Desde o ano passado, 251.498 brasileiros, entre eles os que têm suas histórias contadas nesta página, perderam a vida em consequência da COVID-19, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde.
''A primeira pergunta que fiz foi como estava Cláudia''
Marcus Vinicius Polignano, 64 anos, médico, professor de Medicina da UFMG, perdeu a esposa, mas também se infectou e só soube da morte após deixar a UTI
“Apesar de manter todos os cuidados recomendados, eu e minha esposa, Cláudia Maria Costa Polignano, de 59 anos, pegamos a COVID-19. No início de novembro, ela começou com sintomas leves, com uma tosse seca persistente, sem falta de ar, mas verifiquei pelo oxímetro que o nível de oxigenação dela era de 86, muito abaixo do recomendado. Decidimos imediatamente procurar o pronto-atendimento e ficamos os dois internados. Inicialmente, fui para um leito comum, e Cláudia já tinha indicação de UTI. Estávamos evoluindo bem, mas por volta do nono dia o quadro se agravou e tive também que ir para a UTI. Fomos intubados e passamos a ter um suporte básico para sobrevida, esperando a reação do organismo, uma vez que não existiam outras possibilidades. Fui traqueostomizado, sedado, tinha sondas por todos os lados, tive insuficiência renal aguda, e por vezes os médicos informaram aos meus filhos que minhas chances de sobrevida eram muito pequenas. Passei 30 dias na UTI, e disso não consigo me lembrar. Acordei e me recordo de quando já estava num leito hospitalar, com sonda nasogástrica. Não conseguia me movimentar na cama e nem sequer podia me sentar, pois não conseguia manter o peso do corpo. A primeira pergunta que fiz quando fiquei consciente foi como estava Cláudia. Aí tomei conhecimento que ela não tinha resistido. Hoje, após dois meses de reabilitação, estou recuperando os movimentos de braços e pernas, andando e aprendendo, assim como meus filhos, a conviver com a perda emocional.”
‘Meu amado pai não resistiu, mas a luta tinha de continuar’
Sandra Zannini Stehling, de 43 anos, recepcionista, perdeu o pai, de 84 anos. A mãe se recuperou, mas teve complicações e sequelas pela COVID-19
“Em meados de fevereiro do ano passado, logo após o carnaval, a notícia de que um novo vírus, ainda pouco conhecido, mas com alto potencial de contágio e complicações severas, tinha chegado ao Brasil me deixou assustada. Mas confesso ter acreditado na falsa sensação de que tomando cuidados e seguindo as orientações, eu e minha família estaríamos protegidas e que logo a vida voltaria ao normal. Como estava enganada! Os meses foram passando e o vírus se alastrando, até que meu pai, um senhor de 84 anos cheio de saúde, ativo, independente, começou a apresentar os sintomas. Fez o teste e, quando o resultado saiu – três dias depois – ele estava sedado e intubado em uma UTI, com grande parte do pulmão já comprometido. Era uma luta a cada dia, e, em meio a esse turbilhão, outra notícia caiu como uma bomba na família: minha mãe, de 83, com a saúde frágil, cardíaca e hipertensa, começou a ter sintomas e logo veio o diagnóstico: COVID-19. A sensação é a de que estávamos vivendo um pesadelo. Era altíssimo o risco de perdermos nossa base e referências de vida. Meu amado pai não resistiu. Em 7 de agosto, deu seu último suspiro. Ainda tive o privilégio de terem me permitido me despedir do grande homem, grande pai, grande ser humano que ele era. Mas nossa luta tinha que continuar, pela minha amada mãe, que resistia bravamente e não sabia que seu companheiro de 60 anos de vida tinha partido. Os dias se passaram, ela foi se recuperando, se fortalecendo e temos a alegria de vê-la curada – mas não sem sequelas. Hoje, além dos problemas de saúde que ela já tinha, desenvolveu uma lesão no pulmão causada pelo vírus.”
‘Fica um vazio, a sensação de que foi tudo um pesadelo’
Cintia Calu, 36 anos, psicóloga, perdeu o pai para a COVID-19 e se queixa de que, sem a oportunidade de se despedir, o sentimento é de que um dia ele vai voltar
“Tudo começou em 5 de julho, quando meu pai apresentou sintomas de falta de ar. Ele era asmático e estava com crise respiratória. Eu o levei ao hospital e ele ficou internado, porque a saturação (de oxigênio) estava oscilando. Porém, quando os exames de sangue apresentaram resultados normais, ele foi liberado para ir para casa, mas já com o pedido para fazer o teste de coronavírus. Deu positivo. Foi um susto, mas como já havia passado quase uma semana da primeira crise, estávamos confiantes de que já estava terminando. Só que, no dia 12, um domingo, ele começou a sentir um cansaço muito forte e retornamos ao hospital. Foi internado imediatamente. No dia 17, foi levado para o CTI. Foi a última vez em que o vi com vida, por uma chamada de vídeo em que ele parecia muito cansado. Depois foi uma luta, uma angústia terrível, porque tínhamos notícias só uma vez por dia, e nunca dava para saber a real situação. Em 5 de agosto, pela primeira vez o médico disse que ele não estava bem e que devíamos nos preparar para a possibilidade de óbito. Aquilo doeu muito. No dia seguinte, pela manhã, a notícia era de que ele tinha piorado muito. Às 15h, a psicóloga ligou pedindo que comparecêssemos ao hospital levando os documentos do meu pai. Foi uma mistura de sentimentos. Quando pensávamos em nós, doía muito, queríamos que fosse mentira, mas quando pensávamos no meu pai, víamos que foi um descanso para ele. Perdê-lo foi muito difícil. Ainda é. Ele era um homem maravilhoso, que vivia para as pessoas e se desdobrava para todo mundo. Fica sempre um vazio, porque não foi permitido nem o velório. Ficou uma coluna aberta, uma incógnita. A sensação é de que tudo não passou de um pesadelo e que a qualquer momento ele vai voltar.”
