Diante do quadro, no que depender das administrações de vários destinos turísticos tradicionais, os dias de recesso serão de atividade religiosa virtual e sem aventuras em rios, lagos, cachoeiras, campings e outras atrações.
Com o estado inteiro sob as restrições da chamada onda roxa, a mais restritiva do plano estadual de controle da atividade econômica, está permitido apenas o funcionamento de serviços essenciais. E até hotéis estão orientados a não receber visitantes, como ocorre em Mariana, na Região Central.
“Somente pessoas que já estavam instaladas nos hotéis permaneceram. Não queremos a circulação de turistas. A orientação é do governo e vamos respeitar”, afirma Cristiano Casimiro, secretário Municipal de Turismo. Pontos turísticos na cidade já foram bloqueados com gradis para impedir o acesso de moradores e vistantes.
O secretário lembra que a cidade não tem leitos de UTI e enfrenta números crescentes da COVID-19. “Estamos fazendo campanha para salvar vidas. Senão teremos muito mais casos e mortes”, alerta.
“A renovação da Páscoa precisa que as pessoas estejam vivas. Não adianta a gente abrir. Uma questão muito séria é manter a cidade a salvo, por isso, estamos pedindo para os turistas não virem”, completa o secretário. Segundo ele, com os atrativos locais fechados, a programação religiosa vai ser transmitida virtualmente.
OURO PRETO
O sistema é parecido com o de Ouro Preto, outra cidade histórica da região que costuma atrair turistas de todo o Brasil para suas igrejas. Por lá, a fiscalização promete ser rígida para quem andar sem máscara: multa de no mínimo R$ 100. As conhecidas ladeiras do município devem ficar vazias no período, também com atrações religiosas virtuais.
“Nas duas entradas da cidade temos as barreiras sanitárias. A princípio, não estamos fazendo ninguém voltar, mas não é um bom momento para vir. Não estamos bloqueando a cidade, não é nada de forma ofensiva. A ação é muito mais com delicadeza, passando informações para as pessoas”, explica o secretário de Turismo, Rodrigo Câmara.
Com bares, restaurantes e outras atrações fechadas, a cidade optou por homenagens silenciosa. “Não tem nada aberto. Quem vier, vai ficar perambulando, e não é momento para isso”, acrescenta o secretário. Na área da saúde, o município recebe pacientes de Mariana, Itabirito e outras cidades vizinhas, o que contribui para a sobrecarga no sistema.
CACHOEIRAS BARRADAS
Feriado com previsão de calor é a combinação perfeita para uma atração refrescante e tradicional em Minas: desbravar cachoeiras. A aventura, no entanto, vai ter que ser adiada. Diante da onda roxa, os sete parques nacionais de Minas estão fechados. O programa Minas Consciente, que estabelece níveis de restrição de acordo com o avanço da COVID-19, foi mudando gradualmente ao tratar do funcionamento dessas áreas.
No ano passado, parques só podiam funcionar na onda verde; depois o estado relaxou a restrição para a onda amarela e, por fim, para a vermelha. Foi com a chegada da fase mais restritiva, em 15 de março, que a proibição se instalou novamente.
O Parque Nacional da Serra do Gandarela, vinculado ao Instituto Chico Mendes (ICMBio), uma das reservas que estão oficialmente fechadas, se estende por oito municípios: Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Ouro Preto, Itabirito, Santa Bárbara, Mariana e Caeté. O desafio é fazer o controle dessas áreas.
“O parque tem no mínimo duzentas entradas possíveis. É inviável que a gente faça o fechamento completo. Por isso, estamos contando com apoio das prefeituras, da Polícia Militar e da Guarda Civil para fazer barreiras sanitárias nos acessos dos municípios e evitar que as pessoas entrem na unidade”, explica Tarcisio Nunes, gestor-chefe do parque.
“Não se trata de um problema ambiental, de as pessoas irem ao parque, mas de elas se aglomerarem nas cachoeiras, principalmente. É um problema de saúde pública”, comenta.
Preocupação que deságua também em Rio Acima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde a restrição é total. “Não estamos divulgando abertura nem recepção do turismo. Tivemos cinco mortes na última semana”, alerta Patrícia Pimenta, secretária Municipal de Turismo.
A prefeitura instalou barreiras sanitárias no intuito de diminuir a circulação de pessoas. “É preciso usar de bom senso. Temos decreto que impede visitação, o parque está fechado, as cachoeiras, fechadas. A gente pede o retorno dos visitantes e graças a Deus as pessoas estão sendo compreensivas. Não é que a gente não quer receber, só não é o momento”, disse.
Em Santana do Riacho, município da Região Central que abriga algumas da mais disputadas cachoeiras da Serra do Cipó, as restrições também estão em vigor. O município já conta com barreira sanitária na entrada que controla o fluxo de pessoas, orienta sobre o uso de máscara e informa sobre o fechamento da cidade.
