Jornal Estado de Minas

FEMINICÍDIO

Polícia prende suspeito de matar cunhada e cometer estupros



Um homem de 42 anos é suspeito de matar a cunhada, de 44 anos, e cometer crimes sexuais, um deles contra ela, em Itabirito e Ouro Preto, na Região Central de Minas. A morte da vítima foi descoberta no início deste mês e o homem está preso. A Polícia Civil deu mais detalhes do caso em uma entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (22/3). 





De acordo com o delegado Frederico Ribeiro de Freitas, titular da Delegacia de Polícia Civil em Itabirito e responsável pela investigação, o desaparecimento da mulher foi denunciado em 26 de fevereiro e as diligências começaram.

Uma semana depois, uma mochila e documentos da vítima foram localizados. À tarde, nesse mesmo dia, em uma estrada de terra em direção ao município de Rio Acima, foram localizadas fitas plásticas para atar mãos e um sutiã. Em 8 de março, em uma área de vegetação, um corpo foi localizado. Por meio da perícia, foi possível identificar que tratava-se da mulher. 

O suspeito chegou a ser ouvido como testemunha durante as investigações do desaparecimento e as atitudes dele chamaram a atenção dos policiais. “Quando ele foi ouvido pela primeira vez, contou algumas histórias muito estranhas, como que teria servido ao Exército, que teria arrumado problemas com um tenente-coronel no Rio de Janeiro, isso também foi afastado posteriormente”,  explica o delegado. 





Nessa primeira abordagem, ele negou qualquer participação no crime. No entanto, segundo Freitas, desde a denúncia do desaparecimento, o comportamento dele com os familiares e colegas mudou muito. “Ele se tornou uma pessoa muito fria. A própria esposa dele, que é irmã da vítima, ficou muito preocupada. Com certo receio, inclusive, de estar morando com ele. Chegando a pedir que os familiares não saíssem da casa dela. Isso também chamou muito a nossa suspeita."

"A partir do dia 17, quando ocorreu a prisão dele por ordem judicial, foi solicitada pela Polícia Civil uma busca e apreensão domiciliar e uma prisão temporária para verificação e coleta de provas, até porque a gente tinha muito receio de que um novo feminicídio poderia ocorrer em razão da esposa dele”, contou o delegado. 

“Em 17 de março, foi efetivada a prisão do suspeito, onde ele confessou parcialmente a autoria do crime. Há fortes indícios de crimes sexuais e também ocultação de cadáver, porque o corpo foi colocado no meio de uma mata bem densa e de difícil acesso”, explicou Freitas. “Havia preservativos no local e fita de mobilização. Estamos fazendo diligências finais para saber se houve crime sexual momentos antes da consumação. Ele alega que o crime foi em legítima defesa, tese que a gente não corrobora até porque a vítima era muito pacífica, muito caseira.” 

A vítima, a irmã e o suspeito moravam na mesma casa, onde o crime ocorreu. “Os próprios parentes e amigos falam que (o relacionamento entre eles) era muito bom. Eram pessoas próximas, amigas, que viviam em harmonia. Porém, nos últimos 15 dias, a vítima começou a manifestar para os pais e para a outra irmã que queria se mudar, que não queria ficar mais lá porque estava muito triste e preocupada. Não falou o motivo para ninguém, mas ela já mostrava esse interesse em sair da casa da irmã", comenta.



"Então acreditamos que, talvez, não tem como afirmar por enquanto, essas violências sexuais possam até ter ocorrido de forma repetida, não foi um fato isolado. A ponto de ela não concordar com a atitude do cunhado, e ele também com medo de ela expor que ele poderia ter praticado um estupro, acabou cometendo o feminicídio como forma de ocultar esse crime prévio. Tudo isso na casa onde os três residiam e no momento em que a irmã estava trabalhando, ela não estava em casa”, detalhou Frederico de Freitas. 

A vítima ia trabalhar todos os dias em um táxi enviado pela empresa. No dia do crime, segundo as investigações, o motorista passou no horário combinado, mas foi recebido pelo investigado, que disse que ela já teria ido embora, o que não se confirmou. 

Vítima gravemente ferida

De acordo com o delegado, o homem alega ter matado a cunhada em legítima defesa após ela ter usado uma chave de fenda para golpeá-lo e, ao se defender, caiu em cima da vítima. “Ocorre que ela tem mais e 12 fraturas nas costelas, segundo relatório da necrópsia dela. O que impossibilita que uma simples queda de uma pessoa causasse tamanhas lesões.



Ela também foi encontrada com quatro metros daquela fita ‘silver tape’ na boca. São fatos que, para a investigação criminal, são muito sensíveis, que demonstram que não necessariamente a versão dele se confirma”, contou o delegado. Segundo ele, a mulher foi morta por sufocamento. 

Ainda sobre a alegação de legítima defesa, o delegado disse ter questionado o suspeito sobre o fato de ele não ter chamado a polícia ou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas ele não soube responder. “Ele disse que ficou chorando perto do corpo e não sabia o que fazer. Mas, 30 minutos depois, ele escondeu o corpo. Então, a versão que ele apresenta não necessariamente corresponde aos fatos”, disse o titular da delegacia de Itabirito.

A policia apurou que o investigado transportou o corpo da mulher no porta-malas do carro dele. A movimentação foi flagrada por câmeras de segurança e refutou um dos álibis apresentados por ele, de que teria ido a um posto de combustíveis para abastecer. O investigado também disse, segundo o policial, que está arrependido. 





O delegado acredita que, pelo indiciamento por feminicídio, outras qualificadoras e caso seja confirmado que houve estupro da vítima, a pena do suspeito, se condenado, deve passar de 25 anos de prisão. 

Estupro em Ouro Preto e denúncias

O delegado também ressaltou, na entrevista coletiva, que o suspeito foi investigado por um estupro registrado no ano passado na cidade histórica de Ouro Preto, vizinha a Itabirito. “Então, possivelmente possa ter novas vítimas que também estão envolvidas em crimes sexuais praticados por essa pessoa. Qualquer um, mulher, homem ou mesmo criança – acompanhada dos pais ou responsáveis -, que tiver algum indício, alguma suspeita de crime sexual praticado nos últimos dois anos em Itabirito e na região, que procure a Delegacia de Polícia de Itabirito para que possamos tomar providências, conversar e entender o caso”, disse o delegado. 

Ele reforça que a denúncia também pode ser feita em qualquer delegacia do estado ou pelo telefone 181, de forma anônima. 

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