Levar as pesquisas científicas para o setor dos produtos e serviços: essa é a missão da cientista mineira Jackeline Souza Alecrim, de 33 anos. A partir de uma pesquisa que durou cerca de quatro anos, ela criou um shampoo à base de café para combater a calvície, e hoje tem uma empresa de cosméticos que, literalmente, nasceu no campo acadêmico.
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“Eu amamentava dentro do laboratório”, lembra.
Nos laboratórios da Faculdade Pitágoras, em Ipatinga, no Vale do Rio Doce, ela conseguiu envolver toda comunidade acadêmica.
“Eu precisava identificar quais ativos do extrato biotecnológico do café realmente contribuíam contra a queda dos cabelos. Eu e os alunos precisamos trabalhar muito até chegar em um resultado eficiente”, conta a até então professora de cursos da área da saúde, como farmácia e enfermagem.
Quando finalizou a pesquisa, ela precisou tirar dinheiro do próprio bolso para contratar um laboratório com objetivo de testar a eficácia do shampoo.
“A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) exige o teste de segurança e eficácia para que o produto esteja aprovado. Ela não faz esse teste. Fiquei literalmente falida, mas consegui 100% de eficácia no efeito antiqueda”, afirma.
Isso quer dizer que todos aqueles que usaram o shampoo perceberam diminuição na queda dos cabelos com um mês de uso. “Foi como um gol em uma final de Copa do Mundo. A faculdade estava em êxtase”, relembra a empreendedora.
O shampoo Cafeine’s Therapy hoje está nas gôndolas de todos os estados brasileiros e de 11 países, como Japão, Argentina e Alemanha.
Ciência como serviço
Diante da pandemia da COVID-19, o Brasil vive um ano de ataques à ciência, com propagandas a favor do uso de medicamentos sem comprovação de eficácia.
Para Jackeline Alecrim, o shampoo à base de café serve como referência para os colegas pesquisadores.
“Eu consegui mostrar que a pesquisa acadêmica pode ter resultado prático também. Envolvi os alunos nesse projeto para que eles acompanhassem e percebessem que era possível desenvolver algo para o mercado”, diz.
De acordo com ela, o Brasil tem reconhecimento em pesquisa científica, mas sem sempre a aplica a favor da população.
“As pessoas demandam isso. Elas querem saber informações sobre essas pesquisas. Hoje, dou capacitação para minhas revendedoras para que elas, mesmo sem curso superior, possam ler artigos e adquirir conhecimento”, afirma.
A empresa criada por ela, a Magic Science, hoje tem uma linha com produtos para o cabelo e com itens para a pele. Essa segunda área é a aposta para 2021.
“O que queremos é que o produto se adapte ao cliente, não o contrário. Não queremos que o consumidor precise de trocar de produto depois de um determinado tempo”, explica.