Morto neste sábado (3/4) aos 84 anos, vítima da COVID-19, o cantor Agnaldo Timóteo, um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira e com passagem pela política, começou a “criar confusão” no futebol, jogando como lateral esquerdo no campo do Cruzeiro, o Cruzeirinho, time amador de Governador Valadares.
“Ah, era lá que ele criava confusão, sempre”, lembra Francisco de Oliveira e Silva, o Chico Duro, ex-atleta de futebol, conhecido craque da camisa 9 do Esporte Clube Democrata, nos anos 1960, e um dos melhores amigos de Agnaldo Timóteo.
Mesmo diante da morte do cantor, Chico Duro falou sobre seu amigo com alegria. Para ele, a pandemia do novo coronavírus diariamente rende as piores notícias. “Mas essa de hoje foi pesada, uma pancada”, disse, se referindo ao amigo. Preferiu falar de Agnaldo de uma forma descontraída, pois segundo ele, Agnaldo Timóteo, mineiro de Caratinga e valadarense de coração, deve ser lembrado sempre com alegria.
Antes de ser cantor famoso, Agnaldo Timóteo, com 17 anos de idade, trabalhava como torneiro mecânico na HP Motor, uma oficina que existe até hoje no centro de Governador Valadares, porém com outro nome, pertinho da Estação Ferroviária. Foi nessa retífica que Chico Duro conheceu Agnaldo, em 1953.
O trabalho duro durante a semana era compensado com as peladas no campo do Cruzeiro, na Avenida Brasil, lendário espaço do futebol em Governador Valadares. “Agnaldo jogava de lateral esquerdo. Olha, ele até jogava bem, mas era bem melhor na hora de arrumar uma confusão em campo”, lembra Chico Duro, rindo dos bons tempos de boleiro.
Era comum, depois do futebol, Agnaldo ir almoçar na casa de Chico Duro. E como era querido de todos, o almoço saía de graça. “Minha mãe não cobrava nada dele, não”, disse Chico Duro, se referindo a Dona Carmélia, sua mãe, que tinha uma pensão na Rua Belo Horizonte, onde também servia refeições. Todos pagavam. Agnaldo, não. Era de casa.
Aos domingos, o jovem e desconhecido Agnaldo Timóteo cantava em um programa dominical na Rádio Educadora Rio Doce, o “Domingo é dia de folga”, apresentado por João Dornelas, radialista muito conhecido em Governador Valadares por gravar anúncios fúnebres, e divulgá-los pelas ruas, nos alto-falantes instalados em postes e depois em seu fusquinha.
Chico Duro lembra que, anos depois, Agnaldo foi para Belo Horizonte, para trabalhar na mesma profissão, mas sempre cantando onde lhe abrissem espaço. “Ele me levou a Belo Horizonte, foi a primeira vez que fui à capital”, lembra Chico Duro.
Belo Horizonte era pequena demais para Agnaldo. “Um dia ele me disse: Chico, vou embora pro Rio, vou ser cantor”. E foi. E virou sucesso. “Eu fui várias vezes ao Rio, ficava na casa dele. Éramos amigos, sempre fomos os melhores amigos um do outro”, disse Chico Duro, lembrando que a lealdade de Agnaldo Timóteo nessa amizade era marcante, e o amigo famoso sempre esteve presente nos momentos mais importantes de sua família.
Ao longo de sua carreira, jogando como camisa 9 do Democrata, Chico Duro levou muito pancada dos zagueiros adversários, mas essa de hoje, como ele mesmo disse, foi mais pesada. Doeu!