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Estado de Minas ENCHENTES

Desabrigados do 1º de Maio culpam obras pelas enchentes; Prefeitura rebate

Segundo a PBH, a causa das inundações foi o 'rompimento da rede de drenagem de interior de quarteirão no local'


10/02/2021 13:53 - atualizado 11/02/2021 12:15

Chuvas no Primeiro de Maio deixaram pelo menos 33 pessoas desabrigadas(foto: Edésio Ferreira/EM/D. A. Press)
Chuvas no Primeiro de Maio deixaram pelo menos 33 pessoas desabrigadas (foto: Edésio Ferreira/EM/D. A. Press)
O Estado de Minas voltou, nesta quarta-feira, ao Bairro Primeiro de Maio, na Região Norte de Belo Horizonte, onde várias famílias tiveram suas residências alagadas no último domingo (8). Várias casas desmoronaram, e os moradores perderam todos os bens. Em um cenário desolador, muitos reclamam alegam que, antes da realização das obras de Macrodrenagem da Bacia do Ribeirão do Onça, na região Nordeste, realizadas pela Prefeitura de BH, as enchentes não aconteciam.

 

Adonias Alves de Souza falou com a reportagem no local onde antes era sua residência, na Rua Oscar Lobo Pereira. Depois da chuva, é impossível reconhecer o lugar como uma moradia. O que sobrou é um amontoado de entulho, móveis e utensílios domésticos inutilizados. Entre os escombros, é possível distinguir a tampa da caixa d’água e uma porta de metal retorcida.

 

“Meu imóvel era este quadrado aqui que você está vendo. Isso aqui é o que sobrou do meu fogão, aqui outras peças que sobraram do guarda-roupa. Foi uma total destruição”, conta Adonias.

 

Ele é um dos que afirma nunca ter passado por uma situação semelhante no Bairro Primeiro de Maio. E agradece a Deus por ter sobrevivido ao desmoronamento da casa.

“Coisa que eu nunca presenciei. Moro aqui tem 40 anos. Nunca vi uma coisa dessas. Tem muitas enchentes em vários pontos por aí, mas isso aqui eu nunca presenciei. Infelizmente, eu perdi tudo. Mas agradeço a Deus que a gente saiu com vida. Agradeço a Deus, porque se essa chuva cai… se esse negócio viesse de madrugada acho que a gente não se salvava não”, diz o morador.

 

A reportagem flagrou pessoas em situação semelhante, que perderam todos os seus bens. Alguns estavam dormindo na rua, sob a marquise de um prédio. 

 

Na Rua Acadêmico Coutinho, sobraram apenas duas paredes da casa de David Modesto. Em uma delas, a televisão enlameada afixada no suporte divide espaço com um fio ligado a um bocal de lâmpada. Na outra, duas bolsas também sujas de barro e um painel branco, vermelho e rosa com onde se lê a palavra ‘Love’.

A inundação destruiu várias casas, na Região Norte de BH(foto: Edésio Ferreira/EM/D. A. Press)
A inundação destruiu várias casas, na Região Norte de BH (foto: Edésio Ferreira/EM/D. A. Press)

David conta com o amor de parentes para não ter que dormir na rua, e também culpa as obras pelas enchentes: “A gente está dormindo na casa da filha da minha mulher, a Kelly. A chuva pegou a gente de surpresa. Antes dessa obra ali, não inundava aqui não. Foram fazer aquela obra do metrô ali, agora a água veio de uma vez. Isso nunca aconteceu aqui. Tem 40 anos que estou aqui e nunca aconteceu. É a primeira vez. Vamos ver se não vai acontecer de novo.”

 

Além da boa vontade de parentes e vizinhos, os desabrigados contam também, com a ajuda da PBH, que prometeu o pagamento de um auxílio moradia, no valor de R$ 500, como conta Adonias. Mas esse dinheiro só deve chegar às mãos dos moradores no próximo mês.

