Abrir brechas na campanha de imunização contra a COVID-19 se transformou numa guerra para categorias profissionais que tentam ser contempladas como prioridade. Trabalhadores no transporte rodoviário, na educação, supermercados e em outros setores considerados essenciais se mobilizam, à medida que novos lotes de imunizantes são distribuídos. As duas primeiras categorias foram incluídas na definição de grupos prioritários para vacinação pelo Ministério da Saúde, mas as prefeituras municipais têm autonomia para determinar a ordem em que as pessoas serão vacinadas. Minas Gerais recebeu mais de 1 milhão de doses na semana passada que serão usados para vacinação de idosos acima de 65 anos e forças de segurança e salvamento.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Belo Horizonte e Região (STTRBH), Paulo César da Silva, destaca que os equipamentos de proteção da categoria se resumem apenas a máscara e álcool em gel, enquanto os profissionais têm contato constante com dinheiro no momento de cobrar a passagem. “Nosso risco é iminente”, afirma.
Para o sindicalista, a grande preocupação está na proximidade com o público. “Não desmerecendo as forças de segurança e o pessoal da administração da saúde, eu creio que corremos mais riscos do que eles”, diz. De acordo com o STTRBH, a categoria tem 9 mil trabalhadores no sistema de transporte urbano de BH, e o nível de contaminação alcança quase 10% do total. “Aproximadamente 800 trabalhadores foram contaminados. Alguns se recuperaram e outros estão em recuperação e infelizmente tivemos alguns óbitos".
Na área da educação, atua em Minas cerca de 400 mil profissionais, entre professores, pedagogos e diretores de escolas, que também querem ser vacinados o quanto antes. “É importante a vacinação dos trabalhadores, mas é importante também a vacinação da população que está no entorno da escola, da comunidade escolar como um todo”, diz a coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE), Denise Romano.
O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel) cobra a vacinação de aproximadamente 3 mil servidores que considera estarem mais expostos ao coronavírus: 200 agentes de fiscalização, 2 mil guardas civis, mil garis e profissionais da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e 40 assistentes sociais e agentes de combate à leishmaniose. “Além dos trabalhadores de saúde, tivemos o trabalho essencial da fiscalização de controle urbanístico e ambiental; o trabalho dos garis, da guarda municipal, dos assistentes sociais. O trabalho foi fundamental para manter a cidade e manter o atendimento principalmente à população mais carente”, diz o presidente da entidade, Israel Arimar de Moura.
A prefeitura já anunciou a inclusão desses trabalhadores no plano de vacinação, mas não previu datas. “O sindicato vem cobrando a vacinação de alguns setores no plano municipal, o que foi feito. Agora, a nossa expectativa é de que a vacinação possa se dar com mais agilidade para que a gente tenha mais segurança no dia a dia, na garantia da vida desses trabalhadores”, observa Israel Moura.”
Um gari que preferiu não se identificar fez desabafo à reportagem do Estado de Minas. Ele reclama da lentidão da campanha de vacinação, ressalvando que além da estarem expostos aos riscos de contaminação os trabalhadores na atividade são vítimas de preconceito por lidarem com o lixo. “A gente cata muita máscara, lida com resíduos de risco. Acho que podiam olhar com mais atenção pra gente porque o pessoal já tem um pouco de preconceito. Sem tomarmos a vacina tem mais preconceito ainda. Tem que agilizar essa vacina”.
Prevenção
No setor privado, os donos de supermercados, setor considerado essencial e que mantém lojas abertas desde o início da pandemia, pedem a imunização de seus empregados. No último dia 25, o governador Romeu Zema (Novo) recebeu o presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Alexandre Poni, fez apelo para a inclusão dos empregados no setor entre os grupos prioritários de vacinação, independentemente das medidas de prevenção já tomadas para evitar a disseminação do coronavírus.
“Entendemos a necessidade de outros profissionais, mas nós precisamos da vacina também. Os nossos funcionários estão no front”, justifica Alexandre Poni. Ele manifestou preocupação também com a proteção dos trabalhadores em relação ao deslocamento no transporte público. “A redução na oferta de ônibus em certos horários provoca aglomeração de passageiros e expõe os profissionais a risco maior.”