“Podem abrir quantos leitos forem. Se não houver atitude proativa da sociedade, vamos ter que abrir covas”. O desabafo é do secretário municipal de Saúde de Janaúba, no Norte de Minas, Helvécio Campos Albuquerque, que pede aos moradores para respeitar o isolamento social e evitar mortes devido à falta de vagas nos hospitais para pacientes da COVID-19, tanto em leitos clínicos como de UTI. Enquanto não há vacinas para todos, a melhor solução é o distanciamento social para evitar contaminação. A superlotação hospitalar diante do agravamento da pandemia não ocorre somente nas cidades-polo. O colapso também é verificado em municípios de médio porte, referência para o recebimento de pacientes das pequenas cidades, que são suas vizinhas, onde a estrutura de saúde se limita a um posto ou UPA (Unidade de Pronto Atendimento. Este é o caso de Janaúba, de 72 mil habitantes, que recebe doentes para internação de outros 15 municípios norte-mineiros (microrregião da Serra Geral).
Os hospitais de Janaúba têm situação de colapso, com o atendimento de pacientes da COVID-19 acima da capacidade. Na última quinta-feira, a ocupação de leitos clínicos para coronavírus na cidade chegou a 141% enquanto a taxa de ocupação de leitos clínicos de UTI atingiu 138% – o percentual passa de 100% quando pacientes precisam ser acomodados de forma improvisada em outros espaços do hospital, devido à falta de vagas. Janaúba dispõe de somente 22 leitos clínicos e de outros 18 leitos de UTI, instalados no Hospital Regional da cidade, destinados a pacientes da COVID-19.
“A situação é de colapso do sistema de serviços de saúde da região”, afirma o secretário Helvécio Campos. “Nunca a tivemos um vírus tão transmissível, que pega tão rapidamente uns aos outros, que rapidamente faz as pessoas adoecerem. E quando mais casos agravados, estes vão para dentro hospitais, podendo entrar na fila daqui a pouco, não para comprar comida ou algo para divertir, não para entrar em um bar, mas (entrar) na fila do tubo (de oxigênio)”, alerta o secretário de Saúde de Janaúba.
Além da falta de vagas, o secretário reclama que, no enfrentamento da pandemia, o município precisa superar outras barreiras, como falta de espaço físico nos hospitais para ampliação do número de leitos, a escassez de medicamentos do “kit intubação” de pacientes graves da doença respiratória. Outra dificuldade, lembra, após um ano de pandemia, é a “exaustão das equipes de saúde” – médicos, enfermeiros e outros profissionais. De acordo com os últimos dados da Secretaria de Saúde de Janaúba, o município já teve confirmados 3.113 casos de coronavírus e 56 mortes provocadas pela doença.
Araçuaí
A ocupação de vagas nos hospitais de Araçuaí, com 36,7 mil habitantes, no Vale do Jequitinhonha, ainda está dentro dos níveis aceitáveis. Mas o aumento de casos da COVID-19 na região nos últimos dias gerou a preocupação nas autoridades de saúde locais. “O vírus da COVID-19 está se disseminando cada vez mais rapidamente e ainda há muita resistência ao isolamento social e muitas informações desencontradas que dificultam as ações”, afirma a secretária municipal de Saúde de Araçuaí, Tábata Dornas. “Sabemos que, para parar as altas taxas de casos positivos, é fundamental que as pessoas mantenham o distanciamento social, usem máscaras e higienização constantes. A prevenção está na consciência de cada um”, lembra a secretária.
O Hospital São Vicente de Paulo, o único de Araçuaí, além da sua sede, é referência para o atendimento a seis municípios da região. A instituição, que é filantrópica, dispões de 23 leitos (13 clínicos e 10 de UTI). O hospital atingiu a ocupação de 60% dos leitos de UTI e 40% dos leitos clínicos para pacientes da COVID-19 na sexta-feira. O diretor administrativo do hospital, Geraldo Silva, informou que a instituição enfrenta dificuldades para aquisição de medicamentos necessários para a intubação dos pacientes graves da doença respiratória.
Ele ressaltou que o avanço da pandemia do coronavírus gera preocupação em todas as unidades de saúde. “Estamos diante de um cenário de “guerra”, com um aumento significativo de casos de COVID-19 em todo país, não sendo diferente na nossa região”, assegura.
“Essa situação tem levado muitos hospitais ao colapso devido à falta de insumos, como medicamentos e oxigênio, além da escassez de profissionais qualificados e o esgotamento físico e emocional dos profissionais que estão na linha de frente desde o início da pandemia”, relata Geraldo Silva. Em Araçuaí, até então, foram registrados 750 casos de coronavirus e 16 mortes provocadas pela doença.
Mais vagas e conscientização
Outra cidade de porte médio de Minas Gerais que enfrenta o drama da superlotação hospitalar diante do agravamento da pandemia é Curvelo, com 80 mil habitantes, na Região Central, onde é referência para as internações de moradores de 11 cidades. Desde meados de março, o município tema ocupação máxima de leitos clínicos e de UTI para pacientes de COVID-19. O município conta 60 leitos destinados às pessoas contagiadas pela doença respiratória – 30 clínicos e 30 de terapia intensiva, nos hospitais Santo Antônio e Imaculada Conceição). O secretário de Saúde de Curvelo, Raphael Dumont Schlegel, afirma que, mesmo com o aumento da demanda, a administração tem conseguido atender todos os pacientes que precisam de internação.
Mas ele informa que, com aumento de casos de coronavírus na região, a prefeitura tenta também credenciar mais leitos hospitalares exclusivos para pacientes da doença respiratória junto ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ampliar o atendimento. “Para isso, precisamos buscar também profissionais que serão essenciais para o enfrentamento à COVID-19”.
“A situação é crítica em todo o país e é muito importante destacar que o momento exige o esforço de todos. Somente com o apoio da população conseguiremos superar essa fase. Cada um precisa fazer sua parte e seguir os protocolos de segurança”, observa Raphael Schlegel. Conforme os últimos dados de boletim da Secretaria de Saúde de Curvelo de quinta-feira, o município alcançou 105 pacientes com coronavírus internados – 64 em leitos clínicos e 41 em UTI. Dos 105 internados, 60 são de Curvelo e 45 oriundos de outros municípios da região. Até então, Curvelo soma 3.272 casos da COVID-19. Já foram registradas 182 mortes causadas pelo vírus, dos 98 da própria cidade e 84 de outros municípios da região.
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:
- O que é o pico da pandemia e por que ele deve ser adiado
- Veja onde estão concentrados os casos em BH
-
Coronavírus: o que fazer com roupas, acessórios e sapatos ao voltar para casa
-
Animais de estimação no ambiente doméstico precisam de atenção especial
-
Coronavírus x gripe espanhola em BH: erros (e soluções) são os mesmos de 100 anos atrás