O aumento expressivo dos casos da COVID-19 observado em grande parte do Brasil nas semanas depois das festas de fim de ano parece não ter intimidado a população durante o período de férias. É difícil não conhecer alguém que não tenha se aventurado por algum destino, especialmente as praias, neste início de janeiro, em pleno verão. No entanto, a área da saúde desaconselha essas “aventuras” e especialistas lembram que, mesmo tomando todos os cuidados para evitar a infecção pelo coronavírus, os riscos ainda são maiores durante as viagens.
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Minas Gerais se aproxima de 694 mil casos de COVID-19Exaustão: COVID-19 leva profissionais de saúde ao limite em MinasSecretário de Saúde de Nova Lima pede demissão após polêmica com kit COVIDConfira a programação de férias em BH para toda a família Demitido na pandemia, piloto cria máquina de desinfecção de mala e produtosMonte Verde registra menor temperatura em Minas neste ano Belo Horizonte aparece em lista de 21 destinos tendência para 2021Prepare-se: calorão deve continuar castigando no domingo em BHPrefeitura de Nova Lima confirma cancelamento de licitação para kit-COVID“A campanha foca na colaboração da sociedade para manter o isolamento social mesmo durante o verão, estação em que parte da população aproveita para viajar. O foco é estimular atitudes de responsabilidade durante o período, reforçando que a pandemia não acabou e novas oportunidades de lazer virão”, explica a SES. “A visão de longo prazo mostra que é melhor perder as férias de 2021 para manter a si e aos outros em segurança para desfrutar os verões futuros”, justifica a pasta.
Esse conselho também é compartilhado pelo mineiro José Renato de Melo, de 53 anos. De Betim, na Grande BH, ele se mudou para Guarapari (ES) há 20 anos. Melo trabalha fazendo o café da manhã em uma pousada e, depois do expediente, parte para a praia, onde vende salgados. Segundo ele, o réveillon foi de aglomerações na orla e os flagrantes de desrespeito aos protocolos contra a COVID-19 são comuns. “Eu utilizo três máscaras durante o período de três horas em que trabalho na praia, e álcool em gel, mas nem todos fazem isso”, conta. Ele explica que, hoje, o movimento nas praias é mais tranquilo de segunda a sexta, mas elas voltam a lotar aos finais de semana com turistas e a população local.
Segundo o Mapa de Gestão de Risco para COVID-19, disponível em uma página do governo do Espírito Santo e atualizado pela última vez em 23 de janeiro, a cidade de Guarapari era classifica como de risco moderado.
“Eu, como muita gente de Guarapari, dependo do turismo, mas eu aconselharia a não vir, esperar um pouco, ver se essa vacina será eficaz”, analisa Melo. “Entro em contato com clientes meus, eles perguntam como está aqui e eu falo, ‘Está complicado, se eu fosse vocês eu ficava aí. Esperem um pouquinho porque a praia não vai sair daqui’”, afirma o salgadeiro.
Apesar do medo da COVID-19, o cicloativista Gil Sotero, de 42 anos, não desistiu de viajar, mas usou várias estratégias para evitar as aglomerações. Entre o fim de dezembro e início de janeiro, o morador do Bairro Havaí, na Região Oeste de Belo Horizonte, e mais três pessoas, percorreram o litoral norte de São Paulo de bicicleta. Eles chegaram a Santos (SP) após viajarem de ônibus e trem, e de lá pedalaram até Ubatuba. “Fizemos um turismo de isolamento”, define. A viagem durou cerca de 20 dias.
Apesar do medo da COVID-19, o cicloativista Gil Sotero, de 42 anos, não desistiu de viajar, mas usou várias estratégias para evitar as aglomerações. Entre o fim de dezembro e início de janeiro, o morador do Bairro Havaí, na Região Oeste de Belo Horizonte, e mais três pessoas, percorreram o litoral norte de São Paulo de bicicleta. Eles chegaram a Santos (SP) após viajarem de ônibus e trem, e de lá pedalaram até Ubatuba. “Fizemos um turismo de isolamento”, define. A viagem durou cerca de 20 dias.
“Uma das nossas estratégias foi alugar casas ou hospedagens só para nós quatro. Nos hospedamos até em um barco. Evitamos hotéis e outros locais onde teríamos contato com gente de fora do nosso grupo”, conta Gil.
Segundo ele, as praias foram o maior desafio. Eles davam preferência aos locais de difícil acesso e sem estrutura de barracas. Mas, durante a viagem, chegaram a ver a movimentação em outros locais, como Maresias e Camburizinho, no município de São Sebastião, e as praias com bares em Ubatuba. “Nessas praias cheias, quando usavam (máscara), era de forma errada”.
Segundo ele, as praias foram o maior desafio. Eles davam preferência aos locais de difícil acesso e sem estrutura de barracas. Mas, durante a viagem, chegaram a ver a movimentação em outros locais, como Maresias e Camburizinho, no município de São Sebastião, e as praias com bares em Ubatuba. “Nessas praias cheias, quando usavam (máscara), era de forma errada”.
