A A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) publicaram nota, nesta terça-feira (16), em repúdio ao ataque sofrido pelo fotógrafo do jornal Estado de Minas enquanto cobria uma manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro contra medidas de distanciamento social para enfrentar a pandemia de COVID-19.
"As agressões sofridas pelo repórter fotográfico no exercício de suas funções profissionais são uma violação à liberdade de imprensa e uma evidência de baixo apreço pela democracia por parte dos manifestantes", afirmou a Abraji na nota.
As agressões ocorreram em frente ao 12º Batalhão de Infantaria, no Barro Preto, nessa segunda-feira (15/03).
A associação ainda pontuou que "é inaceitável que jornalistas tenham sua integridade física ameaçada em plena pandemia, quando cumprem tão somente seu dever de informar à sociedade. A Abraji exorta que as forças de segurança e o Ministério Público Estadual apurem o caso e punam os responsáveis, sob pena de chancelar novas agressões contra jornalistas no futuro".
As agressões sofridas pelo repórter-fotógrafico constam em Boletim de Ocorrência registrado na Delegacia Adjunta ao Juizado Especial Criminal (Deajec), no Bairro Gameleira, Região Oeste da capital. A violência também foi registrada em fotos e vídeos.
Nas imagens, o profissional – que não será identificado por motivos de segurança –, aparece sendo empurrado e ofendido pelos manifestantes em frente ao 12º BI, quartel do Exército. O grupo tenta impedir que o jornalista filme e fotografe o ato, sob alegação de que ele é “comunista”.
O fotógrafo então mostra seu crachá e tenta explicar que foi ao local para cobrir a manifestação, sem sucesso. A partir daí, os ataques tornam-se mais violentos. Um homem vai em direção ao repórter e o acerta com um capacete.
“Também levei pontapés na perna esquerda e golpes com um cabo de uma bandeira próximo ao rosto. Tudo isso sem motivo algum. Fui à manifestação simplesmente para fazer o meu trabalho, que é reportar. A primeira coisa que fiz foi me identificar como trabalhador da imprensa, mas o clima de histeria no protesto era tal, que as pessoas começaram a dizer que meu crachá era falso e partiram para cima de mim”, conta o profissional.
Outra agressão
Em Salvador, a fotojornalista Paula Fróes, do jornal Correio, também foi cercada por manifestantes enquanto trabalhava na cobertura de um protesto bolsonarista no Bairro da Mouraria, na região central da capital baiana.
Os manifestantes, enquanto cercavam a jornalista, a chamaram de "vagabunda" e "palhaça", entre outras ofensas. Alguns deles não usavam máscaras de proteção, em desrespeito às recomendações de autoridades de saúde para o combate à pandemia de coronavírus.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) emitiu notas em que condena as duas agressões. No caso de Minas, a entidade pediu que as autoridades identifiquem os agressores e os encaminhem à Justiça. Em Salvador, ao menos um dos agressores já foi identificado.
"Os agressores atentaram contra a integridade física de um cidadão e também contra o direito de todos serem livremente informados, já que o repórter-fotográfico estava trabalhando para levar a público informações sobre a manifestação", disse a ANJ em nota.
"A sociedade e suas instituições devem reagir com eficiência e rigor em defesa da atividade jornalística e da liberdade de imprensa, que são fundamentais para o exercício da cidadania."
O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Agostinho Patrus (PV), condenou os ataques que ocorreram em Belo Horizonte. "A liberdade de imprensa é um direito inviolável à democracia e toda agressão ao seu livre exercício deve ser coibida e condenada", escreveu o deputado em sua conta oficial no Twitter.
Segundo a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), 2020 foi o ano mais violento para os jornalistas brasileiros. Os ataques à imprensa e as agressões diretas a jornalistas tiveram um aumento de mais de 100%, de acordo com levantamento da entidade.
Nota do Estado de Minas
"O Estado de Minas condena veementemente toda e qualquer tipo de agressão e hostilidade aos seus profissionais e ressalta que o livre exercício do trabalho da imprensa é fundamental em uma nação democrática."