 

“Estou de favor, na casa da minha filha, em Santa Luzia. Não tenho outras pessoas. Tenho só ela. Esperamos que o poder público tome alguma decisão para a gente. Já teve um pessoal aqui, fez uma ficha com a gente, dando um auxílio emergencial de aluguel, de R$ 500. Mas esse dinheiro ainda vai cair na conta no mês de março. Então, ainda estou tendo que pedir minha filha, dividir tudo com ela, dormindo no chão, porque ela também está fazendo um favor.  A gente fica meio sem jeito, na casa dos outros nunca é igual à casa da gente”, desabafa.

Entretanto, alguns moradores reclamam que o valor oferecido pela Prefeitura é insuficiente para custear um aluguel digno. Com a casa destruída, David afirma que não é possível achar uma moradia para sua família nesse valor.

 

“Eles falaram que não tem nem como a gente morar aqui. Vamos ter que refazer tudo de novo. A casa toda. Estão falando em bolsa-aluguel. Bolsa aluguel para a gente não dá! Quinhentos reais?! Para uma casa que tem quatro pessoas! Onde que eu vou achar uma casa de R$ 500? Não tem nem condições.”

O que diz a PBH

Moradores do 1º de Maio culpam obras da PBH pelas enchentes(foto: Edésio Ferreira/EM/D. A. Press)
Moradores do 1º de Maio culpam obras da PBH pelas enchentes (foto: Edésio Ferreira/EM/D. A. Press)
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte, levando os relatos de moradores de que, antes das obras na região, as enchentes não aconteciam.

 

Segundo a assessoria da PBH, “as inundações ocorridas no bairro 1º de Maio não têm nenhuma relação com as obras da primeira etapa de otimização do sistema de Macrodrenagem da Bacia do Ribeirão do Onça, na região Nordeste”. Segundo o Executivo municipal, a causa dos alagamentos foi o “rompimento da rede de drenagem de interior de quarteirão no local”.

 

A Prefeitura afirmou, ainda, que removeu 33 pessoas no Bairro Primeiro de Maio, encaminhando-as para casas de familiares e que “as equipes vão avaliar cada caso e fazer o encaminhamento para o Programa Bolsa Moradia/ Auxílio Pecuniário, se necessário”.


Ainda de acordo com a PBH, até o momento, foram distribuídos 503 colchões, 167 cestas básicas, 390 cobertores e distribuídas 550 refeições para as pessoas atingidas pelas chuvas.

Veja a íntegra da nota enviada pela PBH ao EM

"A Prefeitura esclarece que as inundações ocorridas no bairro 1º de Maio não têm nenhuma relação com as obras da primeira etapa de otimização do sistema de Macrodrenagem da Bacia do Ribeirão do Onça, na região Nordeste. A inundação no local ocorreu por causa de rompimento da rede de drenagem de interior de quarteirão no local. A Prefeitura enviará uma equipe ao local para tomar as providências necessárias.

 


A obra da primeira etapa de otimização do sistema de Macrodrenagem da Bacia do Ribeirão do Onça, na região Nordeste, que está em andamento, irá contribuir na diminuição do risco de enchentes na avenida Cristiano Machado, próximo aos bairros São Gabriel e Primeiro de Maio. Será feita a implantação de canal paralelo à canalização existente do Ribeirão do Onça, iniciando nas proximidades do cruzamento da avenida Cristiano Machado com avenida Risoleta Neves até a divisa com a faixa de domínio da CBTU dentro da Estação São Gabriel, numa extensão de 286,96 metros.


Estão sendo investidos R$ 44,7 milhões, com recursos provenientes do Fundo Municipal de Saneamento e do financiamento junto ao governo federal.  A previsão de término dos trabalhos é no segundo semestre de 2021.


Com as chuvas do último fim de semana, a Prefeitura informa que removeu, até o momento, 30 pessoas nas proximidades do prédio que desabou no Cafezal/ Aglomerado da Serra; e 33 pessoas no bairro Primeiro de Maio. As famílias foram encaminhadas para a casa de parentes. As equipes vão avaliar cada caso e fazer o encaminhamento para o Programa Bolsa Moradia/ Auxílio Pecuniário, se necessário.


Ajuda humanitária

 

Até o momento, foram distribuídos 503 colchões, 167 cestas básicas, 390 cobertores e distribuídas 550 refeições para as pessoas atingidas pelas chuvas."

 


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