Desde o retorno para BH, há mais ou menos uma semana, segundo o cicloativista, eles saem de casa apenas para o necessário e seguindo os protocolos de higiene. Sotero considera o saldo positivo. “Ninguém manifestou qualquer sintoma antes e durante a viagem. E detalhe: todos nós somos grupo de risco”, conta.
Segundo o Ministério da Saúde, até domingo, São Paulo, que concentra a maior parte das ocorrências da COVID-19 do Brasil, já somava 1.699.427 casos e 51.502 mortes.
Aeroporto e rodoviária
Os números também mostram que a movimentação não parou no período de férias, mesmo com a pandemia. Procurada pela reportagem, a BH-Airport, responsável pelo Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, informou que o número de passageiros esperado para o período entre 30 de dezembro de 2020 e 5 de janeiro deste ano era de cerca de 140 mil. No entanto, cerca de 160 mil pessoas passaram pelo local.
Somente entre os dias 4 e 5 de janeiro, foram 30 mil pessoas no terminal aéreo por dia, um número que costuma ser registro no período pré-pandemia. O total deste mês deve ser divulgado em fevereiro. Antes da pandemia, o aeroporto costumava receber mais de 1 milhão de passageiros em janeiro. Já a expectativa para este ano é de 700 mil até o fim do mês.
Já no Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro, no Centro de Belo Horizonte, houve queda em dezembro do ano passado. O número de passageiros embarcando na rodoviária caiu 50% comparado com o mesmo período do ano passado embarques (de 458.240 para 229.286 pessoas), e 48% nos desembarques (de 398.302 para 207.358 passageiros). O levantamento é da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge).
“Quanto à quantidade de passageiros, a previsão de diminuição é de aproximadamente 50% no volume de embarques (de 391.197 para 196.355 pessoas) e de 52% no de desembarques (de 425.738 para 203.410 passageiros)”, informa nota da Codemge sobre este mês.
“De frente para o mar e de costas para a realidade”
O infectologista Carlos Starling, integrante do Comitê Municipal de Enfrentamento à COVID-19 em Belo Horizonte, confirma que estamos sofrendo com os reflexos das aglomerações de dezembro. “Muita gente retornando de praias com quadros infecciosos, onde vão com famílias inteiras e esquecem que estamos em uma pandemia. Às vezes ficam de frente para o mar e de costas para a realidade. Isso preocupa sim”,diz o médico.
Ele lembra que nas praias ocorrem festas, shows e outras atividades que comprometem o controle da pandemia.
Sobre o slogan da campanha do governo estadual, ele concorda que é melhor ficar em casa, e é ainda mais enfático. “Evitem viagens, evitem qualquer tipo de aglomeração. Não é o momento. Eu não sei se em 2022 ainda teremos tranquilidade para isso, mas eu diria: evite aglomerações e curta os verões futuros. E curta todos os dias futuros”.
De acordo com o infectologista, o que pode garantir um verão tranquilo no próximo ano é a distribuição das vacinas contra a COVID-19, que já começaram a faltar na primeira semana de distribuição, devido à alta demanda e o pequeno número de doses disponíveis. “O que muda a realidade é a vacina. Sem vacina, vamos continuar tendo ondas e mais ondas epidêmicas”, reforça.
Se viajar, cuidado
E para quem ainda insiste e quer sair da cidade ou do estado nos últimos dias de janeiro, fica o alerta: “O primeiro cuidado é pensar duas vezes antes de ir, e avaliar a condição epidemiológica do local. Se estiver com mais de 300 casos por 100 mil habitantes, não vá”, diz Carlos Starling. Vale lembrar que os dados sobre a COVID-19 são públicos e ficam disponíveis nos sites e redes sociais das prefeituras, governos estaduais e do próprio Ministério da Saúde.
O infectologista lembra que, durante a viagem, é preciso usar máscara durante todo o trajeto, seja no ônibus, avião ou carro, e o reforço de um face shield (placa de acrílico que cobre o rosto) sobre a máscara é bem-vindo. Ele também lembra da necessidade de trocar a máscara, principalmente se a viagem for superior a quatro horas.
“No local de destino, evite aglomerações de toda e qualquer natureza. Se ficar em hotel, tome as refeições no quarto. O agendamento (para as refeições nos hotéis e pousadas) ajuda, mas o ideal é fazer a refeição no próprio quarto e evitar aglomerações na praia”, Ele também destaca que, seja na praia ou em qualquer outro destino, a higienização das mãos deve ser constante, além do uso de máscara.
E, na volta, é importante realizar a quarentena. “O ideal é voltar e manter-se em observação por pelo menos 10 dias. Evitar fazer visitas, evitar contatos principalmente com pessoas de risco. Eu acredito que vamos continuar com essa elevação por um bom período ainda, algumas semanas”, prevê o infectologista.