Uma Belo Horizonte com ruas vazias, pontos de ônibus ainda cheios, intensa fiscalização da Polícia Militar da Guarda Municipal e rapidez de motoristas na volta para a casa. Em situação preocupante acerca da ocupação de UTIs e enfermarias, a capital mineira adormeceu de forma diferente: nesta quarta-feira (17/3), a cidade deu início ao toque de recolher para tentar frear o avanço do coronavírus.
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MP não descarta ir à Justiça para obrigar cidades a entrarem na onda roxaFaltam respiradores para abrir leitos de UTI em BH, diz secretário de SaúdeCOVID-19: hospitais abrem vagas para profissionais da saúde em BH Sirene é acionada para reforçar o aviso do toque de recolher em DivinópolisCOVID-19: com mais de 21 mil mortes, Minas ultrapassa 1 milhão de casosBH tem possibilidade de chuvas isoladas nesta quinta-feira (18/3)Campanha visa arrecadar R$ 12 milhões para salvar menino; veja como ajudarA exemplo do que ocorre em várias cidades de Minas Gerais, somente trabalhadores dos serviços essenciais poderão circular das 20h às 5h. A medida vai valer por tempo indeterminado, dependendo da oferta de locais para internação para casos mais graves nos principais hospitais da capital.
Mesmo no primeiro dia de confinamento, com a população ainda se ambientando ao novo protocolo, já foi possível perceber uma cidade esvaziada. Não houve o característico congestionamento de carros e pedestres nas noites.
A volta para casa foi um desafio a mais para a população que trabalhou até o fim da tarde. Diversas pessoas foram vistas esperando ônibus nos pontos da Savassi e do Funcionários e no centro da cidade.
Enquanto isso, poucos motoristas se apressaram para chegar em casa a tempo do confinamento. Na área central, viaturas da Polícia Militar e agentes da Guarda Municipal intensificaram as blitz para tentar flagrar comerciantes que desrespeitaram o decreto ou pessoas que descumpriram a lei.
De acordo com a PM, as primeiras abordagens são de caráter educacional. Em caso de reincidência, o cidadão pode até mesmo ser conduzido por cometimento de crime contra a saúde pública.
Na Praça Sete, apenas trabalhadores dos serviços essenciais foram vistos depois das 20h. Já a Praça da Liberdade estava completamente vazia, já que o acesso ao interior dela estava bloqueado.
A reportagem do Estado de Minas presenciou uma aglomeração de entregadores de aplicativos na Praça da Savassi. Todos estavam aguardando o início da jornada de trabalho.
Na Lagoa da Pampulha, o habitual movimento de ciclistas e corredores de rua à noite deu lugar a um ambiente calmo e sombrio. Por sua vez, no Viaduto de Santa Tereza, ruas e calçadas estiveram literalmente vazias.
'Ambiente diferente e triste'
Para quem habitualmente trabalha no período noturno, o clima era de estranheza. “Nunca vi essa situação. A cidade está com um ambiente diferente e triste. Espero que tudo volte ao normal o mais rápido possível”, ressalta Matheus Carvalho, de 37 anos, frentista de um posto de combustíveis na Região Noroeste da capital.
Ele conta que o proprietário do estabelecimento autorizou os funcionários a trabalharem somente até a meia-noite, já que o movimento de carros seria teoricamente inferior – antes, ele tinha jornada até 6h. “Espero que, com essas medidas, o comércio possa voltar a abrir normalmente e a cidade voltar ao normal”, diz.
Apesar de ser favorável ao fechamento das atividades não-essenciais, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) havia criticado o toque de recolher decretado por outras cidades da Grande BH.
“Não adianta abrir a cidade toda, como Sabará está fazendo, por exemplo, e amontoar todo mundo de dia, mas fazer toque de recolher durante a noite. Isso é uma brincadeira de péssimo gosto”, afirmou.
Colapso à vista
BH chegou nesta quarta-feira a 96,6% de ocupação dos leitos, a maior desde o início da pandemia. Na rede SUS, o quadro também é gravíssimo, com uma taxa de uso de 91,1%.
Dos 746 leitos para pacientes graves infectados pelo coronavírus em Belo Horizonte, a prefeitura informa que restam somente 25.