Belo Horizonte vive o pior momento da crise de COVID-19, com falta de leitos, medicamentos e outros insumos necessários para internação dos pacientes. Por isso, várias entidades da capital se juntaram ao Conselho Municipal de Saúde (CMSBH), em um manifesto solicitando ao prefeito Alexandre Kalil (PSD) um decreto imediato de lockdown.
No manifesto, chamado de “Em defesa da vida”, a justificativa é respaldada pelo número de pessoas infectadas e ocupação de leitos (enfermaria e CTI) em BH. “Ainda não chegamos no pico da doença e já estamos diante de um colapso do sistema de saúde”, diz o documento.
A presidente do Conselho Municipal de Saúde, Carla Anunciatta, explica que recrudescer o isolamento é a única forma de aliviar a pressão sobre Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), hospitais e outras casas de saúde.
“O que a gente está vivendo — em Belo Horizonte, no estado e no país — é o aumento vertiginoso da transmissão do vírus, da lotação dos leitos de CTI e de enfermaria. Isso leva a um esgotamento do sistema de saúde. Desde o ano passado, a gente tenta evitar. Uma coisa é receber, em uma UPA, 100 pacientes em um dia; outra coisa é receber 500 pacientes em um mesmo dia”, diz.
Fernando Mendonça, presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (SinMed MG), justificou a participação da entidade no manifesto. "Vivemos um momento grave na maior catástrofe sanitária das últimas décadas. Não foi disponibilizada a vacinação sequer para todos os profissionais médicos, muito menos para a população em geral; a capacidade de atendimento das unidades de saúde da capital estão no seu limite, o vírus com suas novas cepas aumento não só a transmissibilidade quanto a gravidade", alertou.
"Nesse cenário, com capacidade reduzida de atendimento, com o número insuficiente de profissionais capacitados para ocupar posições de trabalho em unidades de terapia intensiva. Estamos nas portas do colapso e entendemos que medidas de distanciamento social são no momento, as únicas capazes de diminuir a circulação e contaminação do vírus pela cidade. Não queremos ver pessoas morrendo sem atendimento adequado como já aconteceu no Amazonas, já acontecem agora em São Paulo. E hoje, a notícia de que em Governador Valadares uma paciente morreu à espera de uma vaga CTI", completou Fernando.
Bruno Farias, presidente do Conselho Regional de Enfermagem (COREN-MG), concorda com o posicionamento e acredita que a prefeitura deve adotar as medidas mais rígidas agora. “É necessário um lockdown na cidade, estamos correndo o risco de faltar respiradores e medicamentos para intubação”, ressaltou.
No manifesto, quatro medidas são solicitadas com urgência para a prefeitura de Belo Horizonte:
- Intensificar as medidas de restrição à circulação do vírus da Covid-19 em Belo Horizonte e a decretação imediata de lockdown, como medida sanitária emergencial que já se mostrou eficaz em outras cidades e regiões do Brasil e do mundo;
- Distribuição de cestas básicas e apoio emergencial aos desempregados, trabalhadores informais e pequenas empresas;
- Aumentar ao máximo possível a capacidade de atendimento dos Centros de Saúde, UPA's, SAMU, leitos de enfermaria e CTI's em BH;
- Vacinação de toda população, com prioridade para pessoas com maior risco de morte e contaminação.
Assinaram o documento com a CMSBH, as entidades: Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren-MG), o Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel), o Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (SindMed-BH), o Sindicatos dos Psicólogos de Belo Horizonte (PSind), o Conselho Estadual de Saúde (CES-MG), a Arquidiocese de Belo Horizonte, juntamente com o Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMSBH).
COVID-19 em BH
Nessa quinta-feira (18/3), o boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura revelou que a taxa de ocupação das UTIs para pacientes com COVID-19 nos hospitais privados de Belo Horizonte chegou a 109,6%. No levantamento anterior, divulgado nessa quarta (17/3), a taxa era de 102,8%.
A ocupação geral, no entanto, se manteve em 96,6%. Apesar do crescimento da rede privada, no SUS houve queda de 91,1% para 85,4%. Essa queda foi puxada por uma ampliação na oferta de vagas: mais 18 entraram na conta nesta quinta.
Em número de casos, a cidade chegou a 127.136 confirmados: 2.980 mortes, 6.769 pacientes em acompanhamento e 117.387 recuperados. No período de 24 horas, houve crescimento de 98 casos e 23 óbitos.
Porém, o pequeno salto no número de casos aconteceu por instabilidade no sistema do SUS, segundo a prefeitura. Nas últimas semanas, a capital mineira tem registrado crescimento sempre acima de 1 mil diagnósticos a cada boletim.
Nota da Prefeitura de BH
"Desde o dia 6 de março, a prefeitura já havia decretado a permissão para o funcionamento apenas das atividades essenciais na cidade. E seguiu com outras medidas restritivas a partir 13 de março - com fechamento de praças e pistas de corrida – e, a partir de 15 de março - com a proibição de celebrações religiosas presenciais, suspensão do varejo de material de construção e a permissão de venda apenas por delivery ou drive thru, sem retirada no local para as atividades não autorizadas a funcionar.
Com isso, o município já cumpria, inclusive com mais rigor, as medidas previstas na onda roxa, exceto em relação às restrições de circulação entre 20h e 5h e à circulação de pessoas com sintomas de gripe, que começaram a valer a partir do dia (17) na cidade.
Nas últimas semanas, o município também intensificou as ações de fiscalização, para garantir o cumprimento do decreto municipal. Os estabelecimentos que não cumprirem com as medidas de combate à Covid-19 estarão sujeitos à interdição e multa no valor de R$ 18.359,66.
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa que os critérios para realização de exame para detecção estão disponíveis na Nota Técnica 033/2020.
Os pedidos para realização de exames, de acordo com os critérios estabelecidos na Nota Técnica 033/20202, podem ser solicitados durante consulta pelos médicos que atuam nas unidades de saúde do SUS-BH.
Desde março de 2020, o município mantém a oferta mensal das cestas básicas para famílias de estudantes e famílias em situação de vulnerabilidade social, assim como kits de higiene para famílias residentes de vilas e favelas cadastradas no CadÚnico. No período, foram distribuídas 3 milhões de cestas básicas, totalizando 55 mil toneladas de alimentos.
O Banco de Alimentos também segue em funcionamento, com acesso a alimentos in natura para complementação de refeições. Até o momento foram distribuídas 350 toneladas de alimentos pelo Banco, complementando mais de 2 milhões de refeições. Não há previsão de substituir o papel e a oferta do Governo Federal, considerando as responsabilidades dos diversos entes e as previsões do pacto federativo."