Jornal Estado de Minas

COVID-19

Projeto Inumeráveis leva conforto para famílias de vítimas da COVID-19



A escalada de mortes por COVID-19 no Brasil alcança patamares cada vez maiores, chegando ao ápice, nesta semana, de uma margem superior de 3 mil vidas perdidas registradas em 24 horas. Índices tão grandes contribuíram para o país passar dos 300 mil óbitos causados pelo coronavírus ontem. Mas, do contraponto da frieza dos números, nasceu o projeto Inumeráveis, que conta a história das vítimas da doença em território nacional.





Para o Inumeráveis, não há números e estatísticas. O principal intuito do projeto é contar a história de vítimas da COVID-19 sob o ponto de vista de amigos e familiares. A obra, que foi criada por Edson Pavoni e Rogério Oliveira, é totalmente colaborativa e foi a maneira encontrada para humanizar o luto das famílias que perderam entes queridos. Gabriela Veiga é uma das lideranças do Inumeráveis. Ela conta que a primeira conversa com familiar de pessoas que morreram com COVID começou com lembranças ruins de quem estava do outro lado da linha, mas terminou de uma maneira suave.

“Essa pessoa que a gente entrevistou começou muito mal e terminou melhor a entrevista. Esse fato de terminar melhor e depois dar um feedback: 'Foi muito bom, obrigado', a gente começou a entender que tinha uma preciosidade no fato de a pessoa começar mal e terminar melhor”, relata Gabriela. Uma especialista em luto, então, foi convidada para participar do projeto e ajudar os outros familiares a entender como funciona todo o processo pós-morte para quem fica. Isso ajudou no diálogo com as famílias. “É importante a gente dizer que não estamos santificando as pessoas que se foram, mas celebrando as vidas que se foram. Foi assim que começou o processo”, explica.

O Inumeráveis conta com voluntários para fazer o projeto acontecer. Centenas de pessoas já fizeram parte da obra. Atualmente, 80 profissionais estão ativos e se dividem em tarefas. Jornalistas, por exemplo, encontram histórias. Os próprios comunicadores ou escritores redigem o texto, que passa pelo processo de edição, apuração e moderação, até que é publicado no site.





Histórias


Um dos relatos publicados no Inumeráveis é o de Benedita Aparecida de Jesus Oliveira, de 61 anos. Ela nasceu em Cambuí, no Sul de Minas, mas morreu em São Paulo, vítima da COVID-19. Ela deixou três filhos, além de netos, amigos e muitas saudades. Benê, como gostava de ser chamada, não dispensava um pastel de queijo, batata frita e refrigerante.

Aos 27 anos, Caroline Fátima Nascimento Pacheco, morreu em Barbacena, na Zona da Mata mineira, por complicações da COVID-19. Ela também teve sua história publicada no Inumeráveis. Uma amiga de Caroline disse, em testemunho enviado ao projeto, que a jovem amava intensamente e que demostrava estar sempre presente na vida de amigos, do afilhado, do marido e da família.

O coronavírus também causou a morte de Danilo Alves Rocha, de 34. Natural de Montes Claros, no Norte de Minas, Danilo, de acordo com testemunho enviado para o Inumeráveis, foi classificado como uma pessoa de sorriso tímido e coração enorme, apaixonado pela família e pela namorada, que ia se tornar sua esposa em junho deste ano. Ele até chegou a ganhar um concurso de "amigo mais legal" no bairro onde morava. João Gonçalves da Rocha, seu pai, também foi vítima da COVID-19 e teve sua história publicada no site do projeto.





“A gente nem pensa que o número tem história. Não são números. São vidas de pessoas que se foram, que tinham histórias e que deixaram muitos amores. É um passivo emocional muito grande. Contar as histórias é o contraponto da frieza”, destaca Gabriela Veiga.

Memorial


Gabriela também é líder do núcleo de diversidade do Inumeráveis. O núcleo é focado em buscar histórias de minorias, como a comunidade negra, população indígena, quilombolas, periféricos, LGBTQIA%2b, além de pessoas com deficiência. Além de falar sobre as vidas perdidas, a ideia, também, é aprofundar em explicações. “Temos esperança de que possamos ajudar a entender o que aconteceu com essas minorias, por que aconteceu e onde aconteceram esses descasos com essas minorias do nosso país. É um projeto de muito estudo, pois para estruturar tudo isso precisamos entender, falar com essas comunidades – muitas estão no meio da floresta, muitas estão sem internet. Então é algo que levará tempo”, frisa.

O projeto, inclusive, busca voluntários para fazer parte do núcleo da diversidade, como pessoas envolvidas com a causa quilombola, indígena, LGBTQIA%2b, entre outros. Para se inscrever, basta ir ao site do Inumeráveis. O projeto também pretende abrir um memorial físico. Hoje, lideranças do projeto vão se reunir com o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Alê Youssef, para propor a ideia. O objetivo do espaço é que famílias que não puderam se despedir de entes queridos, vivam um ritual de fim e de recomeço.





“Um dos objetivos do memorial físico é propor uma jornada em que a pessoa, a partir do que a Ana Quintana (especialista em luto) contribuiu com a gente sobre o que é o luto, as etapas do luto, propor tudo isso para que a pessoa passe por essa jornada e viva, ali, um ritual de fim e um ritual de recomeço. A nossa ideia é que a sociedade brasileira não esqueça o que aconteceu, que não deixe cair no esquecimento o que aconteceu nesta pandemia”, diz Gabriela.

Mas, afinal, quantos nomes estão registrados, atualmente, no projeto Inumeráveis? A pergunta ficará sem resposta, uma vez que números não fazem parte da rotina dos voluntários. O certo é que eles desejam parar de contar histórias de vidas perdidas. “Os números não importam para a gente. Não falamos sobre eles. O que importa para gente é quem está lá, essa família que falou com a gente, mas o que eu posso te dizer é que falta muita história para contar, infelizmente. Queríamos muito parar de contar, mas vai demorar muito tempo ainda”, conclui Gabriela.

Para ter acesso ao memorial virtual, basta acessar o site do Inumeráveis. Há, também, o Instagram do projeto.



O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?

Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.



Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência

Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:

 





audima