
No manifesto, chamado de “Em defesa da vida”, a justificativa é respaldada pelo número de pessoas infectadas e ocupação de leitos (enfermaria e CTI) em BH. “Ainda não chegamos no pico da doença e já estamos diante de um colapso do sistema de saúde”, diz o documento.
A presidente do Conselho Municipal de Saúde, Carla Anunciatta, explica que recrudescer o isolamento é a única forma de aliviar a pressão sobre Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), hospitais e outras casas de saúde.
“O que a gente está vivendo — em Belo Horizonte, no estado e no país — é o aumento vertiginoso da transmissão do vírus, da lotação dos leitos de CTI e de enfermaria. Isso leva a um esgotamento do sistema de saúde. Desde o ano passado, a gente tenta evitar. Uma coisa é receber, em uma UPA, 100 pacientes em um dia; outra coisa é receber 500 pacientes em um mesmo dia”, diz.
Fernando Mendonça, presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (SinMed MG), justificou a participação da entidade no manifesto. "Vivemos um momento grave na maior catástrofe sanitária das últimas décadas. Não foi disponibilizada a vacinação sequer para todos os profissionais médicos, muito menos para a população em geral; a capacidade de atendimento das unidades de saúde da capital estão no seu limite, o vírus com suas novas cepas aumento não só a transmissibilidade quanto a gravidade", alertou.
"Nesse cenário, com capacidade reduzida de atendimento, com o número insuficiente de profissionais capacitados para ocupar posições de trabalho em unidades de terapia intensiva. Estamos nas portas do colapso e entendemos que medidas de distanciamento social são no momento, as únicas capazes de diminuir a circulação e contaminação do vírus pela cidade. Não queremos ver pessoas morrendo sem atendimento adequado como já aconteceu no Amazonas, já acontecem agora em São Paulo. E hoje, a notícia de que em Governador Valadares uma paciente morreu à espera de uma vaga CTI", completou Fernando.
Bruno Farias, presidente do Conselho Regional de Enfermagem (COREN-MG), concorda com o posicionamento e acredita que a prefeitura deve adotar as medidas mais rígidas agora. “É necessário um lockdown na cidade, estamos correndo o risco de faltar respiradores e medicamentos para intubação”, ressaltou.
No manifesto, quatro medidas são solicitadas com urgência para a prefeitura de Belo Horizonte:
- Intensificar as medidas de restrição à circulação do vírus da Covid-19 em Belo Horizonte e a decretação imediata de lockdown, como medida sanitária emergencial que já se mostrou eficaz em outras cidades e regiões do Brasil e do mundo;
- Distribuição de cestas básicas e apoio emergencial aos desempregados, trabalhadores informais e pequenas empresas;
- Aumentar ao máximo possível a capacidade de atendimento dos Centros de Saúde, UPA's, SAMU, leitos de enfermaria e CTI's em BH;
- Vacinação de toda população, com prioridade para pessoas com maior risco de morte e contaminação.
Assinaram o documento com a CMSBH, as entidades: Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren-MG), o Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel), o Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (SindMed-BH), o Sindicatos dos Psicólogos de Belo Horizonte (PSind), o Conselho Estadual de Saúde (CES-MG), a Arquidiocese de Belo Horizonte, juntamente com o Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMSBH).
COVID-19 em BH
Nessa quinta-feira (18/3), o boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura revelou que a taxa de ocupação das UTIs para pacientes com COVID-19 nos hospitais privados de Belo Horizonte chegou a 109,6%. No levantamento anterior, divulgado nessa quarta (17/3), a taxa era de 102,8%.
A ocupação geral, no entanto, se manteve em 96,6%. Apesar do crescimento da rede privada, no SUS houve queda de 91,1% para 85,4%. Essa queda foi puxada por uma ampliação na oferta de vagas: mais 18 entraram na conta nesta quinta.
Em número de casos, a cidade chegou a 127.136 confirmados: 2.980 mortes, 6.769 pacientes em acompanhamento e 117.387 recuperados. No período de 24 horas, houve crescimento de 98 casos e 23 óbitos.
Porém, o pequeno salto no número de casos aconteceu por instabilidade no sistema do SUS, segundo a prefeitura. Nas últimas semanas, a capital mineira tem registrado crescimento sempre acima de 1 mil diagnósticos a cada boletim.
Nota da Prefeitura de BH
"Desde o dia 6 de março, a prefeitura já havia decretado a permissão para o funcionamento apenas das atividades essenciais na cidade. E seguiu com outras medidas restritivas a partir 13 de março - com fechamento de praças e pistas de corrida – e, a partir de 15 de março - com a proibição de celebrações religiosas presenciais, suspensão do varejo de material de construção e a permissão de venda apenas por delivery ou drive thru, sem retirada no local para as atividades não autorizadas a funcionar.
Com isso, o município já cumpria, inclusive com mais rigor, as medidas previstas na onda roxa, exceto em relação às restrições de circulação entre 20h e 5h e à circulação de pessoas com sintomas de gripe, que começaram a valer a partir do dia (17) na cidade.
Nas últimas semanas, o município também intensificou as ações de fiscalização, para garantir o cumprimento do decreto municipal. Os estabelecimentos que não cumprirem com as medidas de combate à Covid-19 estarão sujeitos à interdição e multa no valor de R$ 18.359,66.
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa que os critérios para realização de exame para detecção estão disponíveis na Nota Técnica 033/2020.
Os pedidos para realização de exames, de acordo com os critérios estabelecidos na Nota Técnica 033/20202, podem ser solicitados durante consulta pelos médicos que atuam nas unidades de saúde do SUS-BH.
Desde março de 2020, o município mantém a oferta mensal das cestas básicas para famílias de estudantes e famílias em situação de vulnerabilidade social, assim como kits de higiene para famílias residentes de vilas e favelas cadastradas no CadÚnico. No período, foram distribuídas 3 milhões de cestas básicas, totalizando 55 mil toneladas de alimentos.
O Banco de Alimentos também segue em funcionamento, com acesso a alimentos in natura para complementação de refeições. Até o momento foram distribuídas 350 toneladas de alimentos pelo Banco, complementando mais de 2 milhões de refeições. Não há previsão de substituir o papel e a oferta do Governo Federal, considerando as responsabilidades dos diversos entes e as previsões do pacto federativo."