O primeiro dia do novo decreto da prefeitura de Uberlândia, que restringiu ainda mais as atividades comerciais locais, foi marcado por críticas de empresários e entidades que representam comércio e indústria locais. O município segue a fiscalização para respeito ao decreto publicado no último dia 18 e que incidiu principalmente sobre o varejo.
Dono de lojas de calçados femininos, o empresário Renato Arrais afirmou que o decreto é incoerente com os posicionamentos anteriores da própria secretaria municipal de Saúde, e considerou esta a pior das medidas tomadas desde o início da pandemia de COVID-19. “Há 15 dias, o Dr. Gladstone (Rodrigues, secretário de Saúde) disse que o problema não é o comércio, mas aí fechou o comércio. Aqui não dá aglomeração, atendo 15 ou 20 pessoas por dia, quando dá mais de três ou quatro clientes a gente segura”, disse.
Ainda segundo Arrais, o momento para o fechamento é ainda mais complicado pela falta de apoio governamental, como houve em 2020. Ele disse que vai ter que demitir pelo menos dois funcionários e dar férias a outras três. “O plano é contar com entendimento de fornecedores e vender por internet”.
Da mesma forma, comerciantes de bebidas alcoólicas entram na terceira semana de restrição de atividades. Eles não podem funcionar no fim de semana. Diorge Koyama contou à reportagem que acumula prejuízo de R$ 60 mil nos últimos dias. “Como tenho o Cnae (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) de distribuidor de bebidas, vou isolar as funções de bar e a cozinha não vai funcionar no meu estabelecimento. Estou amargando prejuízos, mas em cima disso deixo de pagar imposto, na ordem de 5%. Os impostos de janeiro ainda não consegui pagar e depois vou dividir em até oito vezes. O município também perde”, explicou.
Entidades
Tanto a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) local quanto a Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub) emitiram notas contestando a decisão do poder público de fechamento das atividades comerciais consideradas não essenciais.
A Aciub informou que 'mesmo tendo convicção de que o fechamento do comércio não se mostrou eficaz para a redução dos índices de contaminação em nenhum lugar do mundo', vai orientar associados a cumprir as determinações. A entidade lamentou que a situação da município tenha chegado a um 'cenário extremamente delicado, em função da sobrecarga do sistema de saúde, público e privado' e destacou que 'as autoridades considerem todas as possibilidades, como aumento do número de leitos e o acesso ao tratamento precoce, para quem deseja e acredita na orientação de especialistas favoráveis a esta medida'.
A CDL foi mais incisiva e disse por meio de comunicado que 'o poder público imputou a culpa do aumento dos casos da COVID ao comércio e serviços, apesar de já ter sido comprovado que as atividades econômicas, cumprindo todas as normas de higiene e saúde, não têm responsabilidade pela propagação do vírus. E o pior, com a rígida restrição das atividades, as pessoas têm um comportamento de feriado, saem de casa e se ajuntam socialmente e a deliberação se torna novamente ineficaz”.
A entidade ainda apontou que a prefeitura 'tardou em tomar a atitude de fiscalização e repressão às aglomerações e às festas clandestinas e não disponibilizou o atendimento preventivo nas UAIs'.