Um ano depois do início da pandemia de COVID-19 no Brasil, várias capitais do país enfrentaram e ainda lidam com colapsos de seus sistemas de saúde. Ainda que também sofra fortemente os impactos da proliferação do novo coronavírus, Belo Horizonte, em números, tem um dos quadros menos trágicos entre as grandes cidades brasileiras.
Conforme dados levantados pelo Estado de Minas, até sexta-feira (26/02), quando a maioria dos municípios atualizou seus boletins pela última vez na semana, a capital mineira registrava as quartas menores taxas de incidência (casos por 100 mil pessoas) e de mortalidade (mortes/100 mil) entre as capitais. Mas o que fez BH para ser classificada pelos especialistas como uma referência no enfrentamento ao novo coronavírus?
Conforme dados levantados pelo Estado de Minas, até sexta-feira (26/02), quando a maioria dos municípios atualizou seus boletins pela última vez na semana, a capital mineira registrava as quartas menores taxas de incidência (casos por 100 mil pessoas) e de mortalidade (mortes/100 mil) entre as capitais. Mas o que fez BH para ser classificada pelos especialistas como uma referência no enfrentamento ao novo coronavírus?
Levantamento do EM mostra que o prefeito Alexandre Kalil (PSD) assinou 15 decretos que flexibilizaram ou restringiram a atividade comercial na cidade, seguindo os altos e baixos dos indicadores da COVID-19 e seu impactos sobre o sistema de saúde. Os principais são a velocidade de transmissão (fator Rt) e as taxas de ocupação de leitos de UTI e de enfermaria para tratamento da doença na cidade.
O primeiro foi publicado em 18 de março de 2020, quando a pandemia acabava de chegar a Belo Horizonte, e fechou todos os serviços essenciais. Na direção oposta, o último voltou a liberar a venda de bebidas alcoólicas nos bares e restaurantes (confira cronologia).
“O prefeito Alexandre Kalil seguiu a ciência. Esse movimento de vai e vem é o que a gente tem que fazer. A gente fecha na hora adequada. Abre na hora adequada. E mantém a comunicação com a comunidade sobre a importância de usar máscara e de se evitar aglomeração”, afirma o infectologista Unaí Tupinambás, que integra o Comitê de Enfrentamento à Epidemia da COVID-19 em BH.
O infectologista Geraldo de Cunha Cury, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acompanha o pensamento de Tupinambás. “O que Belo Horizonte vem fazendo, desde o início, está de acordo com o que é preconizado pela ciência. Idealmente, se o Brasil tivesse feito o que BH fez, não estaríamos na situação que estamos hoje”, opina, ressaltando a importância das flexibilizações na cidade: “Esses fechamentos causaram muito tumulto, reclamação, mas são feitos para frear os indicadores”.
As várias flexibilizações e restrições fizeram com que BH registrasse, até seu último boletim epidemiológico, uma taxa de mortalidade de 108,72 (óbitos/100 mil) e uma de incidência de 4.397,21 (casos/100 mil habitantes). “É um sucesso relativo. Claro que, olhando outras capitais e cidades com mais de 1 milhão de habitantes, a gente está muito bem. Mas é muito triste a gente estar nessa situação grave”, pondera Unaí.
Taxa de mortalidade nas capitais
Quanto às outras capitais brasileiras, as maiores taxas de mortalidade são de Manaus (AM), Rio de Janeiro (RJ), São Luís (MA), Cuiabá (MT) e Porto Velho (RO). Já as menores são de Palmas (TO), Florianópolis (SC), Macapá (AP), Belo Horizonte (MG) e Salvador (BA).
No que diz respeito à incidência, a parte de cima do ranking produzido pelo EM pertence a Boa Vista (RR), Florianópolis (SC), Aracaju (SE), Porto Velho (RO) e Vitória (ES). Por outro lado, os menores índices pertencem ao Rio de Janeiro (RJ), Macapá (AP), Recife (PE), BH (MG) e Fortaleza (CE).
Taxa de letalidade
Em outro indicador chave da pandemia, no entanto, BH não está entre as menores taxas entre as capitais um ano depois do início da crise sanitária. Na cidade, 2,47% dos infectados morrem, o que coloca o município na 13ª posição no ranking de 27 capitais.Para Unaí Tupinambás, no entanto, a diferença pequena de Belo Horizonte para outras cidades faz com que essa posição não seja tão incômoda. "Acho que isso não é diferença. Não dá para falar que 2,5 para 2,3 é uma diferença (significativa). Geralmente, nas grandes capitais, a gente sabe que a desigualdade é muito grande. A letalidade entre os desiguais é muito maior”, diz.
E o especialista explica por que a taxa de letalidade de BH tende a ser maior que a de capitais com populações menores, como Palmas e Florianópolis. “Os que vivem na periferia, mesmo com a faixa etária mais baixa, têm uma chance maior de morrer. A doença não mata só por conta do vírus. Mata porque tem uma pessoa que mora, trabalha, se alimenta e pega o transporte em condição precária", analisa.
