O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) liberou macacos testados com a candidata à vacina contra a COVID-19 da UFMG, em desenvolvimento pelos cientistas do Centro de Tecnologia em Vacinas (CTVacinas) da universidade. Nesta semana, os cientistas anunciaram o início dos testes em 10 macacos.
O professor do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas, Flávio Fonseca, um dos pequisadores que lideram a pesquisa, explica que os testes em primatas não humanos é uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que os cientistas possam passar para os ensaios clínicos em humanos. A vacina de quimera protéica é um dos três estudos mais avançados registrados na agência reguladora para o desenvolvimento de uma vacina com tecnologia 100% brasileira.
A realização de testes em macacos tem sido criticada por uma parcela pequena de pessoas nas redes sociais. No entanto, os pesquisadores seguem protocolos rígidos para garantir a segurança dos macacos. Os animais também não são infectados com a doença. Eles recebem a substância que tem o objetivo de gerar anticorpos e células de defesa. Ao final dos testes, os animais voltam para a natureza sem qualquer dano à saúde deles.
"Sabíamos que enfrentaríamos essa crítica de pessoas que são contra experimentos com animais. No entanto, no mundo inteiro, esses experimentos são realizados para que a gente tenha condições mínimas para gerar esse tipo de insumo. Não dá para elaborar um produto como esse, testar diretamente em ser humano, sem ter o teste em animais antes", afirma Flávio.
O cientista explica que os testes em animais são necessários para a criação de vacinas e que a ciência ainda não encontrou alternativa ao procedimento. "Não há alternativas. Infelizmente não existe alternativa artificial que a gente desenvolva esse tipo de produto sem que tenha alternativa de testes em animais, antes de chegar ao teste de seres humanos", reforça.
Os pesquisadores, que atuam em centros de refêrência como a UFMG, pontuam a preocupação ética de cuidar da saúde dos animais e, por isso, realizam o mínimo de intervenção possível.
Eles aplicam a vacina e fazem duas retiradas de sangue para avaliar se os animais geraram anticorpos e células de defesa. Ao longo de todo o processo, acompanham o estado clínico do animal para ver se ele desenvolverá algum efeito colateral. "Ao final desses testes, os animais serão retornados para a natureza, soltos", diz.
Mas o acompanhamento não para por aí. Os animais são biochipados para que os pesquisadores posam seguir acompanhando para ver se está tudo bem quando eles estão soltos.
Como são realizados os testes
Os testes são realizados na espécie Callithrix, os chamados micos-estrela. Os cientistas fizeram cálculo estatístico, um cálculo amostral, para selecionar para os testes o menor número possível de animais, mas um número que permita gerar dados confiáveis.
Os 10 animais foram divididos em três grupos: um grupo com quatro animais testa a vacina com adjuvante; outro grupo com o mesmo número testa com um segundo adjuvante e um grupo com dois animais não é vacinado e integra o grupo controle. "Não vai haver infecção com SarsCov-2. A gente não vai desafiar os animais com o vírus", explica Flávio.
O objetivo desse teste é avaliar se a vacina gera anticorpos e células de defesa e se é segura para ser aplicada em animais e, consequentemente, em seres humanos.
O adjuvante é um componente comum de muitas vacinas. A maior parte das vacinas do Programa Nacional de Imunizações, principalmente vacinas que não são vivas (hepatite B, poliomielite, HPV) e muitas outras, usa esse componente. Adjuvante é uma substância adicionada à formulação da vacina para intensificar a resposta imune e fazer com que a vacina fique mais imunogênica, ou seja capaz de gerar mais anticorpos e células de defesa.
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