Caso mantenha o atual ritmo de vacinação, o Brasil deve somar mais 200,9 mil vítimas ao total de mortos pela COVID-19. Neste mesmo cenário, também é provável que a pandemia se arraste por mais dois anos. A conclusão é de estudo conduzido por duas universidades mineiras: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ).
Assinada por pesquisadores do pós-graduação em Modelagem Computacional e Ciência da Computação das duas instituições, a pesquisa constatou que a velocidade da imunização é uma variável com peso muito superior ao da taxa de eficácia das vacinas no combate ao novo coronavírus.
Na prática, isso significa que o governo federal pode optar por quaisquer dos produtos atualmente aprovados e disponíveis no mercado sem impactar de forma expressiva o quadro pandêmico. Por outro lado, se aumentar o índice de vacinação para ao menos um milhão de pessoas por dia, pode poupar mais de 170 mil vidas e alcançar o controle da pandemia até fevereiro de 2022.
Projeções
O cientista da computação Rafael Sachetto Oliveira explica que a equipe fez projeções com base na meta estipulada pelo Plano Nacional de Imunização (PNI), de proteger 109,5 milhões de brasileiros (50% da população) até o fim do ano. Os cálculos foram feitos por meio de um modelo computacional com três parâmetros: velocidade com que as pessoas são protegidas, a eficiência da vacina e o tempo entre a vacina e a proteção.
“Fizemos várias simulações com taxas de eficácia vacinal que vão de 50% a 90%, e índices de imunização entre 100 mil e 2 milhões de pessoas por dia. Em todas as hipóteses, a taxa de eficácia da vacina se mostrou pouco relevante nos cálculos. A variável mais significativa foi mesmo a agilidade de atendimento do público”, destacou o pesquisador.
De acordo com o estudo, se nenhum esquema de vacinação fosse adotado, nos próximos 365 dias, o país somaria 276.614 doentes simultâneos e 540.674 óbitos. No ritmo atual da campanha, que segue com cerca de 180 mil administrações diárias, o cenário é semelhante: 101.837 diagnósticos positivos e 477.543 mortes, isto é: 63.131 vidas poupadas. Neste passo, o Ministério da Saúde levaria mais de dois anos para controlar a pandemia.
O PNI prevê que a campanha alcançará todos os todos os públicos previstos até o fim do ano, o que implica a aceleração do ritmo vacinal para 300 mil pessoas ao dia. As projeções mostram que o progresso ainda é insuficiente já que, em 365 dias, as estatísticas acumulariam 47.924 infectados e 447.883 mortes (92.791 óbitos a menos do que sem vacina), o que indica controle parcial da epidemia.
Salto real
Conforme os estudiosos, a situação só melhora a partir da imunização diária de um milhão de pessoas. Neste contexto, a soma de mortos seria de 368.025 (redução de 172.649 óbitos) e 9.998 casos ativos. O controle da pandemia seria atingido em 240 dias.
A melhor perspectiva, no entanto, é da vacinação diária de 2 milhões de habitantes. Nesta hipótese, a virose também seria liquidada em 240 dias. Porém, com saldo total de 349.564 de vítimas - 191.110 vidas seriam poupadas.
“Vale lembrar que o aumento da velocidade da campanha de imunização traz muitos outros benefícios, entre eles a menor circulação do vírus, condição que evita o surgimento das temidas variantes”, ressalta Rafael Sachetto.
O cientista da computação pondera que as simulações do estudo podem ser afetadas por outros fatores, como maior ou menor adesão ao isolamento social, uso de máscara, além do endurecimento ou afrouxamento de políticas públicas.
O fundador e primeiro presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto disse, na última quinta-feira (22/2), que o Programa Nacional de Imunizações tem estrutura suficiente para adminsitrar até 3,04 milhões de vacinas por dia, o que equivale a 60 milhões de vacinados por mês.
"A nossa experiência com a vacina da gripe mostra que temos capacidade de imunizar rapidamente. No ano passado, em 2020, vacinamos 80 milhões em três meses. Temos condições de fazer. O que falta? Faltam vacinas", afirmou Neto em entrevista à BBC Brasil.