Na região hospitalar, onde o maior número de instituições e pacientes do novo coronavírus estão internados, a UPA Centro-Sul, que abriga o Centro Especializado em COVID-19 (Cecovid), agora recebe até mesmo pacientes de outras UPAs, que não encontram mais vagas em hospitais.
Mesmo com recursos, plano de saúde e dispostos a bancar a internação, a família do tatuador André Luiz Santos Lopes, de 43 anos, ainda não conseguiu uma vaga para ele em um hospital. Intubado desde segunda-feira (22/3), o tatuador saiu da UPA Nordeste e foi levado diretamente para a UPA Centro-Sul.
"Temos amigos que são médicos, que trabalham em hospitais, ofereci até para pagar pela transferência, mas nem dinheiro consegue vagas em Belo Horizonte mais. Estamos nos sentindo impotentes e desesperados, sabendo que em um hospital ele teria um tratamento melhor do que em uma UPA", afirma a sogra do tatuador, a empresária Jucimar Amorim Pereira, de 54.
Durante esta semana, a reportagem do Estado de Minas circula pela região hospitalar para relatar o colapso médico de dentro da área com mais pacientes da capital mineira. A manhã desta terça-feira foi quando se viu a maior concentração de pessoas buscando atendimento ou notícias de internos na UPA Centro-Sul, concentrando 46 pessoas indo e vindo pela recepção - o movimento dos outros dias era de 15 a 20 pessoas.
Um grande número de pessoas estava aflito, com os telefones grudados na orelha, tentando conseguir uma vaga para os parentes internados ou suplicando por ajuda para o paciente. "Antes, a gente não sabia se ia ver a pessoa. Agora, a gente só quer que tenha o melhor tratamento, pode até ser longe. Isso a gente resolve depois", disse uma senhora visivelmente abalada, que não se identificou.
A prefeitura identificou a procura pelas UPAs e classifica o atendimento de pessoas com os sintomas da COVID-19 como preferencial, com adaptações que seguem sendo feitas até sexta-feira (26/3) no sistema, tendo anunciado a ampliação de 14 leitos para esses pacientes.
A rapidez com que as pessoas estão sendo internadas também assusta e colabora para abarrotar o sistema de saúde. No caso do tatuador, foram apenas 10 dias. "A gente não imaginava que o André estava contaminado pelo coronavírus. Levamos ele para o médico particular duas vezes, porque ele se queixava de dores nas costas. O médico disse que era apenas dor na coluna mesmo, mas pediu o exame para COVID-19 na última consulta. Aí o teste veio positivo. Em 10 dias, ele estava intubado", conta a mulher de André Luiz, a autônoma Jenifer Bianca Amorim Pereira, de 31.
De acordo com a família, na madrugada de segunda-feira ele precisou ser intubado. "O André começou a se sentir mal. Parou de se alimentar nos últimos dias. Teve febre persistente e quando começou a ter falta de ar, chamamos o Samu, que o socorreu com rapidez. Mas até agora ele está em uma UPA, precisamos transferi-lo o mais rápido possivel", disse a mulher do tatuador.
O colapso do sistema causa sentimentos contrastantes. Enquanto algumas pessoas lutam para encontrar vagas UTI para pacientes intubados, a dor e a angústia não são menores para os que conseguem. "Estava acompanhando a situação da minha avó no tratamento contra a COVID-19 e ela estava indo bem. Até que hoje (23/3), ela precisou de ventilação mecânica e está internada. Foi uma piora, reduz as chances dela de 60% para 40%, mas estou confiante de que ela vai sair dessa", disse o auxiliar de farmácia Charles Júnior Vieira Oliveira, de 22 anos.
Charles acompanha o tratamento da sua avó, Hilda Vieira de Aguiar Oliveira, de 70 anos, desde que ela foi internada no hospital do Ipsemg. "Enquanto a pessoa está acordada, sendo tratada, a gente sabe que ela luta, conta para os médicos como está se sentindo, onde tem dor. São informações muito importantes. Infelizmente, quando a pessoa é intubada e sedada, se torna 100% refém de uma máquina", lamenta o auxiliar de farmácia.
Segundo ele, a família está afastada desde o início do isolamento mais duro em BH, mas um primo pequeno acabou apresentando sintomas, depois um tio e uma tia grávida testaram positivo. "Todos tiveram apenas sintomas mais leves, mas a minha avó, por ter problemas respiratórios, acabou tendo um quadro pior. Tenho certeza de que ela vai sair dessa e voltar para a nossa casa", espera o neto.
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.
Vídeo explica porque você deve aprender a tossir
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.
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