A partir de segunda-feira (26/4), crianças de até 5 anos e 8 meses de idade poderão retornar às escolas por determinação da Prefeitura de Belo Horizonte. Porém, ao contrário do esperado, a medida não alegrou parte dos pais e mães neste momento. A falta de garantias de que o ambiente escolar será seguro contra a transmissão da COVID-19 e com o alto número de casos na capital mineira contribuem para que algumas famílias belo-horizontinas ainda prefiram deixar os pequenos em casa a arriscar uma possível contaminação.
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Logo depois do começo da pandemia, Sofia Carbonara preferiu retirar sua filha Olívia, de 3 anos, da creche onde estudava por medo do vírus. Após trocar o trabalho como manicure, para criar sua própria loja de doces e conseguir cuidar da filha dentro de casa, ela teve que se reinventar para conseguir conciliar a vida profissional com os compromissos como mãe.
Seu maior desafio é compartilhado por diversos pais de crianças mais novas durante tempos de isolamento social: adaptar a rotina de trabalho e responsabilidades domésticas com a atenção quase integral aos pequenos.
“A gente teve que organizar tudo de novo para conseguir fazer nossas coisas, além de que é um cansaço físico e psicológico. Nós temos que entreter a criança o dia inteiro. Para ela também não foi nada fácil. Até hoje ela pergunta sobre a escolinha e que está com saudades dos colegas e da professora”, disse Sofia.
Mesmo com todas as dificuldades para gerenciar os deveres de sua rotina com a supervisão da filha, a microempreendedora disse que não vai deixar que Olívia volte para a creche neste mês. Para ela, a reabertura das escolas neste momento é definida com uma palavra: precipitada.
“Eu entendo que muitas mães e pais estão com dificuldades e precisam trabalhar, mas acaba que isso coloca a vida da criança e das pessoas que moram em casa em risco. A criança não vai saber respeitar o distanciamento e máscaras. Somente quando eu tiver a segurança de que as coisas estarão mais controladas, deixarei minha filha voltar para a creche. Quando um maior número de pessoas tiver se vacinado, inclusive os professores e funcionários da escola”, disse Sofia.
'Carga pesada'
Ana Paula Amaral é confeiteira e mãe de dois filhos. Um tem apenas 2 anos, e o outro mais velho, completou 17 anos este ano. Após o agravamento de casos em Belo Horizonte, Murilo, o mais novo da família, passou a ter aulas on-line.
A confeiteira teve uma experiência bem similar à enfrentada por Sofia. Em conversa com o Estado de Minas, ela desabafa sobre como a carga pesada que os cuidados com seu filho afetou seu dia a dia.
Lidar com todas as responsabilidades das encomendas de sua clientela e demais obrigações do seu trabalho tornou-se a sua segunda prioridade. Com o marido trabalhando fora e sem poder contar com a ajuda de outras pessoas, precisa estar 24 horas por dia em alerta pela segurança e encargo de Murilo.
“É difícil. A criança nessa idade não entende que às vezes estamos ocupadas. Tive que diminuir minha carga de trabalho, é quando pode. Para nós, estamos acostumados a trabalhar fora, é muito estressante, é uma situação que está sendo muito difícil”, disse a confeiteira.
Logo após o anúncio da volta às aulas para crianças dessa faixa etária, Ana Paula disse que pais de colegas que estudam com seu filho cobraram da escola um posicionamento sobre a retomada do ensino presencial a partir de 26 de abril. O centro estudantil sinalizou a possibilidade, mas ainda não tem uma data definida.
Na contramão dos demais, e com a lentidão da vacinação em todo o país, a confeiteira compartilha o sentimento de apreensão de mães que estão receosas que o filho contraia o vírus dentro do ambiente escolar e o leve para casa. O medo, neste momento, se sobressai sob a vontade que seu filho volte ao ambiente escolar.
“No começo da pandemia, ficamos muito revoltados com o fechamento porque tinha que trabalhar com menino dentro de casa. Mas, hoje, que vemos a situação de piora do vírus, dá medo. Eu prefiro que, se for voltar que seja intercalado, não precisa da criança ir à escola todos os dias. Por exemplo, dividir as crianças por um grupo de três por dia dentro da sala, algo que possa dar um alívio para as mães que precisam trabalhar. Mas, mesmo com isso, pode ser que com eles o grau de sintomas seja mais leves e contamine outras pessoas dentro de casa com maiores riscos. Isso é muito sério”, disse Ana Paula.
Desafio em dobro
Além de mãe de primeira viagem, Julie Sant’Anna trabalha há três anos como secretária em uma creche sem fins lucrativos. Antes do decreto que autoriza a volta das aulas, ia para o trabalho durante a pandemia somente alguns dias da semana. A previsão é que o trabalho presencial seja retomado normalmente, durante todos os dias úteis.
Ela vive um embate com a liberação das escolas. Seu filho, Raniel, tem apenas 1 ano e dois meses, chegou a se matricular no local onde trabalha, mas, por causa do atual cenário pandêmico, não chegou a frequentar a creche até este momento. Agora que a carga do ofício voltará a ser maior, e, sem ter com quem deixar a criança, declara estar sem opção a não ser deixá-lo aos cuidados da escola infantil.
“Como funcionária e mãe me sinto bastante preocupada. Nós vamos retornar sem as vacinas, e novamente ter contato com outras pessoas e crianças, isso é muito perigoso. Por mais que precisemos trabalhar, temos que ter um certo cuidado com as crianças. E ainda tem o medo de pegar o vírus e levar para nossa família. É bem dificil”, disse Julie.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.
Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil
- Oxford/Astrazeneca
Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
- CoronaVac/Butantan
Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.
- Janssen
A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.
- Pfizer
A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.
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Como funciona o 'passaporte de vacinação'?
Os chamados passaportes de vacinação contra COVID-19 já estão em funcionamento em algumas regiões do mundo e em estudo em vários países. Sistema de controel tem como objetivo garantir trânsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacinação impõem desafios éticos e científicos.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.
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