"Dói demais o jeito que vocês foram embora". Esse dizer emblemático, utilizado pelas famílias de vítimas da tragédia em Brumadinho, subiu aos céus em 272 balões brancos por volta das 12h desta segunda-feira (24/1) - data em que completa dois anos do rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão.
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Outra chamada emocionante foi a leitura dos 272 nomes das vítimas que morreram na tragédia. A cada pessoa, o público lembrou da saudade: "ausente", diziam com os olhos marejados.
Às 12h28, momento do rompimento da barragem de rejeitos de minérios, os músicos do Corpo de Bombeiros marcaram presença e fizeram o "o toque do silêncio". Logo depois, os familiares aplaudiram por um minuto em homenagem às joias.
Durante todo o dia foram programadas uma série de atos, homenagens e celebrações religiosas para lembrar os dois anos da grande catástrofe socioambiental e humanitária. Em todas as ações, os organizadores pedem o cumprimento de medidas de distanciamento social e uso de máscara.
Às 16h, na Base Bravo do Corpo de Bombeiros, no em Córrego do Feijão, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), participa de outro momento de homenagem às vítimas.
As fachadas do comércio e das casas de Brumadinho espelham o sentimento de luto coletivo, com a exposição de panos pretos em memória a todos aqueles que morreram em decorrência do crime e também em respeito ao luto de familiares, amigos e sobreviventes.
Na noite de ontem, os parentes das vítimas e atingidos, com apoio da população, partiram em carreata até o Cemitério Parque das Rosas, em Brumadinho, local onde está sepultada a maioria dos mortos na tragédia.
Segundo a professora Natália de Oliveira, integrante da Associação de Familiares de Atingidos da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), os dois anos são marcados como uma data para exigir da Vale e do governo do de Minas o isolamento permanente da área onde ficava o Centro Administrativo da mineradora.
Ela é irmã de Lecilda de Oliveira, analista de operação da Vale, que estava no prédio da empresa que foi engolido pelo mar de rejeitos de minério.
“Eu sei que não encontrarei o corpo da minha irmã e das outras 10 pessoas. Mas é dever da empresa e do Estado manter o local isolado para que sejam encontrados os chamados ‘fragmentos’ que ainda estão perdidos na área de buscas”.
A falta que Walace Junior Candido da Silva faz para a mãe, Julia Silva de Jesus, não tem tamanho. Nesta segunda-feira, a dor virou choro e contou com o consolo de um bombeiro, sargento Allan Azevedo.
"Meu filho tinha acabado de completar 25 anos. Atualmente não faço nada, nem tenho forças. Vivo de muita dor, muita saudade, mas a gente aceita porque não tem outro jeito", desabafa Julia.
Manifestação em BH
Em Belo Horizonte, por volta das 10h, familiares das vítimas se reuniram em frente à do Tribunal de Justiça, na Avenida Afonso Pena, 4.000, para cobrar maior rigor e rapidez no processo criminal.