O acúmulo de chuvas e as previsões de pancadas ao fim de dias mais quentes já se espalham por 98% dos municípios mineiros e manterão o estado de Minas Gerais sob alerta de tempestades por todo o mês de fevereiro, segundo modelagens do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a avaliação de meteorologistas. São 268 municípios que já se encontram sob perigo de chuvas de até 100 milímetros (mm) em um dia e ventos fortes, enquanto outros 571 se enquadram na gravidade moderada, com metade do volume chuvoso e intensidade de ventos, totalizando 839 de 853 cidades mineiras em alerta meteorológico, segundo o Inmet.
Para se ter uma ideia, 102mm foi o volume da chuva sobre Belo Horizonte em 19 de janeiro de 2020, quando mais de 70% da Avenida Teresa Cristina acabou bloqueado devido aos estragos provocados pela cheia do Ribeirão Arrudas. Foram necessários três meses de intervenções e os esforços de limpeza e reparos emergenciais de vias destruídas pelas enxurradas, com o emprego de 2 mil funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para liberar a área.
Na capital mineira, já choveu, na média das regiões, 302mm só nos 14 primeiros dias do mês, o que equivale a 166% da média esperada para o mês (181,4mm), segundo a Defesa Civil de BH. A cidade está sob alerta de risco geológico (deslizamentos de encostas e desmoronamentos) pelo menos até sexta-feira (19/2), segundo a Defesa Civil. “Recomenda-se atenção no grau de saturação do solo e nos sinais construtivos”, informou o órgão.
“No decorrer da semana, a temperatura aumenta no estado e ocorrem essas chuvas típicas de verão, que são pancadas mais fortes. Esse cenário deve se agravar a partir de sexta-feira, sobretudo na Zona da Mata e no Leste de Minas Gerais. Um comportamento que tende a se repetir até o final do mês”, prevê o meteorologista professor Ruibram dos Reis, do Climatempo. “Nessa situação, os alagamentos em áreas urbanas são o que mais preocupa”, afirma o especialista.
Pela modelagem no mapa de previsão probabilística de precipitações do Inmet para Minas Gerais, uma mancha de chuvas vigorosas se abate sobre o Noroeste, Centro-Oeste e Sul ao Triângulo e Região Central e parte do Leste de Minas Gerais até março. Nessa área, as regiões deverão receber um volume mais intenso de chuvas, com essa concentração superando 60% acima da média dos últimos 10 anos, seguido da Grande BH e Zona da Mata, com acúmulo superior a 45% e até 60% do que é esperado. Por outro lado, o Norte de Minas e os vales do Jequitinhonha e Mucuri devem enfrentar seca mais intensa, acima de 40% abaixo do esperado na média dos últimos 10 anos.
Em outro modelo do Inmet, no mapa mineiro de precipitações acumuladas dos últimos 30 dias, fica claro como a concentração de umidade no solo já é intensa em várias regiões mineiras, sobretudo na capital, onde vigora o alerta de risco geológico por esse motivo. Observando o mapeamento, áreas como a Grande BH e a Região Central de Minas demonstram um forte acúmulo de chuvas, acima de 300 milímetros, no último mês. Outra zona acima de 250 milímetros abrange o Noroeste de Minas e a parte do Norte do Alto Paranaíba. Pequenas ilhas de forte acumulação pluviométrica também aparecem no extremo sul de Minas, na divisa com São Paulo, na parte norte do Leste de Minas e também na parte norte da Zona da Mata.
Impactos
Até o momento, segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec-MG), 71 municípios informaram danos por causa das chuvas do período 2020/2021 (que se inicia em outubro e vai até março), sendo que 13 pessoas morreram, nove se feriram, 473 ficaram desabrigados, 3.274 desalojados e 9.359 afetados de outras formas não listadas.
Após as últimas chuvas, que trouxeram prejuízos sobretudo à Grande BH, a Cedec-MG informou que está sempre de plantão, inclusive nos fins de semana. "Além do trabalho de assistência aos municípios por meio remoto (telefone/e-mail), a Defesa Civil foi a campo em Belo Horizonte, região metropolitana e em alguns municípios do interior afetados. A Cedec também tem realizado monitoramento 24 horas por dia da situação do estado para que, se necessário, as equipes estejam prontas para atuar in loco e, também, para o envio de materiais de ajuda humanitária, como colchões, kits de higiene e cestas básicas, por exemplo".
Perigo geológico e de descargas elétricas
Alto risco de chuvas intensas é apontado pelo Inmet em alerta válido para hoje nas regiões do Campos das Vertentes, Norte, Oeste, Sul/Sudoeste, Noroeste, Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Central Mineira. “Nesses locais, os riscos são de chuva entre 30mm e 60mm por hora ou 50mm e 100 mm por dia e ventos intensos de 60km/h a 100 km/h. Há riscos de corte de energia elétrica, queda de galhos, alagamentos e descargas elétricas”, informa o instituto.
Segundo a classificação, que também é partilhada pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), na faixa em “perigo” ou alerta “alto”, “a probabilidade de ocorrência do desastre é alta, assim como seu impacto potencial para a população''. Recomendam-se as ações previstas nos planos de contingência municipais, entre outras como: verificação in loco nas áreas de risco, acionamento dos órgãos locais de apoio, preparação de abrigos e rotas de fuga etc.
Para a população, o Inmet ainda recomenda medidas de segurança: “Em caso de rajadas de vento, não se abrigue debaixo de árvores, pois há risco de queda e descargas elétricas, e não estacionar veículos próximos a torres de transmissão e placas de propaganda. Se possível, em caso de tempestade, desligue aparelhos elétricos e quadro geral de energia”, diz texto do instituto.
Sob risco “moderado” de chuvas intensas, totalmente ou em parte, a Região Metropolitana de Belo Horizonte e também Zona da Mata, Campos das Vertentes, Norte, Oeste, Sul/Sudoeste, Noroeste, Vale do Mucuri, Triângulo, Alto Paranaíba, Central, Vale do Rio Doce e Vale do Rio Jequitinhonha. A probabilidade maior nessa área é de chuva entre 20mm e 30mm por hora ou até 50mm por dia e ventos intensos de 40km/h a 60 km/h. Nessas áreas, há “baixo risco de corte de energia elétrica, queda de galhos, alagamentos e descargas elétricas”.
Na classificação do Cemaden para alerta de risco de nível “moderado”, o conceito é de que “não se descarta a possibilidade do fenômeno alertado e, caso ocorra, espera-se impacto moderado para a população”. Recomendam-se ações previstas no plano de contingência, tais como o sobreaviso das equipes municipais.