Enquanto 16 capitais do país expandem a imunização para a população idosa fora dos asilos, o governo de Minas Gerais, estado que detém segundo maior lote de vacinas entregues até o momento pelo governo federal, ainda não tem previsão para atender a este grupo. Tampouco divulga os quantitativos de seu planejamento para os municípios. Ou seja: quantos são os trabalhadores da saúde, os indígenas, as pessoas com deficiência abrigadas em instituições, entre outros prioritários.
A situação é semelhante em Belo Horizonte, onde a proteção dos idosos além das casas de repouso permanece fora do calendário municipal. A capital também evita falar em cálculos populacionais. Questionada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde admitiu ter feito levantamentos mas, por ora, “optou por não divulgá-los”.
A logística imprecisa, assim como a falta de informações, gera ansiedade entre os mineiros com mais de 60, que somam 3,45 milhões conforme estimativas do IBGE, e concentram 81% das mortes pela COVID-19, de acordo com Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).
Gera também dúvidas. O que impede os governos de Minas e de BH de avançarem na campanha, e por que ainda não planejam a inclusão de nenhuma faixa da terceira idade?
Dentro das possibilidades de cada região, especialistas consultados pela reportagem recomendam a imunização de mineiros com mais de 90 anos e reforçam a necessidade de máxima transparência na divulgação de dados durante a pandemia.
Respostas genéricas
As duas esferas de governo respondem aos questionamentos sobre o cronograma da vacinação dos idosos de forma evasiva. A SES-MG diz que a ampliação da campanha para os demais públicos será feita “à medida em que novas remessas forem enviadas ao estado”. Na mesma linha, a PBH afirma que “o número de pessoas a serem vacinadas em cada grupo depende do quantitativo de doses recebidas pelo município”.
Vale lembrar que a União retirou os idosos acima de 75 anos não institucionalizados da primeira fase do Plano Nacional de Imunização (PNI). O encaixe do grupo ficou a cargo dos estados e municípios.
Prefeituras do interior de Minas ensaiam expansões tímidas. Em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, os idosos acamados em residências e doentes crônicos são atendidos desde 20 de janeiro. Uberlândia, no Triângulo Mineiro, iniciou movimento semelhante em 25 de janeiro.
O infectologista Luiz Wellington Pinto defende a antecipação do atendimento de idosos, sobretudo os de idade avançada.
Prefeituras do interior de Minas ensaiam expansões tímidas. Em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, os idosos acamados em residências e doentes crônicos são atendidos desde 20 de janeiro. Uberlândia, no Triângulo Mineiro, iniciou movimento semelhante em 25 de janeiro.
O infectologista Luiz Wellington Pinto defende a antecipação do atendimento de idosos, sobretudo os de idade avançada.
"Temos poucas doses, que mal cobrem os prioritários do momento. A vacinação, portanto, deve seguir em ritmo lento por algum tempo. Por isso, talvez seja arriscado esperar até que todos os profissionais de saúde, indígenas e institucionalizados sejam protegidos para, então, cuidar dos idosos, que são também muito vulneráveis. Me parece razoável vacinar ao menos a faixa dos 90 anos para cima, especialmente aqueles com comorbidades. Claro: dentro das possibilidades de cada região", opina o especialista
Já para a infectologista e epidemiologista Luana Araújo, os dados disponibilizados até então pela prefeitura e pelo estado não permitem dizer se há, de fato, viabilidade para inclusão de mais grupos nesta fase da campanha.
A médica pondera que a decisão de adiantar ou adiar políticas públicas é complexa e leva em conta variáveis diferentes em cada região. Ela ressalta, porém, que a falta de clareza é inimiga de qualquer planejamento.
“A transparência é construtora da confiança. Quando não temos informações suficientes, fica tudo nebuloso e instável. As pessoas ficam vulneráveis a especulações e mentiras. Isso gera um ambiente caótico, propício aos ‘fura filas’ da vacina, por exemplo. A transparência ajuda o cidadão na compreensão da realidade. No entendimento de que a vacinação é uma longa maratona, mas que a vez dele vai chegar. Então ele não precisa furar a fila”, avalia Luana.