‘O quadro foi oscilando. Em uma das pioras, ele não voltou’
Cecília de Araújo Ricardo, 29 anos, pedagoga, perdeu um amigo da família que era considerado um tio, a quem não pode sequer visitar no hospital
“Um grande amigo da família há cerca de 40 anos se foi em julho do ano passado, vítima da COVID-19. Era como um tio, era assim que o chamava. Não o encontrava desde o início da pandemia, pois nos isolamos. A última vez em que o vi feliz, como sempre estava, foi no aniversário de um dos meus irmãos, no início de março. Durante a internação, em razão dos protocolos de distanciamento, também não pude visitá-lo no hospital. Ele se infectou em uma visita ao médico para examinar dores nas costas. Ele era uma pessoa muito saudável e a princípio estava se sentindo bem, mas o quadro foi se agravando aos poucos, e depois oscilando entre melhoras e pioras. Em uma dessas pioras, ele não voltou mais. Foi um choque. Não soube lidar com isso. E também não pude me despedir, por causa de tanta doença e desse vírus maldito. Ele deixou uma esposa, eram somente os dois em casa. Ela sofreu e ainda sofre muito também. Ficam a saudade, e a certeza de que devemos dar mais valor às pessoas e dizer mais vezes ‘eu te amo’.”
‘Julho foi tenebroso. Perdi mãe e pai em quinze dias’
Thiago Silame, cientista político, professor universitário, perdeu a mãe, também adoeceu de COVID-19 e só soube da morte do pai depois de deixar a UTI
“Logo no fim de 2019, soube dos primeiros casos, na China. Em 18 de março de 2020, as aulas foram suspensas, e já era o início da disseminação. O sentimento era de que enfrentaríamos algo muito grave. Para mim, o mês de julho foi tenebroso. Perdi, em um espaço de 15 dias, minha mãe e meu pai. Ela teve um AVC isquêmico em casa, não sabemos se teve a ver com a COVID-19. Foi internada, mas não resistiu. E, em meio à crise, meu pai começou a apresentar sinais gastrointestinais. Fomos a uma UPA, onde ele permaneceu por muito tempo, justo em um momento de aumento acelerado do número de casos no Brasil. Após a missa de sétimo dia de minha mãe, meu pai já apresentava sinais gripais, febre, dor no corpo. No sábado, o encontrei desmaiado no banheiro e o levei direto ao hospital. Foi internado ainda lúcido, consciente, mas foi piorando. Três dias depois, foi intubado, e com uma semana da internação, faleceu. Tinha comorbidades, foi fumante por muitos anos... Ele faleceu na madrugada de terça-feira, e na noite anterior de, segunda, eu também fui internado. Fiquei 15 dias, entrei em oxigenoterapia, uma situação limítrofe. Só soube do falecimento depois da alta, por recomendação médica.”
‘Faleceu sozinho, sem ter por perto a mim e nossos filhos’
Neyde Aparecida Pereira dos Santos, 51 anos, auxiliar administrativo, perdeu o marido, um caminhoneiro de 55, com quem teve dois filhos
“Quando surgiram as primeiras notícias, não tínhamos muito conhecimento do que seria uma pandemia. Hoje, vejo de uma forma bem mais complexa. Uma coisa assustadora, que consome de forma rápida. Em 20 de novembro, meu esposo, Giovanni Febromio da Silva, de 55 anos, caminhoneiro, sentiu febre alta. Procurei a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Norte, aqui em Betim (Grande BH). Achei que foram negligentes, pois não fizeram nem um raio-X. Só passaram uns remédios e o mandaram ir para casa. No dia 25, quando vi que ele não melhorava, levei de volta à UPA. Chegando lá, já o levaram para a emergência. Estava com saturação em 50% e já foi logo intubado. Não tivemos mais acesso a ele, a não ser por notícias dos próprios médicos, que todos os dias relatavam a situação do paciente. Ele faleceu em 2 de dezembro, às 22h48. Sozinho, sem a chance de ter por perto a mim e nossos filhos, Pedro Henrique e Giovanna.”
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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