A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), participa da terceira fase do estudo que testa a eficácia e segurança de vacinas contra o HIV. Instituições de oito países também participam da pesquisa. Os testes já foram iniciados, mas ainda é possível se voluntariar. Para isso, o requisito é que os participantes sejam homens cisgênero (identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento) ou pessoas trans que fazem sexo com homens cisgênero e/ou pessoas trans.
Além disso, os candidatos devem ter entre 18 e 60 anos, não estar infectados com HIV e não usar profilaxia pré-exposição (PrEP). As inscrições para os que desejam participar dos testes do estudo podem ser feitas através do telefone (31) 99331-3658 ou pelo e-mail: mosaico.minasgerais@gmail.com.
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O estudo, que recebeu o nome de Mosaico, é desenvolvido pela Rede HVTN e financiado em parceria com a Johnson & Johnson. O intuito principal é expandir a proteção contra o HIV-1, tipo mais comum, e suas variantes.
De acordo com o professor Jorge Andrade Pinto, pesquisador responsável pelo estudo na UFMG, o desafio é que não existe nenhum tipo de vacina desde o primeiro caso registrado de Aids há mais de 30 anos.
“Há a dificuldade de desenvolver uma vacina e depois a necessidade de cobrir essa diversidade de vírus. E é justamente essa a proposta do Mosaico, de ser multivalente”, disse.
O estudo ressalta outro ponto importante: a junção de duas vacinas. Uma mesma pessoa receberá a vacina de vetor viral e a que contém proteína gp140 do HIV. A primeira vacina possui o adenovírus 26 (Ad26), utilizado como vetor e onde são colocadas as sequências de partes do HIV. A ideia é que haja a imunidade a diversos subtipos do vírus.
As vacinas que são testadas não provocam infecção por HIV ou Aids, pelo fato de que apenas fragmentos do vírus são usados. O esperado é que a pessoa vacinada tenha sua imunidade “ligada” ao entrar em contato com o vírus para que ele seja eliminado antes da infecção. Se esse resultado for alcançado a nível mundial, muitas vidas serão salvas.
Jorge Andrade pontuou que “como o HIV é tão disseminado e de controle tão difícil, várias estimativas indicam que mesmo que a vacina não seja altamente eficaz, ainda vai poder diminuir bastante o impacto da epidemia”, afirma Jorge Pinto. “Por exemplo, se você tiver considerando que tenha uma vacina que seja 30% eficaz, mas que seja capaz de vacinar 20% da população em risco de aquisição do HIV, você previne cerca de 5 milhões de casos no intervalo projetado de 10 anos. Agora, se você tiver uma vacina que seja 70% eficaz, no outro extremo, e com uma cobertura de 40% da população, o número de infecções provocadas no intervalo de 10 anos, vai a 28 milhões.”
Importância
Segundo ele, atualmente só existe prevenção por meio de medicamentos, como profilaxia pré-exposição (PrEP) ou a profilaxia pós-exposição (PEP), além dos métodos de barreira. Diante disso, a vacina contra o HIV se torna essencial. Porém, como a doença age de formas totalmente diferentes, o ideal é que “quanto mais estratégias de prevenção tivermos e em modalidades diferentes, melhor será para atingirmos nosso objetivo”.
O professor ainda explicou que o estudo terá a participação de 3.800 pessoas, escolhidas e separadas igualmente entre grupo placebo e grupo ativo. Na Faculdade de Medicina está prevista a seleção de 120 voluntários até julho deste ano. Somente o comitê externo saberá quem recebeu placebo e quem recebeu a vacina e, também, ficará a cargo de avaliar a segurança, bem como o número de infecções entre os participantes.
Antes de serem aprovados para participarem dos testes, os candidatos são avaliados clinicamente e realizam exames. Se for escolhido, a pessoa recebe quatro doses: as duas primeiras apenas com vacina de vetor viral e as outras contendo ambas vacinas (vetor viral e proteica), aplicadas no intervalo de três meses.
O acompanhamento é feito a cada três meses e depois a cada seis meses. Nos 30 meses totais, será preciso comparecer à clínica 14 vezes. Por isso, a participação exige um comprometimento do voluntário para com o centro de pesquisa e, consequentemente, o participante deve permanecer em Belo Horizonte ou na Região Metropolitana, desde que não comprometa sua locomoção.
Sobre o espaço que a Faculdade de Medicina da UFMG vem ganhando, principalmente com as iniciativas de prevenção do HIV e da COVID-19, o professor Jorge Andrade Pinto destacou “a importância estratégica de grupos de pesquisa sediados na Faculdade de Medicina da UFMG. É importante dizer que isso é só mais um exemplo da relevância da Instituição no cenário científico brasileiro e internacional”.
* Estagiário sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.