A explosão de internações de pacientes com COVID-19 e o desabastecimento de cilindros de oxigênio são a receita do colapso da saúde em Igarapé, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
“A situação é gravíssima. A gente está remanejamento do jeito que a gente pode”, disse. Segundo Josefa, a enfermaria precisou ser adaptada para dar conta dos pacientes com COVID-19 que deveriam estar em leito de terapia intensiva. “A gente está levando para enfermaria, estamos adaptando lá com respirador, com o que a gente pode, mas não é um lugar apropriado”, disse.
“Infelizmente, se a gente não conseguir UTI, corre grande risco iminente de óbitos”, alerta Josefa Souza Moura, gerente da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Igarapé. A profissional de saúde relata o desespero dos colegas para salvar vidas em meio ao colapso do sistema.
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Os casos leves de infecção por novo coronavírus são orientados ao tratamento em casa. Na UPA, mesmo, somente pacientes em casos graves. “Aqueles com problema mais agravante, que precisa de respirador, a gente está encaminhando para ficar aqui na urgência da UPA. Só que já está lotado.”
Agonia da espera por leito
Na fila de espera por um leito estruturado está o pai de Adriano Pedro Soares. Aos 69 anos, o pai do operador de máquinas foi internado no sábado depois de um possível diagnóstico errado. A família agora está na angústia entre a falta de informação e a procura de uma vaga em CTI.
“Meu pai começou passar mal em casa, veio (na UPA) na terça-feira, falaram que era dengue, mas acho que confundiram um pouco o diagnóstico dele. No sábado voltou, ontem às 20h o quadro agravou e parece que já precisa entubar”, conta. “A gente sabe que o caos está no Brasil, no mundo todo.”
Faltam cilindros de oxigênio
Ontem, Igarapé recebeu a doação de 15 cilindros. A previsão é que até o fim da semana tenham 50. Para agilizar os atendimentos na cidade, a meta da prefeitura é conseguir 100 até o fim do mês. “O problema nunca foi o oxigênio, mas, sim, que não tinha mais cilindro. Agora, a gente já está regularizando aos poucos”, informou o secretário municipal de Saúde, Leonardo Barberá.
O chefe do gabinete da linha de frente contra a pandemia do novo coronavírus conta que o aumento da internação nas últimas semanas demandou maior quantidade de oxigênio. “Há duas semanas o Hospital de Campanha tinha 11 leitos ocupados, hoje temos 22 internados, sendo que três estão em uso de respiradores e temos mais cinco pacientes graves que podem evoluir para intubação e precisem de ventilador”, informou Barberá.
O chefe do gabinete da linha de frente contra a pandemia do novo coronavírus conta que o aumento da internação nas últimas semanas demandou maior quantidade de oxigênio. “Há duas semanas o Hospital de Campanha tinha 11 leitos ocupados, hoje temos 22 internados, sendo que três estão em uso de respiradores e temos mais cinco pacientes graves que podem evoluir para intubação e precisem de ventilador”, informou Barberá.
O secretário explica que a falta de cilindros ocorre porque os hospitais precisam de um estoque extra para que seja possível o reabastecimento do gás fundamental para pacientes internados. Funciona assim: se um hospital está fazendo uso de 10 cilindros de oxigênio, precisa ter outros cilindros abastecidos como reserva e de outros que, quando desabastecidos, saem do ambiente hospitalar e vão a uma distribuidora para serem recarregados.
“Em Igarapé sempre trabalhamos com 30 cilindros extras. Quando acabava, a gente pedia para a empresa e sempre foram mandando mais. Só que agora as empresas também estão com dificuldade e acabaram faltando cilindros da reserva”, explicou Leonardo.
Ele disse que tenta contrato com outras empresas, além da Agás Gases, que fornece o insumo ao município. “Pedimos cerca de 25 cilindros, assim hoje teríamos em torno de 50 livres, para ajudar no revezamento. Não temos que pensar somente nos 22 internados, do jeito que a pandemia está esse número pode aumentar a qualquer momento”, alertou.
Ele disse que tenta contrato com outras empresas, além da Agás Gases, que fornece o insumo ao município. “Pedimos cerca de 25 cilindros, assim hoje teríamos em torno de 50 livres, para ajudar no revezamento. Não temos que pensar somente nos 22 internados, do jeito que a pandemia está esse número pode aumentar a qualquer momento”, alertou.
Distribuidora de oxigênio relata alta na demanda
A Agás Gases, distribuidora com sede em Itaúna, no Centro-Oeste de Minas, afirmou que a demanda subiu exponencialmente no último mês. “Aumentou e muito. Estamos muito preocupados. Estamos fazendo campanha pra ver se a gente consegue esses cilindros”, disse Eugênio Pereira da Silva, proprietário da empresa.Nesta manhã, ele se reuniu com o prefeito de Igarapé, Arnaldo Chaves (PP), para discutir as medidas com o desabastecimento.
Eugênio conta que a empresa atende diversas cidades em Minas, mas que Igarapé encontra-se em estado crítico, ao lado de outros municípios que também cresceram com os pedidos de cilindros: São Joaquim de Bicas, Itaúna e Pará de Minas. Desde 2001, quando ele fundou a distribuidora, ele nunca presenciou situação semelhante.
“Nunca vi uma demanda tão grande quanto agora. Primeira vez, espero que seja a última. É muito complicado ver que a pessoa precisa de oxigênio e não tem”, lamenta o empresário. “Graças a Deus a gente consegue atender os contratos. Agora estamos buscando os cilindros emprestados. Corre o risco, se agravar do jeito que está hoje, o risco é grande da gente não conseguir atender”, alerta.