Jornal Estado de Minas

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COVID-19: sem leitos, cidades de Minas enfrentam explosão de casos

A alta de casos de coronavírus e a falta de leitos no Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro assustam cidades e mobilizam autoridades. Em Coromandel, a prefeitura precisou implantar barreiras sanitárias e toque de recolher para conter o avanço da doença. Enquanto isso, Uberlândia registrou a maior quantidade de mortes por COVID-19 em apenas um dia.





A situação é tão grave que fez o Governo do Estado enviar uma força-tarefa a essas cidades nesta terça-feira (16/02), com profissionais da Secretaria de Estado de Saúde, Hospital Eduardo de Menezes, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros.

Também sem leitos de COVID-19, Patrocínio fechou o comércio e vetou a venda de bebidas alcoólicas. Em Uberaba, nova variante do vírus foi detectada.

Em Monte Carmelo, onde faltam cilindros de oxigênio, o prefeito Paulo Rocha (PSD) disse, em entrevista ao Estado de Minas, que pessoas que foram a cidades próximas podem ter carregado a COVID-19 e pressionado o sistema de saúde.

Estado de calamidade pública

O decreto publicado pela Prefeitura de Coromandel que impõe o estado de calamidade pública começou a valer nesta terça-feira (16/02). Entre as medidas, a prefeitura anunciou a proibição da circulação de pessoas na cidade após as 20h.





Também devem ser instaladas oito barreiras sanitárias com a finalidade de orientar e fiscalizar a população sobre as medidas de prevenção e contenção ao COVID-19. Ninguém poderá entrar ou sair do município a não ser por motivo justificado. A restrição é válida até 23 de fevereiro.

A cidade soma 1.063 casos positivos para a infecção que já matou 24 pessoas por lá. A Secretaria de Saúde de Coromandel ainda investiga se nove mortes foram causadas pelo novo coronavírus.

De acordo com a prefeitura, não são disponibilizados leitos de UTI e respiradores nas cidades da região suficientes para atendimento à demanda atual de pacientes. Todos os 26 leitos de enfermaria e 7 de UTI estão ocupados.





Durante a visita das autoridades nesta terça-feira (16/02), o secretário de Saúde de Minas Gerais, o médico Carlos Eduardo Amaral, esteve na Santa Casa de Misericórdia local. “O nosso objetivo é ajudar no que for preciso, tanto na organização da regulação, do fluxo de pacientes, quanto na estruturação da assistência”, explicou o secretário.

Recorde de mortes

Logo depois, a equipe também foi a Uberlândia, sede da macrorregião Triângulo Norte, “para avaliar as medidas necessárias de isolamento social, ampliação da capacidade assistencial do número de leitos, e o que se fizer necessário”, observa Amaral. No município, o secretário de Estado de Saúde visitou o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia.

Na segunda-feira (15/02), Uberlândia registrou recorde de mortes por COVID-19 em 24 horas. Foram 14 vidas perdidas pela doença e mesmo diante desse cenário, a ocupação de leitos de UTI no município e em toda a Região do Triângulo Mineiro é alta, sempre beirando 100%.





Com o pico de mortes em apenas um dia, a cidade chegou a 897 óbitos em decorrência do coronavírus. Antes disso, o pior dia havia sido em 1ª de setembro de 2019, quando foram confirmadas 11 mortes pela doença.

Ontem, a Câmara Municipal de Uberlândia precisou ser fechada para sanitização extra depois que quatro vereadores da atual legislatura testaram positivo para COVID-19.

Uma assessora parlamentar da casa morreu durante o fim de semana e uma das legisladoras está internada por complicações da doença. O expediente deve retornar hoje ao meio-dia.

Medidas de enfrentamento

Para reforçar as ações de enfrentamento à COVID-19 nessas cidades, o Governo de Minas enviou hoje profissionais da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), médico infectologista e paliativista do Hospital Eduardo de Menezes da Rede Fhemig e equipe de saúde da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).




 
Médicos da Polícia Militar reforçam enfrentamento à COVID-19 (foto: PMMG/Divulgação)
 
Com a ida da equipe técnica, a SES-MG pretende também avaliar as medidas de biossegurança e manejo clínico dos pacientes. “Esperamos poder ajudar as equipes de saúde municipal e regional na melhoria dos processos de contenção de crise local”, relata a médica infectologista do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado de Minas Gerais (Cievs Minas), Tânia Marcial.

Uma equipe de apoio assistencial e de planejamento da Polícia Militar, com um médico intensivista e uma infectologista, dois enfermeiros, dois fisioterapeutas e um técnico de enfermagem, chegou a Coromandel hoje.