Preocupação com turistas de SP
Enfrentando recordes de casos de COVID-19, cidades do Sul de Minas também tentam se fechar ao turismo para frear o avanço da doença. Municípios como Campo Belo, São Tomé das Letras e Boa Esperança adotaram barreiras sanitárias para evitar visitantes – principalmente do vizinho estado de São Paulo, que já está em meio a um recesso prolongado de 10 dias, também como medida para controlar a crise de saúde.
A Prefeitura de Campo Belo decidiu adotar medidas mais rígidas contra a COVID-19 durante esse recesso em São Paulo. Carros com placas de outros estados, vans e excursões não podem entrar no município desde a última sexta-feira (26/3), medida que prossegue até 4 de abril. O funcionamento da balsa no lago de Furnas também está suspenso temporariamente.
“Pelo menos 20 carros foram barrados e os ocupantes tiveram que voltar para seus destinos, a maioria com placas de São Paulo. No sábado (27/3), tivemos um contratempo com um carro de São Paulo, em que o motorista quis entrar à força. A PM foi acionada e não permitiu”, afirma Douglas Freire, da assessoria de comunicação da prefeitura local.
“No ano passado, no começo da pandemia, a prefeitura recebeu denúncias de moradores que pegaram parentes de outros estados na rodovia e entraram com essas pessoas na cidade. Este ano, a fiscalização está mais intensa”, completa. A cidade também antecipou feriados, com lei seca, para evitar aglomerações.
Segundo o último boletim municipal, Campo Belo tem 3.233 pessoas infectadas pela COVID-19, com 77 mortes confirmadas pelo novo coronavírus. “As medidas são necessárias, porque nosso hospital, a Santa Casa de Campo Belo, é referencia de atendimento na região, e os leitos estão com ocupação máxima”, afirma o representante da prefeitura.
SÃO TOMÉ DAS LETRAS
Município com fama de místico no Sul de Minas, São Tomé das Letras tem 65 pessoas infectadas pela COVID-19 e nove casos suspeitos, mas é das poucas cidades mineiras sem morte confirmada em decorrência da doença. Para conter o avanço do novo coronavírus, a prefeitura também proíbe a entrada de turistas nos fins de semana e feriados.
O decreto só permite o acesso de moradores, pessoas que estejam trabalhando em serviços essenciais, que estejam em tratamento de saúde ou que precisem seguir para um município vizinho. “O gabinete entende que, neste momento, essa medida se faz necessária para que haja tempo de aliviar o sistema de saúde e, consequentemente, que nenhum dos nossos cidadãos venha a ficar sem atendimento”, explica nota da prefeitura.
No ano passado, São Tomé das Letras chegou a ganhar fama de segura em relação à COVID-19, depois de passar quase oito meses fechada para turistas. A cidade voltou a receber pessoas de outros municípios depois de uma disputa na Justiça: em outubro de 2020, empresários conseguiram liminar determinando a reabertura. A prefeitura recorreu, mas a decisão prevaleceu. O primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus foi confirmado 20 dias depois.
Lei seca contra aglomerações
Adotar lei seca e barrar turistas foi a providência adotada também pela Prefeitura de Boa Esperança para tentar evitar aglomerações. O decreto foi publicado na última quinta-feira (25/3) e tem validade por 10 dias. No domingo, um grupo de motociclistas já foi impedido de entrar na cidade.
“Só será permitida e entrada de pessoas que estejam a trabalho, desde que se tratem de atividades essenciais dispostas na classificação da onda roxa; que estejam relacionados à saúde, como para exames e consultas, com o acompanhamento de um veículo de fiscalização. Após as 20h, não será permitida a entrada de quaisquer veículos, exceto caminhoneiro ou trabalhador que esteja retornando para sua residência”, impõe decreto municipal.
O município soma quase 2 mil casos do novo coronavírus, sendo 47 mortes confirmadas em decorrência da doença. O descumprimento das restrições acarreta em multa de R$ 1.400 e a suspensão do Alvará de Fiscalização e Funcionamento, no caso de pontos comerciais, enquanto perdurar a onda roxa, segundo o decreto.
Poços de Caldas A Prefeitura de Poços de Caldas, também no Sul de Minas, teve prazo de 24 horas para analisar propostas do Ministério Público de Minas Gerais contra a disseminação da COVID-19 e enviar providências ao órgão. O ofício foi elaborado depois de aglomerações e da lotação de leitos de terapia intensiva da cidade.
A administração municipal acatou as recomendações e implantou barreiras sanitárias para impedir a entrada de turistas. Novo decreto também restringiu funcionamento do shopping, galerias e do Mercado Municipal. “Quem vier à cidade a trabalho terá que apresentar documento comprobatório da atividade ou da prestação de serviço a ser exercida”, explica a assessoria de imprensa da prefeitura.
Poços de Caldas tem cerca de 6 mil pessoas infectadas pelo novo coronavírus e 159 mortes em decorrência da doença. “A fiscalização das determinações impostas pela chamada onda roxa continua ocorrendo, com o apoio da Polícia Militar, em todo o município. O descumprimento pode ocasionar a multa e interdição do estabelecimento, além da responsabilização por crime contra a saúde pública”, completa a prefeitura.