Rio de Janeiro
A vacinação segue com mais agilidade em ao menos 16 cidades brasileiras. É o caso da capital fluminense. Desde segunda-feira (1°/2), os imunizantes são aplicados nos cariocas com mais de 99 anos. Cada idade tem um dia reservado no planejamento. A prefeitura estima que, até o fim de fevereiro, toda a população a partir de 75 anos - em torno de 371 mil habitantes - estará coberta.
Com 6,7 milhões de habitantes, mais que o dobro da população da capital mineira (2,5 milhões), a cidade recebeu 326,5 mil doses de vacinas. Até a tarde desta quarta-feira (4/2), 145.357 pessoas haviam sido protegidas.
A Secretaria Municipal de Saúde explica que decidiu acelerar o cronograma do município após o anúncio recente de novas remessas pelo Ministério da Saúde - sobretudo a carga de 32,6 milhões de doses da CoronaVac (feita pelo Sinovac Biotech/Instituto Butantan) e da Covishield (da AstraZeneca/Universidade de Oxford/Fiocruz). A previsão é de que o material chegue ao Brasil até o fim de fevereiro.
Os planos, contudo, soam arriscados. As unidades ja entregues ao município são suficientes para imunizar 52% dos idosos da campanha. Caso haja atrasos nas entregas do governo federal, quase metade do grupo ficará descoberto.
Pernambuco
Em Pernambuco, a população idosa fora dos asilos começou a ser vacinada em 26 de janeiro nos 184 municípios do estado. A decisão partiu da Secretaria Estadual de Saúde. Os primeiros da fila são os pernambucanos com mais de 85 anos, que totalizam 75.159.Segundo a pasta, o estado recebeu, ao todo, 393 mil doses, quantitativo suficiente para proteger 100% dos idosos institucionalizados (2.462), pessoas com deficiência internadas (130), idosos a partir dos 85 anos, os indígenas aldeados (26.729), além de 40% dos trabalhadores da saúde (69.816). A população total em Pernambuco é de 9,2 milhões.
Com 20,8 milhões de habitantes, Minas recebeu 855,68 mil vacinas do governo federal. A estimativa de público da campanha, por enquanto, é a do Ministério da Saúde. Os dados, segundo o próprio estado, estão defasados. A SES-MG diz que trabalha na elaboração de um novo levantamento junto aos municípios, ainda sem data para divulgação.
Por ora, os números disponíveis são: 38.578 pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas, 1.160 pessoas com deficiência internadas, 7.878 indígenas e 227.472 trabalhadores da saúde.
Por ora, os números disponíveis são: 38.578 pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas, 1.160 pessoas com deficiência internadas, 7.878 indígenas e 227.472 trabalhadores da saúde.
Drive-thru
No Distrito Federal, a vacinação do público acima de 80 anos começou por drive-thru na segunda-feira (2/2). O secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, espera ampliar a campanha para maiores de 75 a partir deste sábado (6/2). Com população de 3 milhões de pessoas, a capital federal recebeu 125.201 unidades de vacina. O total de brasilienses idosos é estimado em 35 mil.A mesma estratégia será utilizada em São Paulo (SP), que, protegerá os paulistas com mais de 90 anos a partir de segunda-feira (8/2). Na sequência, vem a faixa dos 85 a 89 anos, que será chamada a partir de 15 de fevereiro.
A vacinação da terceira idade tem calendário em ao menos mais 13 capitais:
- São Paulo (8/2)
- Rio Branco (1°/2)
- Fortaleza (27/1)
- Manaus (29/1)
- Porto Velho (2/2)
- Salvador (3/2)
- Belém (3/2)
- Boa Vista (3/2)
- Maceió (28/1)
- São Luís (30/1)
- João Pessoa (27/1)
- Campo Grande (1°/2)
- Vitória (4/2)