Entre as outras capitais brasileiras, chamam a atenção as altíssimas taxas do Rio de Janeiro e de Manaus nesse quesito – muito à frente das demais cidades. Na capital fluminense, a prefeitura local registra morte de 9,11% dos doentes . Já na principal cidade do Amazonas, o índice é de 5,25%. Por outro lado, os menores percentuais são de Florianópolis e Palmas, ambas abaixo de 1%.
Vacinação na capital mineira
Ainda que o trabalho de BH seja analisado como positivo pelos especialistas, a pandemia ainda resiste na cidade e no Brasil. A maior preocupação daqui pra frente fica por conta da marcha da vacinação, que ainda está lenta no país diante da escassez do produto, fator agravado pela falta de articulação do governo federal com as principais fabricantes.
Até o último boletim epidemiológico da prefeitura, 114.570 pessoas foram vacinadas contra a doença com a primeira dose na cidade. Com a segunda, são 57.035. Desde 11 de fevereiro, a capital mineira não recebe ampolas da CoronaVac (Sinovac Biotech/Butantan) nem da Covishield (AstraZeneca/Oxford/Fiocruz).
“A vacinação está lenta porque não tem insumo, por conta da incompetência do governo federal. Andou tendo rusgas com as duas maiores nações que produzem os insumos farmacêuticos: votou contra a Índia na OMC (Organização Mundial do Comércio, na Suíça) contra a quebra de patente; e vem em conflito diplomático com a China desde sempre”, lamenta Tupinambás.
E o colega da UFMG acompanha o raciocínio do médico vinculado ao comitê da PBH. “O que se deve fazer é vacinar: à medida que você diminui a circulação do vírus, você evita as mutações. Mas o governo federal não quis assinar os compromissos de compra de vacina. Não houve vontade, porque o dinheiro foi garantido pelo Congresso”, afirma Geraldo de Cunha Cury.
Frente a esse quadro, representantes de diversas prefeituras brasileiras se reúnem hoje para discutir a formação de um consórcio para a compra de vacinas contra COVID-19. O Estado de Minas apurou que a PBH vai participar do encontro. O encontro foi articulado pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP). Durante a conversa, a entidade vai propor a união das cidades em prol da aquisição dos imunizantes.
BH em quatro momentos: no alto, comércio fechado em março e reaberto em dezembro; acima, restaurante liberado em agosto e acesso impedido na Pampulha em abril
Linha do tempo
Controle das atividades para calibrar a situação da saúde
2020
18 de março
Com o Decreto 17.304, prefeito Alexandre Kalil fecha atividades não-essenciais pela primeira vez. Bares, restaurantes, boates, cinemas, salões de beleza, academias etc. fecham as portas, mantendo apenas atendimento por delivery.
22 de maio
Decreto 17.361 permite a primeira flexibilização. Secretário de Saúde, Jackson Machado Pinto, admite "medo" ao reabrir primeira fase do comércio não essencial.
5 de junho
Com o Decreto 17.372, Belo Horizonte dá novo passo em reabertura e inclui estabelecimentos que oferecem 92% dos empregos. Segundo a prefeitura, essa fase contemplou 5.323 empresas e 8.137 microempreendedores individuais (MEIs)
26 de junho
Decreto 17.377 impõe recuo e somente serviços essenciais podem abrir. Prefeito Kalil critica "furões" e nega erro em reaberturas anteriores.
4 de agosto
Decreto 17.406 permite nova reabertura parcial do comércio não essencial. Prefeitura nega ter reagido sob pressão de empresários, e Kalil pede cautela da população
20 de agosto
Decreto 17.416 amplia flexibilização ao permitir funcionamento de parques e reabertura de praças da cidade. Restaurantes também voltam a receber clientes à mesa, sem venda de bebida alcoólica e em horários limitados
11 de setembro
Com o Decreto 17.430, shoppings, academias e mais parques são reabertos
18 de setembro
Decreto 17.434 amplia horário de funcionamento para os bares e restaurantes na capital, ainda sem bebida alcoólica
9 de outubro
Decreto 17.446 reabre o Jardim Zoológico e o Jardim Botânico de Belo Horizonte
27 de outubro
Decreto 17.458: cinemas voltam à ativa com lotação de 50% da capacidade
25 de novembro
Decreto 17.475 dá permissão para que o comércio funcione excepcionalmente em três domingos: 29 de novembro e 13 e 20 de dezembro, para aliviar movimento na semana em período de alta demanda
18 de dezembro
Com foco no Natal, Decreto 17.503 amplia horário de funcionamento do comércio em geral
2021
7 de janeiro
Decreto 17.523 fecha serviços não essenciais de BH novamente. Crescimento dos indicadores no período pós-festas de fim de ano motiva a medida
29 de janeiro
Decreto 17.536 flexibiliza novamente o comércio na cidade depois de queda nos indicadores da COVID-19. Norma restringe horário de venda de bebida alcoólica em bares e restaurantes ao período das 11h às 15h
5 de fevereiro
Decreto 17.539 libera consumo de bebidas alcoólicas nos bares e restaurantes das 11h às 22h. Brinquedos em parquinhos também são liberados
[NOTICIA1609935]
[NOTICIA1609935]