Jornal Estado de Minas

COVID-19

Quilombolas de Pinhões, em Santa Luzia, recebem a primeira dose da vacina

A vacinação de cerca de 2 mil quilombolas de Pinhões, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, começou na manhã desta segunda-feira (5/4). A primeira dose do imunizante contra o novo coronavírus contempla, no primeiro dia, as pessoas acima de 60 anos.



Até sexta-feira (9), todos os moradores maiores de 18 anos, autodeclarados quilombolas, serão vacinados pela equipe montada pela Secretaria Municipal de Saúde de Santa Luzia.

A vacinação ocorre na Escola Estadual Padre João de Santo Antônio, com uma equipe de 20 pessoas que inclui coordenadores, enfermeiros, recepcionistas e estagiários para atendimento à comunidade.

De acordo com a prefeitura local, a vacinação de quilombolas faz parte do Plano Nacional de Imunização, com determinação de grupos prioritários. Em Pinhões, há registro de uma morte pela doença, enquanto Santa Luzia ultrapassa a marca de 200.

Na cidade, já foram vacinadas cerca 14,5 mil pessoas com a primeira dose e 4,3 mil com a segunda.

O prefeito Christiano Xavier acompanhou parte da vacinação e comentou sobre a obrigatoriedade de as pessoas assinarem um termo no qual se declaram quilombolas: "É para nos resguardamos quanto à identidade das pessoas, assegurando o direito aos quilombolas. Estamos dando um passo importante, com a vacinação de jovens de 18 anos".





Felicidade em doses 


Satisfeita da vida, a dona de casa Maria Beatriz dos Santos, de 68 anos, nascida e criada em Pinhões, contou que nem estava dormindo direito nos últimos dias na expectativa de receber a primeira dose.

"Meu marido, Odilson Pereira dos Santos, de 66, acordou bem cedo e veio. Eu estava lavando e roupa não pude vir", disse a bem-humorada Maria Beatriz, que chegou à escola às 11h, com a máscara na qual está escrita a palavra fé.

Para ela, é muito importante a vacinação – e o "depois" mais ainda. "Mesmo recebendo a primeira dose, não podemos descuidar. Nada de sair de casa, ficar sem máscara ou deixar de higienizar as mãos", destacou. 



Quem também está muito satisfeita é Maria Geralda Gonzaga Carvalho, de 67, presidente emérita da Associação dos Quilombolas de Pinhões.

Ela considera a primeira dose da vacina "uma graça de Deus" e diz que se trata de uma preocupação a menos.

"Minha nora teve COVID, minha sobrinha também. Houve uma morte aqui, temos um jovem internado, então é preciso se proteger", explicou Maria Geralda, com uma camisa na qual se lia um verso da canção composta por Dona Ivone Lara (1922-2018): Um abraço negro, um sorriso negro...





Já o sorridente José Marcos Gonçalves, de 68, conta que "não é de hoje" que esperava pela primeira dose. "Ficava vendo, na televisão, que em outras partes do mundo as pessoas estavam sendo vacinadas. E pensava assim: quando vai ser aqui? Pois agora chegou".

José Marcos  deu outro sorriso ao receber a picadinha no braço. "Não doeu", garantiu.

Produtor rural que entrega legumes e hortaliças no Mercado Central em BH, Roberto Apolinário, de 61, revelou que tudo segue na vontade do Criador: "Onde Deus passa, nada embaraça".

Por isso mesmo, confiante, perguntou sobre a próxima dose (AstraZeneca/Fiocruz), que terá o reforço (segunda dose) em 90 dias, conforme informou o coordenador de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde, Hilton Rodrigues, ao lado da coordenadora de Atenção Primária, Thaís Bittar.



O enfermeiro e coordenador ressaltou que as vacinas são enviadas pelo governo federal e repassadas pela Secretaria de Estado da Saúde com essa finalidade específica.

Maria Beatriz dos Santos, de 68 anos, disse que não vai se descuidar da máscara e do distanciamento enquanto não vier a segunda dose (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Testemunhas


Nascida e criada em Pinhões, Raquel Abdon Alves, de 64, se mostrou tranquila e assegurou que não estava nem um pouco ansiosa. "E ainda tenho prefeito como testemunha da minha primeira dose", brincou ao lado de Christiano Xavier.


Acompanhando a vacinação, a pesquisadora e doutora em educação e inclusão social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Débora Rodrigues, explicou que Pinhões (distante 10 quilômetros do Centro de Santa Luzia), surgiu em 1708 com os escravizados que foram trabalhar na construção do Mosteiro de Macaúbas, que fica a 5 quilômetros.

Depois, ficaram morando no local entre as antigas sesmarias de Macaúbas e Bicas. 

Em março de 2017, a comunidade foi reconhecida como quilombo pela Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cidadania.

Cronograma

  • Segunda-feira (5/4) – Acima de 60 anos
  • Terça-feira (6) – De 50 a 59 anos 
  • Quarta-feira (7) – De 40 a 49 anos 
  • Quinta-feira (8) – De 30 a 39 anos
  • Sexta-feira (9) – De 18 a 29 anos 

Importante: Todos deverão comparecer ao local de vacinação portando documento de identidade, CPF e comprovante de endereço (originais e cópias). 






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