Jornal Estado de Minas

FRATERNIDADE ECUMÊNICA

Presidente da CNBB, dom Walmor prega diálogo entre religiões

Uma tradição milenar da Igreja Católica foi alterada nesta quarta-feira (17/02), por determinação do Vaticano, para evitar a propagação do novo coronavírus. Nas missas da quarta-feira de cinzas e do primeiro dia da quaresma, os padres substituíram o sinal da cruz marcado na testa dos fiéis por um punhado de cinzas colocado sobre a cabeça, sem contato físico.



Na capital, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, que preside a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fez a abertura da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021, com união de igrejas cristãs, e que traz como tema: Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor", e o lema: “Cristo é a nossa paz. Do que era dividido fez uma unidade”,  (Ef 2,14a). 

Na missa celebrada às 17h na Catedral Cristo Rei, em construção no Bairro Juliana, na Região Norte de BH, dom Walmor destacou a mensagem  enviada pelo papa Francisco à CNBB e que enfoca a pandemia, os profissionais de saúde e o consumismo. 

Escreveu o sumo pontífice: "Com início da quaresma, somos convidados a um tempo de intensa reflexão e revisão de nossas vidas. O Senhor Jesus, que nos convida a caminhar com Ele pelo deserto rumo à vitória pascal sobre o pecado e a morte, faz-se peregrino conosco também nestes tempos de pandemia. Ele nos convoca e convida a orar pelos que morreram, a bendizer pelo serviço abnegado de tantos profissionais da saúde e a estimular a solidariedade entre as pessoas de boa vontade. Convoca-nos a cuidarmos de nós mesmos, de nossa saúde, e a nos preocuparmos uns pelos outros, como nos ensina na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Precisamos vencer a pandemia e nós o faremos à medida em que formos capazes de superar as divisões e nos unimos em torno da vida. Como indiquei na recente encíclica Fratelli Tutti, 'passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta'. Para que isso não ocorra, a quaresma nos é de grande auxílio, pois nos chama à conversão através da oração, do jejum e da esmola". 




ORIENTAÇÃO 

Lembrando que a Campanha da Fraternidade (CF) da CNBB é realizada há quase seis décadas, e, desde 2000, a cada cinco anos, como agora, tem à frente o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) para a CF Ecumênica, dom Walmor explicou que o objetivo do tema deste ano, o diálogo, mostra ser preciso superar hostilidades, atitudes raivosas e confrontos violentos para se buscar a fraternidade social. Ele disse que é necessário respeitar quem pensa diferente, "inclusive aqueles com os quais não concordamos". 

Segundo dom Walmor, o texto-base deste ano foi elaborado pelo Conic. "Ele pode causar estranhamento em algumas pessoas, principalmente nos indivíduos que não conseguem compreender o real objetivo da Campanha da Fraternidade Ecumênica. A CNBB tem justamente sublinhado o propósito que é convidar cada pessoa a investir no diálogo, na proximidade, lembrando sempre que Cristo é nossa paz. A Igreja, com seu testenunho, deve ensinar que não podemos julgar, discriminar, apontar dedos. Sem abrir mão da verdade de nossa fé, somos convocados a proteger a vida de cada pessoa, indistintamente, da concepção até a morte". 

FIÉIS

Na foto, Dulce Maria de Souza (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS )
"Na testa ou na cabeça, o que vale mesmo é a fé em Deus",  disse Dulce Maria de Souza, de 75, anos, moradora do Bairro Guarani, na Região Norte de Belo Horizonte. Ressaltando que as cinzas representam também "a remissão de nossos pecados", ela se declarou muito satisfeita em participar da celebração na Catedral Cristo Rei: "Moro aqui perto e venho sempre. Gosto de ter Jesus no coração". Preocupada com o tempos de pandemia, que impõem muitas mudanças, ela espera que a quaresma traga o aumento do número de vacinas para o Brasil. 




COLETA

O arcebispo disse ainda que as pessoas que falam em boicotar a coleta da solidariedade feita no domingo de Ramos estão, na verdade, tirando dinheiro dos pobres, pois os recursos são para custear obras sociais da Igreja.


Integram o Conic: Aliança de Batistas do Brasil, Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida e Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia.


VEJA A ÍNTEGRA DA CARTA ENVIADA À CNBB PELO PAPA FRANCISCO

 
Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Com o início da Quaresma, somos convidados a um tempo de intensa reflexão e revisão de nossas vidas. O Senhor Jesus, que nos convida a caminhar com Ele pelo deserto rumo à vitória pascal sobre o pecado e a morte, faz-se peregrino conosco também nestes tempos de pandemia. Ele nos convoca e convida a orar pelos que morreram, a bendizer pelo serviço abnegado de tantos profissionais da saúde e a estimular a solidariedade entre as pessoas de boa vontade. Convoca-nos a cuidarmos de nós mesmos, de nossa saúde, e a nos preocuparmos uns pelos outros, como nos ensina na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Precisamos vencer a pandemia e nós o faremos à medida em que formos capazes de superar as divisões e nos unirmos em torno da vida. Como indiquei na recente Encíclica Fratelli tutti, «passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta» (n. 35). Para que isso não ocorra, a Quaresma nos é de grande auxílio, pois nos chama à conversão através da oração, do jejum e da esmola.





Como é tradição há várias décadas, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade, como um auxílio concreto para a vivência deste tempo de preparação para a Páscoa. Neste ano de 2021, com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, os fiéis são convidados a «sentar-se a escutar o outro» e, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes «um mundo surdo». De fato, quando nos dispomos ao diálogo, estabelecemos «um paradigma de atitude receptiva, de quem supera o narcisismo e acolhe o outro» (Ibidem, n. 48). E, na base desta renovada cultura do diálogo está Jesus que, como ensina o lema da Campanha deste ano, «é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade» (Ef 2,14).

Por outro lado, ao promover o diálogo como compromisso de amor, a Campanha da Fraternidade lembra que são os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do diálogo ecumênico. Certos de que «devemos sempre lembrar-nos de que somos peregrinos, e peregrinamos juntos», no diálogo ecumênico podemos verdadeiramente «abrir o coração ao companheiro de estrada sem medos nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus» (Exort. Apost. Evangelii gaudium, n. 244). É, pois, motivo de esperança, o fato de que este ano, pela quinta vez, a Campanha da Fraternidade seja realizada com as Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).

Desse modo, os cristãos brasileiros, na fidelidade ao único Senhor Jesus que nos deixou o mandamento de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo 13,34) e partindo «do reconhecimento do valor de cada pessoa humana como criatura chamada a ser filho ou filha de Deus, oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na sociedade» (Carta Enc. Fratelli tutti, n. 271). A fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e os traduzir em ações em favor da vida, de modo especial, a vida dos mais vulneráveis. Desejando a graça de uma frutuosa Campanha da Fraternidade Ecumênica, envio a todos e cada um a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.

Roma, São João de Latrão, 17 de fevereiro de 2021.

 




audima