Uma fila formada na porta do Posto de Saúde José Azevedo de Carvalho/Centro Municipal de Imunização (CMI) de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ontem à tarde, causou muita aglomeração de idosos, público mais atingido pela COVID-19. Há relatos de pessoas que aguardaram com idosos dentro de carros por mais de 15 horas, inclusive à noite. Após comunicado publicado nas redes sociais da prefeitura de que seriam distribuídas 150 senhas para a vacinação e que os idosos seriam imunizados por ordem de chegada, a população correu para tentar garantir um lugar na fila. Até o momento, Pedro Leopoldo recebeu apenas 788 doses das 357,4 mil doses que seriam destinadas ao município.
A professora Conceição Lopes chegou às 6h30 ao Centro Municipal de Imunização da cidade para levar a mãe, Margarida Branca de Neve, de 80, para se vacinar. As duas, no entanto, voltaram para casa frustradas uma vez que, naquele horário, a fila já dobrava o quarteirão. “Vi, em média, uns 500 carros, cada um tinha cerca de três idosos. Saí do carro a pé pra ter uma noção de como seria. Ao me aproximar, fiquei horrorizada com a aglomeração, o tanto de idosos e acompanhantes, e me desanimei. O despreparo do governo está em todos os níveis – federal, estadual e municipal. O Brasil é um grande barco à deriva num oceano de problemas”, criticou.
José Arnaldo Gonçalves, de 81 anos, chegou ao centro de saúde às 10h10 e também ficou sem a injeção. “É uma palhaçada isso. Muito desorganizado. Vim de longe, do bairro Lagoa de Santo Antônio. Paguei mais de R$ 30 de Uber só pra vir aqui e fiquei na mão. Está muito desorganizada essa vacinação”, queixou-se o aposentado.
PROPORÇÃO
O critério de distribuição de vacinas adotado pelo governo de Minas seria o principal fator responsável pela fila de idosos na cidade, segundo o chefe da pasta da Saúde na cidade, Hélio Renato Néri. Ele criticou a divisão proporcional de unidades feita pelo estado, baseada no contingente populacional dos municípios mineiros. Para o dirigente, localidades com mais idosos deveriam receber mais vacinas.
“A quantidade de doses para a nossa população foi pouca. Recebemos apenas 150 doses, suficientes para 24% do grupo entre 80 e 84 anos. Pedro Leopoldo é uma das cidades com maior população da região metropolitana. A nossa pirâmide de população está invertida, a maioria absoluta dos habitantes está na terceira idade. Acredito que o mesmo problema que tivemos aqui é enfrentado em outros locais. Não temos governabilidade sobre o número de doses recebidas. A responsabilidade pelo envio é de outras esferas”, disse o gestor.
O secretário-adjunto de Estado de Saúde, Marcelo Cabral, afirmou que os municípios têm total autonomia para executar a campanha de imunização. “Se o município chamou todo mundo e colocou na fila, é o município quem deve responder. A gente faz a logística, entrega, orienta, diz que tomem cuidado. Temos feito isso o tempo todo. A autonomia é do município. O que a gente faz, como fizemos esta semana, é orientar”, afirmou o secretário em entrevista coletiva.