A dependência do Brasil de tecnologia externa para a produção de vacinas contra a COVID-19 deixou evidente um gargalo na inovação científica do país. Embora tenha centros de pesquisas de ponta em universidades e institutos públicos, o país ainda depende de parceria com laboratórios estrangeiros para a produção do insumo farmacêutico ativo (IFA).
Essa deficiência ficou evidente quando houve risco de atraso na produção da CoronaVac, no Instituto Butantan, e da Astazeneca/Oxford pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) devido às dificuldades de importação dos insumos da China e da Índia. No entanto, esse gargalo também é o entrave para a produção de uma vacina com tecnologia totalmente nacional.
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No mesmo dia foi anunciada pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia anunciou a Versanume, desenvolvida pela faculdade de medicina de Ribeirão Preto, da USP, em parceria com a Farmacore e a PDS Biotechnology, dos Estados Unidos.
No entanto, apesar dos anúncios, o Brasil está atrás, no cenário mundial, na produção de vacinas. Isso se deve não à capacitação de nossos cientistas, mas à falta de ofertar a eles infraestrutura. Carecem laboratórios construídos com material e infraestrutura de equipamento específica para essa produção. As estruturas mais avançadas estão no Butantan e a FioCruz BioManguinhos, que ainda precisam de parcerias com laboratórios estrangeiros para produzir a vacina para a COVID-19.
"A UFMG não tem essa estrutura para preparar a formulação com as condições exigidas pela Anvisa para se fazer testes em humanos e nem o pessoal de Ribeirão Preto me parece que a formulação foi feita no exterior", diz a professora Santuza Teixeira, uma das pesquisadoras do CTVacinas.
GARGALO DE LABORATÓRIOS ATRASA PESQUISAS
O gargalo atrasa a pesquisa de vacinas no Brasil, neste momento de luta contra o tempo para derrotar o novo coronavírus. “Fazemos a prova de conceito, mas, na hora de fazer testes clínicos, não temos estrutura preparada para isso”, revela a pesquisadora. Não se trata de uma deficiência da UFMG, mas um problema dos cientistas em todo o Brasil. “Em larga escala temos as fábricas de vacinas. O que está faltando é esse meio do caminho”.
“O gargalo é a produção do lote piloto da vacina, que precisa ser feito em condições que permitam utilizar em seres humanos. Produzimos em condições para fazer ensaios em cobaias. Vamos ter que fazer outra estrutura de laboratório certificado para esse tipo de ensaio”, revela a
professora.
Os estudos para o desenvolvimento de uma vacina com tecnologia nacional tiveram início no CTVacina em março do ano passado, quando foram confirmados os primeiros casos de COVID-19 no estado. Na fase atual, os pesquisadores realizam testes pré-clínicos com macacos e preparam a documentação para enviar a Anvisa para ter início os testes clínicos. Em Minas, há dez pesquisas em andamento nas universidades.
Se a UFMG dispusesse dessa estrutura, os pesquisadores poderiam realizar os testes pré-clinicos nessas condições. “Produzimos esses materiais para fazer os testes pré-clínicos em condições que não são exigidas pela Anvisa. Se a gente tivesse feito esses testes com material produzido em boas práticas de fabricação a gente já poderia submeter para a Anvisa os resultados de testes em animais”, diz.
Os pesquisadores devem enviar os resultados obtidos nos próximos dias, mas poderão ter que refazer nas condições para testes em humanos. "A estrutura para produção de vacina no Brasil ficou, cada vez mais, limitada. Agora as pessoas perceberam que foi deixada de lado essa demanda. Agora está claro que o MCT que a gente precisa ter mais estruturas do tipo Bio Manguinhos, Instituto Butantan”, afirma.
NÃO HÁ DISPUTA ENTRE VACINAS, ALERTA PESQUISADORA
A pesquisadora alerta para evitar o que ela chama de "corrida de obstáculos" em relação à produção de uma vacina com tecnologia nacional. "Cada vacina é feita utilizando uma plataforma diferente, processos diferentes. Elas não são todas iguais. Então, a gente não tem informação sobre o estágio que chegou a vacina de Ribeirão Preto e a vacina do Butantan", afirma.
A pesquisadora diz que o melhor é evitar comparações e a politização dos estudos. "A vacina da UFMG continua no processo dentro do que a gente vinha planejado". Os pesquisadores pretendem encaminhar esse pedido junto à Anvisa o mais rápido possível. "Isso não vai acontecer na semana que vem", completa.
A pesquisadora esclarece que o desenvolvimento da vacina no CTVacinas está andando no tempo possível para manter a segurança e todas as etapas com muito cuidado. "Existe uma questão política por trás. É uma de São Paulo, do Butantan, a outra é de uma universidade federal e a outra de uma universidade estadual. A gente não quer entrar nesta discussão", diz.
A eficácia de cada uma das vacinas nacionais só será conhecida ao fim do ensaio clínico, que é dividido em três fases. "Ainda não temos resultados com os primatas não humanos, que são os macacos que a gente está testando"
Ela esclarece que o mais importante é obter a formulação que vai ser usada nos testes clínicos. "O que está sendo utilizado com os primatas não humanos é uma formulação que ainda não é aprovada para ser utilizada em humano. Estamos em processo porque exige estrutura de laboratório que é muito mais sofisticada que a estrutura que se tem hoje dentro da UFMG.
A reportagem entrou em contato com a Anvisa, Instituto Butantan e FioCruz e aguarda o retorno.
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
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Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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