Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

COVID-19: velório de pastor causa apreensão em São Miguel do Anta

A morte do pastor Sebastião Misael de Vasconcelos causou apreensão entre os moradores da cidade de São Miguel do Anta, na Região da Zona da Mata de Minas. O religioso morreu em decorrência da COVID-19 e a família anunciou que faria um velório público no ginásio da cidade. Moradores do município temeram que a cerimônia provocasse aglomeração, já que ele era uma figura conhecida e atuante na comunidade. As autoridades intervieram, e o velório foi cancelado.




 
A nota de falecimento divulgada pela Assembleia de Deus informava que o corpo do pastor seria velado nesta quinta-feira (25/3), a partir das 8h, no Ginásio Poliesportivo Otacílio Fonseca, com sepultamento marcado para 10h, no cemitério local. 

“Esclarcemos a todos que mesmo dando entrada no HSJB no dia 1/3 por COVID, hoje, o pastor, ‘conforme declaração médica em poder da família' encontra-se apto para sepultamento em público por que já não é portador e transmissor do vírus. O velório do pastor será organizado com EXTREMO cuidado para cumprirmos TODOS os cuidados mediante a pandemia que estamos enfrentado”, dizia um trecho da nota. 
 
 
 
 

Além disso, o genro do pastor fez uma live no Facebook da Assembleia de Deus da cidade para comunicar a morte do religioso e explicar como ocorreria o velório.



As pessoas poderiam passar por um corredor, para se despedir. Porém, não seria permitido parar em frente ao caixão. A família ficaria isolada em um outro local e não receberia os cumprimentos. 
 
 

Segundo alguns moradores ouvidos pela reportagem do Estado de Minas, nos últimos dias, várias pessoas foram contaminadas pela COVID-19 na cidade.

Uma das hipóteses para a contaminação foi, justamente, um velório ocorrido há cerca de 30 dias, sem levar em conta as normas de segurança.

Pablo Ramon Nunes Santos, secretário de Saúde de São Miguel do Anta, afirmou que a família não tinha autorização para realizar a cerimônia. 

“Não depende só deles. O hospital tem todo um protocolo a seguir. Como foi óbito de COVID, eu acredito que o corpo não sai do necrotério, sem ser dentro de um saco lacrado, numerado.”

Ainda de acordo com ele, “a funerária querendo ou não tem suas responsabilidades. Então, eu acredito que isso é um fato quase impossível de acontecer. Tanto a família quanto a empresa que forneceu o serviço funerário estão cientes, também, do risco que eles estão correndo e a responsabilidade é deles. Porque tem todo um protocolo a seguir. O paciente estava na ala de COVID, foi contaminado por COVID, veio a óbito por causa da doença. Então, não tem por que sair fora dos protocolos”, disse.




 
Questionado a respeito de um carro de som que circulou pela cidade convidando os moradores para o velório, o secretário respondeu: “qualquer um que quiser por um carro de som para rodar, é impossível a gente impedir. É um direito da pessoa. Agora, uma coisa é velar um corpo que veio a óbito por causa do COVID. Já muda totalmente a conversa. Não tem como. Eles não tem liberação para isso e tenho certeza que isso não vai acontecer.”

Pablo Ramon garantiu que a prefeitura fiscalizaria a cerimônia para evitar a aglomeração de pessoas e disse acreditar que a família seguiria as medidas de segurança impostas pelo protocolo.  

“Eles vão seguir o protocolo. Tenho certeza que a funerária não vai deixar de seguir. Tenho certeza que vai dar certo”, concluiu. 

Velório cancelado


A pressão dos moradores preocupados com a possibilidade de aglomeração surtiu efeito, e o velório acabou não sendo aberto ao público.

Em nota no Facebook, publicada na manhã desta quinta-feira (25), familiares do pastor emitiram um comunicado informando terem sido "covardemente obrigados" a cancelar a cerimônia, por ordem das autoridades, depois de denúncias feitas a "órgãos superiores em Belo Horizonte".

O corpo seria levado diretamente para o cemitério, onde ocorreria uma despedida rápida reservada à família. 
 
 
*Estagiária sob supervisão do subeditor Eduardo Oliveira 





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