As homenagens pelos dois anos da tragédia em Brumadinho duraram todo o dia pela cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Às 16h30, na Base Bravo do Corpo de Bombeiros, no distrito de Córrego do Feijão, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), participou de momento com familiares e amigos das 272 pessoas que morreram no desastre.
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O coronel Edgard Estevo, comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, foi homenageado em nome de toda a corporação.
"O lema de vocês agora é nosso. Confiamos no que os bombeiros nos ensinaram: desistir não é uma opção", discursou Josiana Rezende, vice-presidente da Avabrum.
Depois das leituras, os familiares e as autoridades se dirigiram ao pátio onde foram colocadas cruzes com os nomes das vítimas. Os bombeiros repetiram a leitura dos nomes das chamadas "joias".
Em seguida, o governador e os parentes das 11 pessoas desaparecidas colocaram rosas em cima da cruz que simboliza cada joia.
Em seguida, o governador e os parentes das 11 pessoas desaparecidas colocaram rosas em cima da cruz que simboliza cada joia.
Ao som de Hallelujah, música tocada pelos músicos da Bombeiro Instrumental Orquestra Show (Bios), o helicóptero do governo do estado jogou pétalas de rosas no posto de comando. O momento foi marcado por choro e emoção.
O fim do ato se deu com a frase que explica porque as vítimas são chamadas de preciosidades: "Quando alguém que você ama se torna uma memória, a memória se torna um tesouro, uma verdadeira joia".
Buscas podem levar 6 anos
O coronel Alexandre Gomes Rodrigues, comandante das operações em Brumadinho, afirmou que as buscas podem durar por mais quatro anos, a depender das estratégias adotadas pela corporação.
"Estamos adaptando as nossas estratégias a cada período. A próxima estratégia, a partir de março, pode melhorar a qualidade e diminuir as possibilidades de erro", disse o coronel, sem contar qual método está em análise.
"Ainda estamos planejando, precisa de muito estudo e análise técnica. É um plano tanto quanto ambicioso. Com adesão da estratégia, pode reduzir em um ano e meio as operações", afirmou.
A reportagem do Estado de Minas já apurou que deve ser utilizada uma máquina sensorial capaz de separar a terra de objetos e fragmentos corpóreos.
"Temos fé de que entregaremos as joias. Não temos o planejamento de encerrar sem as 11 vítimas desaparecidas. Continuamos trabalhando com afinco, empatia com os familiares", disse o coronel.
Dois anos depois do rompimento da Barragem B1 da Mina do Córrego do Feijão, os mais de 700 dias de trabalho fazem dessa a operação de busca e resgate mais longa da história do Brasil.
Parentes das vítimas cobram justiça
O ato no posto de comando dos bombeiros é, para os parentes, uma forma de, além de honrar os familiares das vítimas, cobrar por justiça.
"Completamos dois anos e até hoje continua com nenhum indiciado preso. Esse encontro é para honrar os familiares e deixar claro que não serão esquecidos. Queremos também que mude a mineração no Brasil", disse Alexandra Andrade Gonçalves, que perdeu o irmão Sandro Andrade Gonçalves e o primo Marlon Rodrigues.
O luto para muitas dessas famílias foi transformado em luta. Luta essa que se traduziu em prantos durante o dia de homenagens.
"Nosso primeiro filho tinha muitos sonhos. As filhas dele perguntam pra mim: 'onde meu pai foi?'", conta Eva Aparecida, mãe de Renato Eustáquio de Souza, morto aos 30 enquanto trabalhava de soldador na Vale.
Para ela, a data representa dois anos de saudade e de sonhos perdidos: "Nenhuma reparação neste mundo me traz a alegria de volta. Deus sabe o que faz, e eu espero na justiça Dele".