A falta do carnaval é sentida por muitos. Há quem sinta mais saudade das músicas, dos bloquinhos ou, ainda, dos dias de festa. De tudo isso, é a falta de dinheiro para se sustentar a mais difícil de ser superada. Essa é a situação dos catadores de latinhas e recicláveis, que vivem da venda desses materiais, muitos deles coletados durante o período da folia.
Carina Pereira dos Santos tem 35 anos e há 28 está na Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare). Ela, os irmãos e a mãe sempre trabalharam como catadores de recicláveis e atualmente sobrevivem de doações de cestas básicas e do que arrecadam com os poucos quilos de material que conseguem catar.
“A dificuldade é grande. Minha mãe está com o carrinho vazio, ela tem 70 anos. Meus irmãos também estão tentando, mas os carrinhos sempre ficam vazios. Estamos pegando com Deus e na fé, vivendo da cesta básica da prefeitura e da ajuda dos que ainda têm coração e são solidários com a associação”, ela diz. E completa: “Somos vulneráveis, né?”.
Uma das fundadoras da Asmare, Maria das Graças Marça – mais conhecida como Dona Geralda – diz que a queda na arrecadação foi muito grande, já que os catadores faturam mais no Natal e no carnaval.
Com o comércio fechado e poucas celebrações, eles não conseguiram quase nada. “Para quem não tinha quase nada, ficou pior”, afirma Dona Geralda.
Mesmo com os prejuízos, ela diz ter ‘esperança para todos’ e recomenda que a prevenção à COVID-19 seja priorizada, para que a situação se normalize mais rapidamente.
Com o comércio fechado e poucas celebrações, eles não conseguiram quase nada. “Para quem não tinha quase nada, ficou pior”, afirma Dona Geralda.
Mesmo com os prejuízos, ela diz ter ‘esperança para todos’ e recomenda que a prevenção à COVID-19 seja priorizada, para que a situação se normalize mais rapidamente.
Diferença na renda
Em época de carnaval, a arrecadação de materiais recicláveis alcançava toneladas.
“Todos os anos, o carnaval é o momento em que a gente mais recolhe. Os caminhões vinham com três ou quatro toneladas e demorávamos de sete a 15 dias para limpar. Agora, está com 900 ou 1.000 quilos. Em dois ou três dias limpamos o caminhão todo”, conta Carina.
De acordo com a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), entre os dias 15, 16, 21 a 25, e 29 de fevereiro de 2020 foram arrecadadas 49,3 toneladas de materiais recicláveis somente em Belo Horizonte.
“Todos os anos, o carnaval é o momento em que a gente mais recolhe. Os caminhões vinham com três ou quatro toneladas e demorávamos de sete a 15 dias para limpar. Agora, está com 900 ou 1.000 quilos. Em dois ou três dias limpamos o caminhão todo”, conta Carina.
De acordo com a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), entre os dias 15, 16, 21 a 25, e 29 de fevereiro de 2020 foram arrecadadas 49,3 toneladas de materiais recicláveis somente em Belo Horizonte.
Desse montante, 29,7 toneladas eram de plástico, 11 toneladas de alumínio e 8,6 toneladas de papelão.
O carnaval sempre foi importante para os catadores, pois com a festa eles conseguiam sustentar a reciclagem por muito tempo.
A diferença, por isso, foi sentida, afirma Roberto Laureano, presidente da Ancat: “O faturamento triplica ,e isso contribui para o resto do ano. Pode garantir pelo menos os próximos seis meses”.
A diferença, por isso, foi sentida, afirma Roberto Laureano, presidente da Ancat: “O faturamento triplica ,e isso contribui para o resto do ano. Pode garantir pelo menos os próximos seis meses”.
Alguns catadores não são ligados a nenhuma associação e trabalham sozinhos, como Valdete Luiz Ferreira, de 38. Ele diz que cada dia está mais difícil, já que a quantidade de catadores aumentou e a demanda diminuiu bastante.
No carnaval, diz, consegue arrecadar, em média, R$ 100 por dia ficando somente no Centro de BH. Atualmente, sem carnaval, fatura de R$ 10 a R$ 20, trabalhando dia e noite, e na cidade toda.
Sem auxílio financeiro, ele consegue alimentos de doações. Às vezes, conta com a solidariedade de bares, que garantem o marmitex.
O material que ele arrecada, é vendido para ferros-velhos no Centro de BH.
No carnaval, diz, consegue arrecadar, em média, R$ 100 por dia ficando somente no Centro de BH. Atualmente, sem carnaval, fatura de R$ 10 a R$ 20, trabalhando dia e noite, e na cidade toda.
Sem auxílio financeiro, ele consegue alimentos de doações. Às vezes, conta com a solidariedade de bares, que garantem o marmitex.
O material que ele arrecada, é vendido para ferros-velhos no Centro de BH.
Um desses locais é o depósito de recicláveis que Eduardo Pereira gerencia. Segundo ele, há cerca de cinco anos começou a receber latinhas.
Costuma funcionar da sexta-feira de carnaval à quarta-feira de cinzas, período em que há muito movimento em seu negócio. Mas, neste ano, não está valendo muito a pena ficar aberto: “Normalmente, dava umas três ou quatro toneladas de material. Neste ano, o depósito também está aberto desde sexta-feira e consegui só 200kg”.
Reajuste de preços
Em anos anteriores, o quilo de alumínio era comprado por R$ 3,30, enquanto as garrafas pets saíam a R$ 0,80. Agora, com a pandemia de COVID-19, os recicláveis estão mais escassos, e o preço de compra foi reajustado.
São R$ 5 para latinhas e R$ 1,50 para garrafas.
Como há pouco material para os catadores, o faturamento não aumenta, apesar da elevação do valor.
São R$ 5 para latinhas e R$ 1,50 para garrafas.
Como há pouco material para os catadores, o faturamento não aumenta, apesar da elevação do valor.
Eduardo lamenta a queda no movimento: “Em torno de 20 pessoas, por dia, entram na loja atualmente. Em outros carnavais, havia de 80 a 100 pessoas para vender material diariamente. No ano passado, foram mais de 300, havia fila o tempo todo”.
A Ancat informou que está na terceira fase de uma campanha de solidariedade aos catadores, na qual são arrecadadas cestas básicas e doações.
Várias empresas contribuíram, mas, especificamente no carnaval, a Ambev entrou em contato com a associação para fazer uma doação financeira a 2.800 catadores que trabalharam cadastrados no carnaval do ano passado.
Várias empresas contribuíram, mas, especificamente no carnaval, a Ambev entrou em contato com a associação para fazer uma doação financeira a 2.800 catadores que trabalharam cadastrados no carnaval do ano passado.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina