Os réus são José Luís Gomes da Silva, José Luís Bonfitto e Marco Alexandre Pacheco da Fonseca. A sessão foi retomada, pouco antes das 10h, com o juiz Daniel Leite Chaves interrogando o primeiro acusado, Silva. Os outros dois aguardaram em uma sala à parte o momento de depor.
De acordo com assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), José Luís Gomes da Silva foi interrogado por cerca de uma hora. A promotoria fez perguntas relacionadas ao atendimento da vítima, como o tipo de lesão sofrida e tratamentos, que foram aplicados naquela época, além de exames, que foram realizados na criança durante o tratamento e após constatação clínica da morte cerebral.
O segundo a ser ouvido foi José Luís Bonfitto e na sequência, Marco Alexandre Pacheco da Fonseca deu seu depoimento no salão do Júri. A assessoria de imprensa do TJMG informou que os debates começaram por volta das 16h.
O Ministério público começou apresentando a versão defendida pela promotora Ana Cláudia Lopes, acompanhada dos promotores Giovani Avelar e Renato Teixeira e mais dois assistentes de acusação. O trabalho durou cerca de duas horas. Em seguida, a defesa dos médicos acusados apresentou suas teses.
Dando sequencia ao Júri, o Ministério Público e a defesa começaram as réplicas e tréplicas do debate. Ainda segundo a assessoria de imprensa do TJMG, não há previsão para o término do julgamento.
Primeiro dia
Nessa quinta-feira (28/1), o pai da vítima, o empresário Paulo Pavesi, deu depoimento que durou cerca de duas horas. Segundo Paulo, ao saber do estado de saúde da criança, ele disse que doaria os órgãos, mas advertiu que isso só ocorreria caso houvesse morte cerebral. Até porque, a condição do filho não era definitiva.
O empresário explicou que só depois ficou sabendo que a retirada dos órgãos foi de forma irregular. Ele alegou que os médicos não deveriam e não tinham autorização para prática.
Além disso, receptores fora da lista oficial de espera receberam órgãos da vítima.
Após o depoimento de Paulo, em plenário, foram exibidos vídeos de testemunhas, médicos e enfermeiros, que atenderam a vítima. Em razão da pandemia do novo coronavírus, as audiências foram realizadas na Comarca de Poços de Caldas.
Entenda o caso
Em abril de 2000, o menino foi atendido por uma equipe médica depois de sofrer traumatismo craniano ao cair de uma altura de 10 metros do prédio onde morava. Paulo foi levado ao Hospital Pedro Sanches, mas, após alguns problemas durante a cirurgia, foi encaminhado à Santa Casa da cidade, onde morreu.
O pai da criança desconfiou das circunstâncias da morte depois de receber uma conta do hospital de quase R$ 12 mil. Algumas informações apontavam a cobrança de medicamentos para remoção de órgãos, que, na verdade, deve ser paga pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a equipe médica teria constatado a morte encefálica, mas as investigações apontaram que o laudo foi forjado e houve várias irregularidades durante o atendimento. Os envolvidos foram denunciados por homicídio qualificado.
"Na denúncia, consta que cada profissional cometeu uma série de atos e omissões voluntárias com a intenção de forjar a morte do menino para que ele fosse doador de órgãos", diz o Tribunal de Justiça de Minas Gerais. "Estão entre as acusações a admissão em hospital inadequado, a demora no atendimento neurocirúrgico, a realização de uma cirurgia por profissional sem habilitação legal, o que resultou em erro médico, e a inexistência de um tratamento efetivo e eficaz. Eles são acusados também de fraude no exame que determinou a morte encefálica do menino", informa o TJMG.
Dois anos após a morte de Paulo, a Santa Casa da cidade foi descredenciada a fazer remoção e transplantes de órgãos. A MG Sul Transplantes, entidade gestora dos procedimentos no município, foi extinta. (Com informações do Portal Terra do Mandu - Helena Lima/Especial para o EM)