Proprietária de uma loja de motopeças na Avenida Vilarinho, tradicional ponto de alagamento de Belo Horizonte, Kátia Carvalho bate com força no balcão do estabelecimento enquanto fala do que chama de "mais uma decepção política para a conta do brasileiro". No caso, a rejeição do empréstimo para as obras de contenção de enchentes na Região de Venda Nova.
Leia Mais
Kalil sobre obra na Vilarinho: 'Deveria ter sido feita há 30 anos'Alagamento causa danos e prejuízo na Estação Vilarinho do metrô; veja fotosBH tem possibilidade de chuvas isoladas nesta quinta-feira (18/3)Obras na Vilarinho, em BH, 'passam no teste' das primeiras chuvasChuvas: Kalil e regionais discutem medidas para evitar incidentes em BHDefesa Civil realiza treinamento contra inundações em BHVisita de vereadores às obras da Vilarinho deve ser remarcada"Isso prova que esses políticos estão preocupados apenas com interesses próprios e de partidos. A população que se lasque. Mas nós não vamos esquecer essa rasteira. E, principalmente, vamos nos lembrar no vereador que ficou neutro na votação, o Cláudio Mundo Novo (PSD). Estava nas mãos dele. E o pior é que ele é aqui da região (de Venda Nova)”, afirma a empresária.
O negócio de Kátia funciona há 12 anos no trecho da Vilarinho mais afetado pelas inundações, próximo ao entroncamento com a Avenida Dom Pedro I. Nas chuvas de janeiro do ano passado, ela conta que acumulou prejuízos de mais de R$ 10 mil reais. “Isso porque, como já estamos escaldados, nos antecipamos e tomamos providências. Os alagamentos aqui nos obrigaram a montar um galpão para guardar equipamentos, peças e motos. Começou a chover, a gente corre com tudo pra lá. Mesmo assim, a água subiu um metro e meio ano passado e eu perdi muita coisa”, conta a empreendedora.
Dono de outro estabelecimento do mesmo ramo, Wagner Prado contabiliza perdas superiores a R$ 600 mil durante os temporais de março de 2020. “Isso porque, pouco antes, em janeiro, eu já tinha amargado um prejuízo de R$ 79 mil. Todo ano é a mesma coisa. A gente tenta se precaver, reforça portão, faz elevação do piso, mas não adianta. Vem a água e leva tudo”, relata o comerciante.
Decepcionado, ele diz que apostava na aprovação do empréstimo proposto pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) para resolver o problema e cobra um entendimento entre o Executivo municipal e os vereadores.
Decepcionado, ele diz que apostava na aprovação do empréstimo proposto pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) para resolver o problema e cobra um entendimento entre o Executivo municipal e os vereadores.
“Fiquei indignado quando soube que a proposta foi barrada. O comércio aqui da região tinha esperança nisso. Achávamos que essa situação que se arrasta há anos, finalmente, teria data para acabar. Daí, veio esse balde de água fria. De qualquer forma, é como diz aquele ditado: não quero saber se o pato é macho, quero saber dos ovos! Todo político, quando assume seu cargo, ganha um salário e um dever. O Kalil e os vereadores que se virem para tirar as obras aqui da região do papel, com ou sem empréstimo”, desabafa Prado.
Morador da Avenida Vilarinho desde que nasceu, o funcionário público Renato Vinícius dos Santos diz que já se acostumou a ter a casa alagada praticamente todos os verões desde 1996. “De lá para cá, só piorou”, relembra. O servidor também cobra um entendimento entre o Legislativo e a PBH para que as intervenções na região sejam executadas.
“Dei uma olhada no projeto e ele parece mesmo faraônico. Compreendo que é muito dinheiro. A proposta talvez tenha que ser adaptada ou reduzida, mas não pode ser simplesmente deixada de lado. Espero que os vereadores se sentem para conversar e cheguem a um consenso”, pondera.
Derrota
A proposta de solicitação do empréstimo foi apresentada à Câmara Municipal pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) em setembro de 2020. Segundo o texto, a quantia seria solicitada ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) – ou outra instituição financeira.
Dos US$ 160 milhões, US$ 83 milhões seriam investidos na instalação dos reservatórios Capão Padre Pedro Pinto, Vilarinho 3, Córrego Candelária, Nado 2, Anuar Menhem e a ampliação do volume do reservatório Liège.
Outros US$ 81 milhões seriam aplicados na urbanização de assentamentos diversos da cidade, como Esperança, Vitória, Rosa Leão e Helena Greco. O montante seria somado ao aporte de R$ 200 milhões obtidos pela prefeitura por meio de um convênio firmado com a Caixa Econômica Federal no fim do ano passado.
(Com informações de Guilherme Peixoto)