Para Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, Belo Horizonte é a capital brasileira que mais zela por seus cidadãos ante a pandemia do novo coronavírus. Ao Estado de Minas, ele elogiou a postura do prefeito Alexandre Kalil (PSD), em relação às medidas de enfrentamento à doença.
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Transmissão do coronavírus em BH cai, mas estágio ainda é de alertaPBH retoma barreiras sanitárias de COVID-19 em avenidas, metrô e rodoviáriaMandetta sobre COVID-19: 'Estamos no início da megaepidemia'Mandetta: 'O Brasil está sendo governado pelo algoritmo'Se prepare: pancadas de chuva voltam em BH e mais regiões de MG nesta sextaA capital mineira soma 115.640 casos e 2.795 óbitos causados pela COVID-19. Para frear a disseminação da doença, a cidade tem apostado em restrições calculadas.
Embora seja filiado ao DEM, Mandetta guarda semelhança com Kalil no papel de destaque obtido durante a pandemia. A defesa da ciência e das medidas sanitárias fez com que ambos ganhassem status de lideranças nacionais importantes.
O prefeito de BH se aproximou dos democratas em janeiro deste ano, quando deu acenos positivos à candidatura de Rodrigo Pacheco à presidência do Senado Federal. O apoio dos pessedistas, referendado por Kalil, foi essencial para impulsionar a presença de um parlamentar por Minas Gerais na disputa.
Índices no vermelho
O estágio da pandemia em BH é norteado por três fatores. Segundo o boletim dessa quinta-feira (4/3), a ocupação de leitos de UTI, com 74,4%, está no nível vermelho, o mais crítico.
O índice de transmissão por infectado (Rt), em 1,18, está no estágio amarelo, que demanda atenção. Na mesma zona, o percentual de vagas de enfermaria com pacientes (60,8%).
As decisões são tomadas por Kalil e pelos integrantes do Comitê de Enfrentamento à COVID-19, liderado pelo secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto.
Em repetidas ocasiões desde o início da pandemia, o grupo optou por recuar na flexibilização e tomar medidas como o fechamento de serviços considerados não essenciais. A última vez ocorreu em janeiro.
A postura do prefeito belo-horizontino, na visão de Mandetta, o coloca como “ponto de referência” na árdua batalha travada contra o coronavírus.
“Belo Horizonte é uma cidade que acompanho muito de perto. Não vou citar prefeitos de capitais importantes, mas que, vira e mexe, ‘quebram a mão’, voltam atrás ou falam ‘não vou fazer nada, faz de conta que não estou vendo’. Ele (Kalil) faz. Acho que ele é um ponto de referência nesta luta. Percentualmente, BH tem tido resultado melhor que os que simplesmente lavam as mãos”, sustentou o especialista, que afirmou ter conversado com Kalil pela última vez quando ainda estava no Ministério da Saúde.
Até a sexta-feira passada (26/2), Belo Horizonte era a capital com as quartas menores taxas de incidência (casos por 100 mil pessoas) e de mortalidade (óbitos/100 mil). Nessa quinta, a retomada das barreiras sanitárias em pontos da cidade foram anunciadas.
Relembre
Ministro da saúde de janeiro de 2019 a abril do ano passado, Luiz Henrique Mandetta foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) após divergências sobre o cumprimento de medidas cientificamente comprovadas para barrar a proliferação da doença.
Em seu lugar, assumiu o oncologista Nelson Teich, que ficou menos de um mês no posto.
Veio então o general Eduardo Pazuello. Anunciado como interino, o homem de confiança de Bolsonaro acabou sendo efetivado.
CRÍTICAS A CORTES DE VERBAS
Luiz Henrique Mandetta considera que o governo federal tem responsabilidade na crise de leitos em todo o Brasil. “Em outubro, o Ministério da Saúde parou de pagar o financiamento de leitos de CTI (centros de terapia intesiva); foram fechados. Temos mais casos e menos leitos. Reativar leitos não é em um estalar de dedos. Tem que ter hospital, equipamentos e gente. Somos o país que mais perdeu profissionais de saúde no mundo. Esse povo está esgotado“, afirmou.
No entanto, o ministro não acha que seja alternativa viável chamar os médicos cubanos para resolver a falta de profissionais. Ele afirma que não sente a retirada deles do Brasil. “Os médicos brasileiros supriram a atenção primária mais do que aquela quantidade (de médicos cubanos). Estou com saudade de bons médicos. A formação médica brasileira está muito medíocre, muito baixa. Tenho visto o Conselho Federal de Medicina inerte em cumprir o papel de dar orientações técnicas, dizer o que é ético e como se tem que trabalhar", afirma.
Mandetta destaca que médico tem que ser bom profissional, independentemente de nacionalidade. “Se o médico é cubano, paraguaio, boliviano ou coreano, para mim tanto faz, desde que ele seja livre para atuar — e sempre critiquei que aquilo era negócio de Estado para Estado, e pessoas não são commodities. Médico tem que ser bom, filtrado e testado. Se não submeter meu conhecimento a algum crivo, não sou digno de ser chamado de médico”.
A entrevista
Jornalistas do EM conversaram, por vídeo, com Luiz Henrique Mandetta. Entre essa quinta (4/3) e esta sexta-feira (5/3), pílulas da entrevista serão publicadas.
No domingo, vão ao ar os trechos que tratam de temas políticos, como a disputa eleitoral em 2022.