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Estado de Minas 1 ano da COVID-19

Pandemia impõe transformações à alma e no trabalho

Do salão de beleza ao consultório de psicologia, e passando também pelo cemitério e a escola, profissionais relatam como enfrentam mudanças impostas pelo vírus


27/02/2021 06:00 - atualizado 27/02/2021 11:19


“Mudanças e adaptações”

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Raísa Helen, 32 anos, terapeuta capilar e engenheira química, do Spa do Cabelo, que encarou as alterações  impostas pela COVID-19 no trabalho e na vida dos clientes

“O ano de 2020 foi de mudanças e adaptações. No primeiro lockdown, fiquei sem trabalhar por aproximadamente 60 dias. Porém, o contato e a atenção com as clientes foram mantidos remotamente. À medida que os dias foram passando, percebi que podia (e devia) continuar trabalhando em home office e foi aí que me dediquei mais às redes sociais e comecei a fazer consultorias por WhatsApp, videochamada e telefone. Considero que a manutenção do contato com as clientes/pacientes foi fundamental para ter a agenda cheia com o fim do lockdown. Na terapia capilar os atendimentos são individualizados e com horário marcado mas, ainda sim, redobrei os cuidados com a limpeza em cada atendimento. Devido ao estresse desses tempos de pandemia recebo, diariamente, muitas clientes/pacientes com relatos de queda capilar e outros problemas causados, muitas vezes, por questões de fundo emocional. Trabalhar nesse clima não é uma tarefa fácil, mas tento manter o pensamento positivo. Sorrisos, agora, só com os olhos. Mas o carinho e o cuidado continuam os mesmos.”

“São grandes os desafios”

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Esmeralda Jacinta da Silva, 52 anos, proprietária do Salão Esmeralda Jacinta Cabelo & Cia, adotou protocolos, após 50 dias de portas fechadas, enfrentou redução intensa de demanda, mas tem esperança

“No início da pandemia, o salão ficou fechado por cerca de 50 dias. Para retomar as atividades, tivemos que reorganizar o mobiliário, readequar as agendas de modo que tivéssemos tempo para esterilizar todo o material entre um cliente e outro, além é claro da disponibilização de álcool em gel em vários locais. Os hábitos dos clientes mudaram, e fomos nos adaptando a eles. É uma realidade muito triste ver o salão vazio, porque aqui também era um lugar para as clientes se encontrarem. Agora, por medida de segurança, atendo a uma cliente por vez. Com isso, minha carga horária ficou muito maior, mas foi a forma que encontrei de continuar atendendo com segurança sem diminuir tanto o faturamento, que já caiu 30% em 2020. Os serviços de manicure e pedicure também tiveram queda de 90%. Toda essa pressão causa um estresse diário muito grande, porque os preços dos insumos subiram substancialmente, a carga horária extensa e a necessidade de aprimorar os conhecimentos de forma on-line são grandes desafios. Mas acredito que com a chegada da vacina podemos ter novamente esperança em um futuro próspero.”

“Tive de me reorganizar”

(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Renata Borja, 48 anos, psicóloga, especialista em terapia cognitivo-comportamental. Ela precisou reforçar o atendimento com aumento de demanda de pacientes com transtornos de ansiedade

“Meu trabalho foi bastante alterado neste um ano de distanciamento social. A atenção on-line já era prática comum no meu atendimento clínico para quem mora no exterior, uma vez que a terapia cognitivo-comportamental se ajusta bem a esse modelo. Entretanto, não passava de quatro ou cinco pessoas por semana. Atualmente, os pacientes passaram a ser quatro ou cinco em um único dia. Tive que me reorganizar. Transformei um quarto em consultório, para ter um ambiente seguro e sem interferências externas e garantir a confidencialidade. A maioria dos pacientes se sentiu mais à vontade e tive a possibilidade de finalizar vários processos terapêuticos sem encontros pessoais. Não houve prejuízos significativos, pelo contrário, as atividades foram bem executadas. Houve aumento significativo de busca por pacientes com transtornos ansiosos, em decorrência do excesso de informações negativas que atuam como gatilhos para pessoas com maior vulnerabilidade. Meu trabalho fora do consultório, com lives e cursos, aumentou bastante, pois o agravamento dos quadros me levou a criar alternativas para ajudar mais pacientes e outros profissionais.”

