Os alertas de especialistas desde o fim de 2020 não impediram o Brasil de chegar a um patamar alarmante da pandemia, com diversos estados com leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com COVID-19 à beira do completo esgotamento. Dados das secretarias estaduais mostram taxas de ocupação dos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) para adultos em 80% ou mais em 17 estados, o que já é considerado crítico pelo comitê Observatório COVID-19, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A taxa está acima de 90% em oito estados. Médicos apontam: o cenário é de colapso neste momento em que o país enfrenta o auge da pandemia de coronavírus no Brasil. No Rio Grande do Sul, Porto Alegre atingiu 101,08% de ocupação e 136 aguardavam vaga para internação em UTI nesse sábado (27/02).
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Ainda em dezembro, a Fiocruz já falava que “sem cuidados devidamente adequados e sem manutenção do isolamento social” em meio às festividades de fim de ano, a rede de saúde brasileira poderia colapsar.
Entre os fatores que contribuíram para o agravamento da pandemia, foram citados a “desmobilização de leitos extras dos hospitais de campanha; a ocupação de leitos por outros problemas de saúde que ficaram represados durante o avanço da epidemia de COVID-19; a maior circulação de pessoas; as dificuldades de identificação de casos e seus contatos devido à baixa testagem; e o relaxamento dos cuidados de distanciamento social, uso de máscaras e higiene”.
UTIs em colapso no Brasil
- Acre 97,2%
- Alagoas 69%
- Amapá 63,9%
- Amazonas 86,8%
- Bahia 82%
- Ceará 95,3%
- Distrito Federal 94,9%
- Espírito Santo 72,3%
- Goiás 94,1%
- Maranhão 83,7%
- Mato Grosso 87,1%
- Mato Grosso do Sul 87%
- Minas Gerais 72,6%*
- Pará 79,9%
- Paraíba 71%
- Paraná 94%
- Pernambuco 90%
- Piauí 76,2%
- Rio de Janeiro 62,8%
- Rio Grande do Norte 89,4%
- Rio Grande do Sul 94,5%
- Rondônia 96,7%
- Roraima 80%
- Santa Catarina 93,9%
- São Paulo 71,1%
- Sergipe 62,4%
- Tocantins 80%
Auge da infecção no Brasil
A fundação agora aponta que “os dados consolidados para o país confirmam a formação de um patamar de intensa transmissão da COVID-19”, com nenhum estado apresentando tendência de queda significativa nas últimas três semanas epidemiológica no número de casos e óbitos por COVID-19.“A manutenção de altos índices da doença, bem como a sobrecarga de hospitais, podem ser ainda decorrentes de exposições ocorridas no final de 2020 e em janeiro de 2021, com a ocorrência de festas de fim de ano, festivais clandestinos e intensificação de viagens”, pontuou.
Infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, Jamal Suleiman ressalta que desde novembro do ano passado os especialistas estão chamando a atenção para o aumento de casos e sobre o que aconteceria com o sistema de saúde. “Já era absolutamente previsível esse repique simultâneo no país inteiro”, diz.
De acordo com ele, as pessoas se aglomeraram nas festas de fim de ano e depois no carnaval, e somou-se a isso a ausência de uma política central de controle da pandemia. “O colapso é o desfecho que a gente previa desde o ano passado”, afirma.
Tragédia anunciada na saúde
Conforme o infectologista, uma taxa de ocupação acima de 90% “é o colapso”. “O sistema de saúde não pode estar voltado exclusivamente para uma mesma doença”, ressalta. Para o médico, falta uma coordenação nacional, com planejamento. “Essa tragédia é anunciada. O que aconteceu é que a gente saltou do 20º andar sem nenhuma rede embaixo. Todas as narrativas foram no sentido de caracterizar isso como um fenômeno irrelevante, com 250 mil pessoas mortas”, relata.O diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José Davi Urbaez, também afirma que o cenário é de colapso imediato quando a taxa de ocupação está neste nível. De acordo com ele, hospitais nunca devem ter taxas de ocupação de leitos de UTIs acima de 80%, porque a sobrecarga dos servidores acaba sendo intensa e há, ainda, uma redução na efetividade da internação.
Em meio à grave situação, governadores começaram a decretar medidas mais restritivas, com fechamento de comércios, por exemplo. Para Urbaez, as medidas são tardias para uma situação que já era prevista por especialistas, com falta de ações de controle, festas de fim de ano e carnaval. “O Flamengo ganhou e as pessoas comemoraram como se não houvesse pandemia. E o poder público, totalmente omisso”, afirma.
É lockdown? Brasil não consegue adotar modelo
Conforme o infectologista, nada que está acontecendo é novo ou inesperado. “Quando começou essa história de flexibilização, fechamento de leito, a gente sempre advertiu que o vírus estava em altas taxas de circulação”, pontua. Para ele, tudo o que o país vive é reflexo de uma ausência de dispositivo de controle de pandemia.
“O poder público nunca teve controle de pandemia. O que fez foi correr atrás de leito para assistir os doentes. Mas controle de pandemia é você reduzir ao mínimo os casos. Para isso, tem que ter testagem, isolamento e planejamento na flexibilização de algumas atividades econômicas. Isso tudo é uma complexa operação que exige trabalho árduo em todas as suas esferas. Aqui, nunca foi feito”, frisa.
Governo bate na tecla de abertura de leitos
“Para você ter leitos, principalmente os de UTI, você precisa de pessoal qualificado, pessoas que saibam operar as máquinas. São muitos equipamentos específicos, que não são simples”, diz. A especialista ressalta a necessidade de aumentar a testagem e as medidas de isolamento, com apoio à população (como um auxílio emergencial) e aos pequenos e microempresários, para que possam fechar.
Sistema transbordado de pacientes
O que é o coronavírus
Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
- Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
- Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus