Dos 29 grupos considerados prioritários pelo Ministério da Saúde, o dos povos indígenas vivendo em aldeias foi o segmento que recebeu maior cobertura vacinal contra a COVID-19 em Minas. Foram aplicadas a primeira dose em 7.065 e a segunda dose em 6.029, ou seja 94,55% da primeira dose e 80,69% da segunda. A população indígena aldeada no estado é de 7.472 pessoas.
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Ailton destaca que a Organização Mundial da Saúde (OMS) esclarece para afirmar que a importância de vacinar populações de povos originários em todos os países, por se tratar de parcela que tem mais vulnerabilidade por razões biológicas, genéticas e históricas.
"Os tempos de contágio com outras epidemias que já aconteceram são diferentes dos povos originários em relação aos brancos. Ficam mais vulneráveis, é como um idoso pegar a COVID-19, sem proteção, pode morrer", diz Aílton.
"Os tempos de contágio com outras epidemias que já aconteceram são diferentes dos povos originários em relação aos brancos. Ficam mais vulneráveis, é como um idoso pegar a COVID-19, sem proteção, pode morrer", diz Aílton.
As 130 pessoas da aldeia indígena Krenak, em Resplendor, foram vacinadas. A primeira dose foi aplicada em fevereiro e a segunda dose em março. “As equipes que vieram vacinar na aldeia eram preparadas e fizeram com respeito à diferença cultural”, afirma o líder indígena.
Aílton Krenak, no entanto, ressalta que há centenas de indígenas não aldeados, vivendo nas cidades. "Em BH, temos centenas, chegando na casa dos milhares", afirma. Foram realizados protestos na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de Belo Horizonte para inclusão dos indígenas não aldeados na vacinação.
Na avaliação de Ailton, o critério de vacinar apensas os aldeados é excludente. Ação da Associação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib), Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronunciaram em favor da inclusão
"Não podemos discriminar indígenas na aldeia e indígenas fora da aldeia. Todos devem ter a prioridade da vacina. Como você vai obrigar os governos estaduais a cumprir isso, se o governo federal está sabotando e não manda as vacinas", diz.
"Não podemos discriminar indígenas na aldeia e indígenas fora da aldeia. Todos devem ter a prioridade da vacina. Como você vai obrigar os governos estaduais a cumprir isso, se o governo federal está sabotando e não manda as vacinas", diz.
Em dezembro, a aldeia perdeu duas mulheres que se contaminaram pela COVID-19. "O diagnóstico saiu depois do óbito. Elas foram levadas para o hospital, descobriram que estavam com COVID-19 e morreram lá", lamenta Aílton Krenak.
Como na aldeia as pessoas estão muito mais próximas até pela organização do espaço, que é coletivo, Ailton destaca que se alguém se contaminar na aldeia vai morrer. "Aqui em volta não tem como socorrer com respirador e até levar para Governador Valadares, ficar na fila esperando vaga, ele morre. Os nossos vizinhos não-indígenas estão morrendo igual abelha"
Os Krenak estão em isolamento social desde o início da pandemia em março do ano passado. "Estamos seguindo medidas rígidas e deveria ser mais ainda. Deveríamos usar máscaras até no convívio familiar. Uma pessoa pode ir lá fora e pode voltar trazendo o vírus aqui para dentro", diz.
FALTA DE VONTADE POLÍTICA
Ailton lamenta a situação atual do Brasil, que, dia após dia, registra recordes no número de mortos. Ele teme que o país chegue a marca de 5 mil mortes pela COVID-19 em um dia.
Em sua avaliação, o país chegou nesses números muito em decorrência da negligência do governo federal na gestão de enfrentamento à pandemia. "O Presidente da República declara que não acredita em vacinação. Autoridade que nomeia o ministro da saúde, autoridade que libera as dotações orçamentárias. Não tem outra pessoa para decidir".
Ele afirma que falta também disposição política. "Se estivéssemos entupidos de vacina no Brasil, ainda teríamos gente morrendo sem vacina", conclui.