A não adesão do Brasil às medidas rígidas de isolamento social pode agravar o enfrentamento à COVID-19 em todo o mundo. Estudo comparativo realizado pela Rede Análise COVID-19 demonstra a correlação entre o aumento da mobilidade nas cidades e a explosão de casos no Brasil e no Reino Unido. O estudo levou em conta dados dos dois países onde surgiram as variantes do vírus que mais preocupam a OMS. Foram comparados os gráficos de mobilidade gerados pelo Google e os dados oficiais de casos de cada país. Em janeiro, o Reino Unido, diante da constatação de descontrole, impôs medidas rígidas para reduzir a mobilidade das pessoas. O Brasil, no entanto, segue sem ações coordenadas em nível nacional.
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Transmissão da COVID-19 é a mais alta em 7 meses em BHIdosas mineiras abrem 'janela' em muro para driblar solidão na pandemiaCOVID-19: Itajubá atinge 163% dos leitos de UTI e teme colapso Reunião do comitê da COVID-19 de BH nesta quarta pode definir novas medidasItajubá confirma seis mortes por COVID e ocupação de 100% dos leitos de UTICoronavírus: Minas registra mais de 5 mil casos diários há oito diasO aumento da mobilidade em Minas e em São Paulo preocupa. “Minas é um estado que mostra que a taxa de crescimento reage superrápido à retirada das medidas de flexibilização. Eles vinham bem, com BH fechada, mas reabriram muito cedo. São Paulo também reabriu e a taxa reverteu”, diz o especialista. Schrarstzhaupt comparou os números de casos com a adoção de medidas de fechamento das atividades comerciais.
O pesquisador demonstra que quando as medidas de isolamento social são corretamente aplicadas geram redução de casos. "No Brasil, a gente nunca teve medidas de restrição fortes e bem-executadas. Isso deixou o vírus se espalhar de uma forma que tivemos um fenômeno que chamamos de sincronicidade da curva. O vírus se espalhou tanto no país que está presente em todos os locais”, explica. “Não é como no começo, quando tinha um estado que estava mal e outro que estava bem", alerta o cientista de dados.
Aumentar a mobilidade leva a um acréscimo de casos. "Aumenta a mobilidade, logo depois aumenta o contágio. Pessoas em mobilidade carregam o vírus. Muitas vezes, elas estão assintomáticas e nem notam. Andam para lá e pra cá disseminando o vírus. Vira uma cascata, uma bola de neve”, diz Isaac. Os dados mostram que a mobilidade se intensificou no Brasil a partir de 7 de setembro. “De lá para cá, a velocidade da queda ficou cada vez menor. O que era queda virou estabilidade em outubro. Em novembro, a curva subiu, estourou em dezembro. Em janeiro de 2021, tivemos recordes no número de mortes.”
O vírus se espalhou por todo o Brasil, na avaliação do pesquisador, em decorrência do afrouxamento nas medidas de restrições. Nos últimos dias, muito se falou em lockdown. No entanto, o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, reforça que ele não foi adotado de maneira integral, como ocorreu em outros países, como a Itália. Ao contrário, prefeitos e governadores adotaram medidas mais amenas para reduzir a mobilidade, como o toque de recolher ou o fechamento parcial do comércio nos fins de semana.
Conforme a comparação entre Brasil e Reino Unido, as restrições na mobilidade precisam ser adotadas de forma rígida e por períodos longos para que possam surtir efeito na queda de casos. Alguns estados decretaram lockdown de poucos dias, três dias, e fim de semana. No entanto, ao fazer as correlações entre dados de mobilidade e curva de transmissão, os números não caem de imediato. “Não dá para pensar que em 10, 12 dias haverá redução”, diz o cientista de dados. No Reino Unido, foram necessários 50 dias para que os casos recuassem.
A análise demonstra que na terra da rainha Elizabeth, no início, não foram adotadas medidas de restrição, mas, depois, diante do aumento de casos e mortes, fez-se correção da rota. "O Reino Unido teve no início comportamento errado, mas fez a correção. Você consegue comparar um comportamento errado com um comportamento correto em um país. Eles deixaram o vírus rolar solto no começo, em março de 2020. De 1º a 23 de março, o vírus rolou totalmente solto e, então, fizeram o fechamento, que seguiu até julho, para conseguir estabilizar, deixar a curva estável e, só assim, ela começou a cair".
No país europeu, a curva caiu e, em junho, o governo britânico reduziu as restrições. Em julho, voltaram à vida normal, quando a curva de casos começou a subir de novo, mas não tão rapidamente como no começo. "Já havia o conhecimento de máscaras, distanciamento, medidas de segurança, então subiu um pouco mais leve, mas ainda assim as pessoas relaxaram. O aumento que começou em julho tornou-se exponencial em setembro. O contágio aumentou tanto que, inclusive, gerou uma nova variante", diz.
Diante disso, o Reino Unido adotou medidas de fechamento fortes, tentaram abrir, voltaram a subir e adotaram a terceira medida de fechamento em 4 de janeiro. "Agora, em 24 de fevereiro, começaram a afrouxar as restrições. Vai até abril e maio a flexibilização deles."
Ao fazer uma comparação com o Brasil, o pesquisador Isaac Schrarstzhaupt conclui que não foram feitas medidas de restrição completas. "Alguns locais fecharam por muito pouco tempo. Outros locais deixaram totalmente aberto. Vimos muitas aglomerações", diz. Outro problema é que não houve uma ação coordenada no país, cada estado e cada município adotou as medidas em um tempo e de uma forma.
A cada infecção, o vírus se copia
O maior problema é que, além de não haver ação coordenada no Brasil em nível nacional, Bolsonaro ataca o isolamento. "Ele é contrário às medidas de distanciamento físico, contrário ao uso de máscara e adoção dos protocolos. Algumas frases que ele falou: 'Temos que conviver com o vírus. Todo mundo vai pegar um dia, então tem que pegar de uma vez para todo mundo se livrar'”, afirma Schrarstzhaupt.
Ele ressalta que o negacionismo fomenta novas variantes. "Cada vez que o vírus infecta uma pessoa, ele se copia, começa a fazer várias cópias de si mesmo. A cada infecção, são milhões de cópias. Cada vez que faz uma cópia, não sai 100%. Não é uma maquininha copiadora perfeita. Sai com diferenças que podem ser prejudiciais, pode ser que o vírus fique fraco e morra ali mesmo ou pode ser que tenha mutação que o deixe mais forte ou mais transmissível", diz. As variantes que mais preocupam a Organização Mundial da Saúde surgiram no Brasil, Reino Unido e África do Sul.
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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