Eles devem permanecer na cidade por 48 horas, quando serão substituídos por outra equipe. A expectativa é de que a troca neste intervalo de tempo seguirá até a estabilização da crise.





Além do apoio assistencial, a Polícia Militar também irá reforçar a fiscalização na cidade devido à restrição provisória da circulação de pessoas.

"A Polícia Militar atuará, além da frente assistencial e de apoio técnico à gestão da crise na saúde local, em ações de preservação da ordem e garantia da lei, especialmente após a prefeitura decretar ‘quarentena’, apoiando o município com nossas guarnições e efetivo, orientando a população sobre a grave situação, auxiliando fiscalizações e, eventualmente, advertindo aqueles que insistirem em descumprir as medidas sanitárias”, informa o coronel Eugênio Valadares, diretor de Saúde.

Falta oxigênio

O prefeito de Monte Carmelo, Paulo Rocha (PSD) fez no domingo um pronunciamento nas redes sociais em que aborda a falta de cilindros vazios de oxigênio para atender pacientes com o novo coronavírus. Em entrevista ao Estado de Minas, ele afirmou que pessoas que foram a cidades próximas podem ter carregado a COVID-19 e pressionado o sistema de saúde.





“Estamos muito próximos de Caldas Novas, em Goiás, cidade que recebe muitas pessoas da região, então no fim do ano muitas pessoas foram para Caldas Novas, viajaram para outros lugares, e nós estávamos alertando. E tem essa possibilidade de ter carregado a doença sem saber. Até 27 de janeiro, havia 18 mortes na cidade. Hoje, mais que o dobro. Os números de um mês equivalem a um ano, basicamente”, afirmou.

Esgotamento de leitos

Sem mais vagas nos leitos de UTI e enfermaria para casos de COVID-19, a Prefeitura de Patrocínio, no Triângulo Mineiro, também decretou novas normas restritivas ao comércio na cidade pelo período de 10 dias para tentar conter o avanço do coronavírus na região.

Ainda estão proibidos eventos esportivos e a venda de bebidas alcóolicas. Até o dia 22 de fevereiro, segundo o novo decreto, está permitido no município apenas as aberturas de postos de combustíveis, supermercados, açougues e padarias, mas respeitando todas medidas sanitárias e limite máximo de pessoas, dependendo do tamanho do local.





Transferência de pacientes

No domingo, cinco pacientes das cidades de Coromandel e quatro de Monte Carmelo – onde o prefeito fez um apelo por oxigênio – foram transferidos para Divinópolis, na Região Centro-Oeste do estado.

Foram mobilizados médicos e enfermeiros para a assistência durante o transporte aeromédico, realizado em parceria com o Batalhão de Operações Aéreas do Corpo de Bombeiros.

A SES-MG informou que as Centrais Regionais de Regulação Assistencial acompanham ininterruptamente as solicitações de vagas, avaliando as condições clínicas dos pacientes para a transferência.

“Não mediremos esforços para que todo cidadão mineiro tenha atendimento. Mas peço à população que faça sua parte. A pandemia não acabou. Portanto, as medidas preventivas devem ser seguidas. Fique em casa sempre que possível”, afirma Carlos Eduardo Amaral.





Nova cepa em Uberaba

A Fundação Ezequiel Dias (Funed), por meio de seu Laboratório Central (Lacen), identificou uma nova variante do coronavírus, conhecida como P1, em seis pacientes de Manaus que estavam internados em Uberaba, no Triângulo Mineiro, em janeiro. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (15/02) pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG).


A P1 é derivada da B.1.1.28, uma das mais predominantes no país. Ela possui uma composição única de mutações, que ocorrem principalmente na proteína spike, responsável pela entrada do vírus nas células humanas.

De acordo com a SES-MG, não é possível afirmar que há circulação de novas variantes no estado. Desde o dia 21 de janeiro, o Laboratório Central da Funed tem feito a vigilância genômica para identificar uma possível circulação de variantes da COVID-19 em Minas.

No dia 24 de janeiro, 18 pacientes de Manaus foram transferidos para Uberaba por causa do colapso no sistema de saúde que a capital do Amazonas enfrentou. Oito deles morreram e 10 receberam alta e voltaram para a cidade natal.

Todos passaram por exames para identificar o tipo viral da COVID-19 no dia seguinte em que chegaram em Minas, conforme orientação do Ministério da Saúde.

(Colaboraram Vinicius Lemos, Matheus Adler, Renato Manfrim e Matheus Muratori)






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