“Eram gritos, aplausos, choros”

(foto: Fundação de Parques/divulgação)
(foto: Fundação de Parques/divulgação)

Welton Pedro da Rocha, coveiro há 23 anos, e encarregado de equipe no Cemitério da Paz, em BH. Ao ver o desespero de parentes proibidos de acompanhar enterros, conduzia o caixão lacrado mais devagar

“Para nós, que trabalhamos em cemitério, tratar com a morte é uma rotina. Ficamos sabendo da pandemia mais pela imprensa, mas, ao tomarmos conhecimento dos protocolos, logo depois do carnaval, começamos a perceber a gravidade da situação. Foi assustador o primeiro sepultamento de COVID-19, com toda aquela roupa, o cemitério fechado.. A ficha, então, foi caindo: o mundo está acabando. Achava que a pandemia ia passar e foi só piorando. A qualquer sinal de gripe, os colegas eram imediatamente afastados do trabalho. Até hoje ainda precisamos trabalhar muito nossa mente. Morria de medo de ir pra casa, onde moro com esposa e uma filha. E a tristeza de ver os parentes dos mortos do lado de fora, pendurados nas grades do cemitério, vendo de longe seu ente querido rumo à cova. Eram gritos, aplausos, choros e o máximo que podíamos fazer era conduzir o caixão lacrado mais devagar. Muito difícil. Para segurar o fator psicológico, conversamos muito entre nós. Se as pessoas imaginassem a tristeza que é essa doença, teriam mais responsabilidade. Em 23 anos de trabalho no cemitério nunca vi tantos mortos também por síndrome respiratória.”

“Mudança foi intensa”

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

Suzana Cremasco, 39 anos, coordenadora do curso de direito do UniBH, que, ao trabalhar no ensino on-line, observou, de um lado, mais dinamismo, e, de outro, o prejuízo da falta de interação

“O UniBH foi bastante ágil na mudança do ensino presencial para o formato remoto. Por isso, já em 18 de março comecei a lecionar pelo Zoom e segui assim até o fim do ano. As aulas sempre ocorreram nos dias e horários usuais, ao vivo, com participação de alunos e professores. Por ter um ambiente preparado em casa e por ter conseguido organizar a rotina de forma disciplinada, vejo que, apesar de a mudança ter sido imensa, trouxe pontos positivos e negativos. Entre os positivos, destaco a possibilidade de as aulas serem mais dinâmicas, usarem mais recursos do que uma aula usual, a criação de uma rede de cooperação entre os alunos, além de uma grande economia de tempo com deslocamentos. Entre os pontos negativos, destaco o cansaço provocado pelas horas em frente ao computador, a maior dificuldade de atenção pelos estudantes, as dificuldades inerentes à dependência da tecnologia, a mudança no formato das avaliações, as limitações para aulas práticas e, sobretudo, a falta de interação e contato presencial. O que fica para mim é que, no futuro, a tendência talvez seja lidarmos com um ensino que seja cada vez mais híbrido, como o é, na realidade, a nossa própria vida hoje.”

“A sombra da pandemia impacta”

(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Geiciane Carla Barbosa, 28 anos, lojista do ramo de vestuário que investiu nas vendas on-line

“Tinha uma loja física de roupas femininas, a Lado Errado. Devido à pandemia, ao isolamento social e ao fechamento do comércio, a dificuldade em mantê-la foi maior, até chegar ao ponto de se tornar inviável. Tive que fechá-la e trazer todas as peças de roupas que estavam para ser vendidas para a minha casa. Recorri, então, à internet e redes sociais e optei por vender apenas pelo meio digital, usando as ferramentas do WhatsApp e Instagram. Acabei me adaptando bem, pois já mantinha o hábito de divulgar meu negócio nas redes sociais. Mas, ainda sim, foi muito difícil, e até hoje busco formas de melhorar nesse formato, pois o hábito de trabalhar em casa exige contínua adaptação, porque requer mais foco. Tem sido lucrativo, pois me isentei da despesa da loja física (aluguel, água, luz e internet), mas a sombra da pandemia permeia e traz impacto nos resultados, já que, além da perda do ponto físico, as vendas tiveram certa queda, devido ao cenário atual. A pandemia acelerou um processo de modernização, mas ao mesmo tempo impôs muitos obstáculos.”
 
 

"Herança que eu vou carregar" 


Karla Aparecida Passos Nascimento, 37 anos, motorista de transporte escolar, que se viu obrigada a trocar de profissão, também afetada por grande queda de faturamento durante a pandemia

(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)
“Sempre trabalhei como motorista de transporte escolar. Desde o início da pandemia, as atividades foram interrompidas e não pudemos mais rodar. Minha profissão foi a zero e a minha ‘empresa’ fechada. Até hoje continuamos sem faturamento. Tive que me reinventar, e hoje trabalho com venda de produtos em casa. Isso me ajudou a vencer a crise. Mas as vendas caíram muito depois que as lojas reabriram. A dificuldade financeira, então, retornou. Infelizmente, a pandemia dificultou o transporte escolar, porque é um trabalho direto com os pais. Então, estamos tendo muitas dificuldades. Logo que tudo parou, os pais também pararam de pagar o transporte e ficamos sem nada. Sem data prevista para retorno, não acredito que irei conseguir manter o meu trabalho. Essa vai ser uma herança que vou carregar por muito tempo, porque muitas pessoas não vão ter condição de pagar o transporte. Acredito que, para mim, essa profissão, como motorista de transporte escolar, acabou.”

