaga. Só abre vaga quando morre alguém e é muito difícil a pessoa ter alta. Isso é uma pressão muito grande para os profissionais de saúde”, ressalta.
A médica contraiu o vírus durante o trabalho e passou por momentos difíceis. ”Fiquei muito mal. No princípio achei que fosse uma sinusite, mas depois perdi o paladar. O medo maior é de infectar os nossos familiares”, diz. Como já esteve nos dois lados da moeda, Camila entende e respeita a dor dos familiares. “A gente se põe no lugar da família, pois no Hospital de Campanha, o paciente não pode receber visita. A situação é bem complicada. Todos os dias, a gente liga para as famílias para informar e confortá-los”.
Mesmo já tendo sido infectada, ela só começa a se sentir segura depois de ter recebido a primeira dose da vacina, mas lembra que nem todos os colegas tiveram a mesma sorte. “A grande maioria dos profissionais de saúde está ansiosa pela vacina, mas muitos, que não estão na linha de frente, não foram imunizados e vão entrar no critério de idade com a população. Para a gente, que vive sob tensão na linha de frente é um alívio. Estou muito otimista, porque na pesquisa não houve nem casos moderados, apenas leves, com uma gripe simples. O problema mesmo são casos mais graves com quadros de infecções mais severas. Agora é aguardar a segunda dose”, disse a médica. (Camilla Dourado)
Perdas por todos os lados
Uberlândia – Atendendo em Uberlândia, segunda cidade com maior número de casos de COVID-19 em Minas, e em outros cinco municípios menores na região do Triângulo, o médico Alessandro Bacelar convive com uma rotina de perda de pacientes e de certo distanciamento da família. “Cansa muito. Muito mesmo”. Ontem, Uberlândia tinha 782 mortes em decorrência da COVID-19 e, pelo menos oito desses mortos eram pacientes de um lar de idosos na cidade que recebe o atendimento de Bacelar.
Ele contou que uma dessas primeiras mortes, ainda em 2020, foi marcante, pois a vítima tinha “bom astral” e não parecia tão suscetível mesmo depois de ter sido diagnosticada com a doença. O que mostrou a força da COVID-19. “As pessoas pensam que a gente não tem sensibilidade, mas perdi uma paciente piadista e brincalhona, que eu não imaginava que ia perder, mas foi a primeira a morrer pela doença. Isso deixa a gente sentido”, conta o médico.
Ainda hoje, ele evita muitos contatos com o filho, por exemplo, mas esse nem é o maior desafio nesse sentido, já que em determinado período chegou a ficar 25 dias sem vê-lo. O cuidado tem que ser diário, numa rotina minuciosa. Na volta do trabalho, tira sapatos antes de entrar em casa, se despe, põe toda a roupa para lavar, toma banho e só depois se permite ter contato com a família. Mas esse é apenas um dos protocolos que segue dia a dia.
Médico regulador da Universidade Federal de Uberlândia e também plantonista nas cidades de Iraí de Minas, Indianópolis, Romaria, Monte Carmelo e Grupiara, Alessandro percebe todo o movimento em busca de leitos de UTI na região do Triângulo Mineiro, o que também se torna desgastante. “A demanda aumentou muito e até dobrou. Há cidades que não têm lugar para colocar pacientes e Uberlândia é referência”, explicou. “E as pessoas não entendem que o vírus está aí e mata. Os jovens estão matando seus avós, levando o vírus para dentro de casa”, alerta.
Além do esforço para não se contaminar nem levar o vírus para outras pessoas, há ainda o estresse em relação ao próprio sistema de saúde. Um exemplo: recentemente, a Prefeitura de Uberlândia reabriu leitos de UTI que no fim de 2020 haviam sido desativados por falta de demanda. Contudo, no início de janeiro a ocupação das UTIs COVID-19 chegou a 90%. Na última semana da primeira quinzena do mês, lembra o médico, todos os pacientes que atendeu eram casos suspeitos da doença que terminaram se confirmando por testes. Nesse ritmo, sentenciou, “a estrutura não vai aguentar receber todo mundo para tratamento”. Em viagem, Bacelar ainda não pôde receber a dose da vacina que lhe foi oferecida e será imunizado posteriormente. “Pelo menos para os profisssionais de saúde está tudo bem organizado”, comentou. (Vinícus Lemos)
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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