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Estado de Minas PANDEMIA

'Kit COVID-19' não interfere na letalidade da doença em cidades de Minas

Uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença não reduz mortes; Itajubá, Governador Valadares e Caratinga têm números piores que o resto do estado


30/03/2021 16:43 - atualizado 30/03/2021 18:52

'Kit COVID' não tem eficácia comprovada no tratamento da doença(foto: SESA/DIVULGAÇÃO)
'Kit COVID' não tem eficácia comprovada no tratamento da doença (foto: SESA/DIVULGAÇÃO)

Impulsionadas pelo discurso negacionista do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), prefeituras de Minas Gerais adotaram - oficialmente ou não - o chamado ‘kit COVID-19’, composto por hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, medicamentos sem eficácia comprovada no combate ao coronavírus. Algumas administrações municipais chegaram a associar o uso desses protocolos à melhora nos indicadores epidemiológicos da pandemia. Porém, um levantamento feito pelo EM mostra que não é possível relacionar o suposto ‘tratamento precoce’ a eventuais quedas no número de mortes decorrentes da doença.

A reportagem analisou dados divulgados nesta terça-feira (30) pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Foram levados em consideração dez municípios mineiros cujas administrações municipais se posicionaram favoravelmente ao uso de medicamentos que compõem o ‘kit COVID-19’ em algum momento da pandemia: UberlândiaGovernador ValadaresSão LourençoParacatuItajubáIpatingaCaratingaMontes ClarosJanaúba e Nova Lima.

A letalidade da doença nessas cidades não é necessariamente menor que em outras que não adotaram o protocolo e nem mesmo que a média de Minas Gerais. No estado, 2,15% das pessoas diagnosticadas com o vírus não conseguem se recuperar e morrem. O número, por exemplo, é inferior ao de municípios como Itajubá (4,05%), Governador Valadares (3,51%), Caratinga (2,85) e Uberlândia (2,16%).

Por outro lado, há também cidades cuja letalidade é menor que a média estadual: São Lourenço (1,98%), Ipatinga (1,90%), Paracatu (1,82%), Nova Lima (0,90%), Montes Claros (0,01%) e Janaúba (0,01%). Não existe um padrão. Portanto, é incorreto relacionar o uso do suposto tratamento - comprovadamente ineficaz - com eventuais quedas nos números de mortes.


“Tudo o que a gente queria era que existissem medicações simples, de bom perfil de segurança, com grande tolerabilidade e baixo custo, que funcionassem para proteger, para um tratamento precoce ou para um tratamento em fase grave, que tivessem uma eficácia comprovada e ampla. Infelizmente, nenhuma dessas medicações que as pessoas têm usado - nem ivermectina, nem azitromicina, nem hidroxicloroquina, nem vitamina D, nem nitazoxanida - tem esse perfil”, reforçou a médica infectologista e mestra em saúde pública, Luana Araújo.

A comunidade científica internacional não recomenda o uso dessas medicações e nem reconhece o chamado ‘tratamento precoce’ - disseminado também pelo governador Romeu Zema (Novo) - como eficaz contra o coronavírus. Pelo contrário: algumas drogas que compõem o ‘kit’ podem colocar o paciente em risco ainda maior, em função dos efeitos colaterais.

“Se você usar cloroquina por muito tempo, pode ter problemas cardíacos. Tem gente usando para prevenir COVID-19, o que é um absurdo e uma burrice. Existem casos de cegueira provocados pelo uso crônico. A ivermectina é muito boa para tratar parasitas, o paciente toma uma dose só. A dose que é preconizada para ‘tratar’ - entre aspas, porque não trata - a COVID-19 é um grande número de comprimidos. A possibilidade de efeitos colaterais é muito grande: hepatite medicamentosa, eventualmente levando até à possibilidade de transplante de fígado”, explicou o médico infectologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geraldo Cury.

As explicações para indicadores melhores se referem, em especial, às medidas preventivas no combate à pandemia: isolamento social, higiene das mãos e uso de máscaras. Não há tratamento específico contra a COVID-19. Os medicamentos utilizados em pacientes com o vírus servem para tratar consequências da doença, como trombose ou infecções secundárias, por exemplo.

“Como não temos vacina suficiente porque o Ministério da Saúde não encomendou no ano passado, são necessárias medidas duras (de isolamento social). Essas medidas a que estamos assistindo agora em muitas cidades vêm no sentido de serem a possibilidade de diminuir o número de mortes. Nós estamos falando aqui em UTIs lotadas, em hospitais cheios, em pessoas morrendo, esperando vaga em hospital. É preciso muito cuidado, é preciso usar sempre máscara, evitar sair de casa e seguir as orientações das autoridades sanitárias dos municípios responsáveis”, concluiu Geraldo Cury.


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