"Precisávamos redobrar os cuidados"

Lelia Pereira dos Santos, 46 anos, auxiliar de serviços gerais no hospital Ipsemg, que se adaptou a diversos protocolos sanitários e toma todos os cuidados também fora do trabalho para evitar contaminação

“Pelo fato de trabalhar na faxina, já ouvíamos os comentários de uma doença que poderia chegar ao Brasil, até que um dia um técnico em segurança no trabalho nos reuniu, explicou que havia um vírus circulando em nosso meio e que precisávamos redobrar os cuidados de proteção e higienização. Não tínhamos o hábito de usar óculos, nem máscaras. Esses equipamentos foram distribuídos e passamos a mudar a rotina. Onde limpávamos e higienizávamos uma vez por dia, passamos a fazer o trabalho quatro vezes. Aos poucos, começamos a nos adaptar aos diversos protocolos e a perceber a gravidade, porque tínhamos contato com pacientes e com o pessoal do atendimento. Tinha medo de contaminar minha família. Moro com o esposo, já idoso, duas filhas e um filho. Antes de sair do hospital tomava banho, higienizava. Ao chegar em casa colocava roupa em um saco plástico para ser lavada separadamente e deixava os sapatos do lado de fora. Tive muito medo de me contaminar ou passar o vírus para outras pessoas. Era uma coisa que a gente não via e estava por toda parte. Nunca imaginei passar por uma situação como essa. Mesmo já tendo tomado as duas doses da vacina, continuo com todos os procedimentos de proteção e precaução.”
 

"Não me adapto. É muito complicado"

Arthur Santos Leite, 24 anos, estudante de publicidade e propaganda da PUC Minas, que tem encontrado dificuldades para se adaptar ao modelo de aulas on-line e vê perdas no conteúdo da prática profissional

“Nunca funcionei muito bem nesse modelo mais tecnológico. Gosto da aula presencial, do papel mesmo. E, desde que a pandemia teve início no Brasil, estou em regime de aula remota. O resultado é que até hoje não me adaptei. No semestre passado, em que cursava oito matérias, precisei, inclusive, trancar a faculdade, pois não me concentrava, não rendia o esperado e temia perder todo o semestre ou até mesmo arriscar meu diploma. Manter a rotina dentro de casa é muito difícil, com tantas distrações, ainda mais diante de tantas burocracias. É muita plataforma, uma para cada coisa – aula, portal do aluno e postagem de conteúdos. Além disso, fazem falta as aulas práticas, porque em EAD quase nada é realmente prático. E isso pode vir a ser um buraco na formação, porque tecnicamente esse é o nosso primeiro contato. Com tudo isso, acabei prolongando meu curso. Nesse período, perdi o emprego e a única coisa que me dava forças era a minha arte e a produção de conteúdo como drag queen. Acabei optando por voltar nesse semestre com três matérias, me dei uma chance, mas ainda sinto falta do modelo presencial. Não me adapto. É muito complicado.”


"Mantenho todos os cuidados"

Carlos Mesquita, 53 anos, motorista do SAMU, que não se descuida das medidas de prevenção da doença, e se preocupa ao ver pessoas sem máscara de proteção 

“A princípio fiquei muito assustado e preocupado com minha saúde e a de meus familiares. Tive medo de levar o vírus pra casa. Mantenho até hoje os cuidados que adotei no início da pandemia, deixando a bota e uniforme de trabalho do lado de fora de casa. Uso a roupa adequada no atendimento a pacientes infectados e ao tirá-la deixo separado para evitar contaminação. Vejo muitas pessoas sem usar máscara. Não é porque já tomei as duas doses de vacina contra a COVID-19 que vou relaxar na prevenção contra a doença. Quando fazemos transporte de pacientes já diagnosticados positivo, é preciso de autocontrole muito grande, principalmente, na remoção de idosos. Requer muita tranquilidade, porque o acompanhante não pode ir na ambulância e aquele pode ser o momento de despedida do familiar. É seu último momento, porque o paciente não pode receber visitas e muitos evoluem para óbito. Quando colocamos a pessoa dentro da ambulância, assistimos ao sofrimento dela e daquele familiar se despedindo. As portas se fecham e pode ser o último encontro entre os dois.”

O que é o coronavírus

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.


transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.


A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia
  • Em casos graves, as vítimas apresentam:
  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
  • Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.


Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:


 


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