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Estado de Minas PANDEMIA

COVID-19: colapso chega aos cemitérios e funerárias de Governador Valadares

Em quatro dias, Valadares registrou 61 mortes confirmadas por COVID-19, alterando a rotina dos sepultamentos e aumentando o drama das famílias enlutadas


14/04/2021 19:11 - atualizado 14/04/2021 21:24

Em meio ao cenário de caos por causa do elevado numero de mortes em Governador Valadares, homem dorme em cima de um túmulo no Cemitério da Paz, em Governador Valadares. Flagrante é do fotógrafo Juninho Nogueira, que está documentando a pandemia na cidade(foto: Juninho Nogueira/Divulgação)
Em meio ao cenário de caos por causa do elevado numero de mortes em Governador Valadares, homem dorme em cima de um túmulo no Cemitério da Paz, em Governador Valadares. Flagrante é do fotógrafo Juninho Nogueira, que está documentando a pandemia na cidade (foto: Juninho Nogueira/Divulgação)
Governador Valadares registrou, entre domingo (11/4) e quarta-feira (14/4), 61 mortes confirmadas pela COVID-19, um número incomum na história da cidade e que impõe uma rotina atribulada às funerárias e ao serviço funerário do município.

Soma-se a essa rotina mais um componente: o sofrimento de quem perdeu um membro da família e que sente não apenas a dor da perda, mas também a de não poder velar o seu familiar.
Essa rotina triste é parte do trabalho de Fernanda Rodrigues, psicóloga e proprietária da Funerária Gonzaga, a única da cidade autorizada a fazer a somatoconservação, ou tanatopraxia, que é a profilaxia do corpo e estabilização temporária de cadáveres humanos.
 
O domingo (11/4) foi um dia atípico nos cemitérios da cidade, com 26 sepultamentos. No Memorial Park, foram feitos 14. No Cemitério Santa Rita, seis covas foram abertas e no Cemitério Santo Antônio, seis túmulos foram preparados para receber os corpos de vítimas da COVID-19.
 
Em um domingo qualquer, anterior aos tempos duros da pandemia do novo coronavírus, Fernanda Rodrigues diz que poderia haver um ou dois sepultamentos. Ou nenhum. Essa distorção nos números mostra como Governador Valadares está mergulhada em um momento trágico e sem precedentes.
 
Mesmo estando adaptada a essa rotina nos últimos dias, o grande número de sepultamentos do domingo deixou Fernanda estarrecida com a situação causada pelo avanço da COVID-19 na cidade, e que é ignorada por muitos. Para ela, as pessoas tinham de saber, de alguma forma, que o momento é gravíssimo, e procurar se proteger.
 
Para alertar a população, ela sugere uma comunicação de impacto. “Uma das técnicas que poderia ser adotada para isso seria semelhante a que a prefeitura usa nos tempos de enchentes, com carros de som circulando nos bairros onde o índice de contaminados pelo novo coronavírus e o número de óbitos esteja elevado. E falar claramente sobre o momento”, disse.

Fernanda Rodrigues, da Funerária Gonzaga, durante sepultamento de mais uma vítima da COVID-19(foto: Arquivo Pessoal)
Fernanda Rodrigues, da Funerária Gonzaga, durante sepultamento de mais uma vítima da COVID-19 (foto: Arquivo Pessoal)
 

Sofrimento aumenta na despedida

O sofrimento de quem tem algum parente em uma UTI COVID-19 é diário. Quando a morte chega para dar fim à esperança de recuperação, começam outras etapas de sofrimento das famílias: preparar a documentação para sepultamento, não poder velar o ente querido e limitar a despedida a um breve momento, completamente atípico.
 
“A sensação de desconforto é enorme, surreal”, diz Regina Miranda, que teve de sepultar uma tia e uma prima, que morreram em um intervalo de 24 horas, há três semanas. A tia morreu no Hospital Municipal de Governador Valadares, na fila de espera por um leito de UTI para COVID-19. A prima morreu de infarto, agoniada com a condição de sua mãe na fila de espera.
 
“Foi difícil ver o carro da funerária chegando com dois caixões fechados e identificados com os nomes da minha tia e da minha prima. Não pudemos nos despedir da maneira que gostaríamos”, disse Regina, lembrando que faz parte da cultura de muitas famílias velar os mortos, fazer em celebração, reunir em oração.
 
Um drama parecido envolveu a família de Valéria Alves, que sepultou suas duas sobrinhas, as irmãs Danubia Pereira Venâncio, de 36, e Vanessa Pereira Venâncio, de 40, que morreram vítimas da COVID-19, na primeira semana de dezembro de 2020, bem antes do período dramático de mortes de março e abril de 2021.
 
“A gente passou quase um dia preparando a documentação no hospital, no cartório, na funerária. Não tivemos dificuldades no momento de sepultar os corpos porque em dezembro não havia esse grande número de mortos, mas enfrentamos uma dor muito forte”, disse.
 

Problemas nos sepultamentos

Durante o sepultamento, todos sofrem, familiares da vítima da COVID-19 e o pessoal dos cemitérios e das funerárias. “As equipes de motoristas do departamento funerário, os coveiros, agentes funerários estão sobrecarregados. O serviço de sepultamento requer esforço físico. Coveiros pegam peso não somente da urna fúnebre, mas gastam energia cavando as covas”, explica Fernanda.
 
Outro problema é a falta de urnas funerárias. As fábricas estão pedindo até 90 dias para entregar. Fernanda explica que os fornecedores não estão dando conta de produzir caixões por causa do grande número de mortes. Outra alegação das fábricas de urnas é que também são obrigadas a afastar funcionários que foram acometidos pela COVID-19.

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